Ele era fã incondicional de Jazz, Blues e MPB, a qual chamava de música e poesia do Brasil. Ela detestava os gêneros instrumentais e tinha pavor das composições do Chico Buarque. Gostava mesmo era de axé music, forró pé-de-serra e dos hits do momento.
Ele tinha uns ares de poeta, gostava de rosa vermelha e conhaque de alcatrão. Ela não tinha muito contato com poesia, preferia os lírios às rosas e boa freqüentadora de academias, só tomava Coca-Light, para não perder a forma. Ele fumava dois maços de Holywood diariamente. Ela tinha alergia e não podia com fumaça. Ela sonhava em passar férias em Paris. Ele não se importava com grandes viagens, preferia botecar com os amigos. Ela lia Marie Claire e Caras, ele, Garcia Marquez e Carlos Drummond.
Numa manhã de sábado enquanto passeava pelo centro da cidade, ele a viu caminhando na direção contrária e ela também o notou. Trocaram olhares e nas manhãs de sábado seguintes ele a esperou no mesmo local, perto de uma agência bancária. Ele sabia que jamais poderia voltar, mas nunca perdeu as esperanças, até que ela passou outra vez, depois de nove sábados de espera. Ela não entendeu quando ele disse que estava ali esperando por ela. Depois de alguma conversa, acabaram sentando-se num bar. Ele tomou uma cerveja, ela um suco de laranja com Zero-Cal.
Foi então que se descobriram: côncavo e convexo, tampa e vasilha, rolha e garrafa, que apesar de diferentes, não existiam um sem o outro. Ele se viu apaixonado por aquela moça que tinha passo de bailarina e na boca um sorriso de sol, que o fazia sentir vontade de acabar com as guerras do mundo só por causa dela. Ela, como nunca havia acontecido, se encantou com aquele que lhe fazia versos e atirava nas noites de serenata, lírios em sua janela...
(*) A imagem acima mostra o encaixe perfeito de 2 corpos em “Côncavo e Convexo”, de Mª Guedes (foto: Divulgação - conteúdo da Internet)