João Monlevade, a minha cidade, a nossa cidade precisa reconhecer suas tradições. Ou melhor, precisa validá-las. O pensador Eric Hobsbawm (1991) afirma que quando não há valorização do que é tradicional, inevitavelmente, ocorre a invenção de outras tradições. Ele assegura que os costumes, quando não usados, acabam substituídos por outros, que muitas vezes nem se parecem com a realidade local: são inventados, para substituir os legítimos que estão adormecidos.
Uma cidade que não tem tradições é tristemente desnivelada. É vista por baixo. É pobre. Nossa cidade é carente de tradições culturais que possam elevar-lhe o nome junto às demais. O que caracteriza o município? Catas Altas faz vinho, Ouro Preto tem o Barroco, Alvinópolis tem a chita e nós? Bem, fazemos aço, é verdade. E o fazemos, em maior escala, desde 1827, quando chegaram os equipamentos ingleses que turbinaram a fábrica modesta de Jean Antoine Félix Dissandes de Monlevade.
Mas o aço que produzimos ocupa (e muito bem) o segmento econômico. É interessante pensar que o mundo conhece o fio máquina fabricado aqui por trabalhadores, que são nossos pais, parentes e irmãos. Mas nós, monlevadenses, desconhecemos a força cultural desse material.
Uma cidade sem tradição vira as costas para o progresso. Seria esse o motivo de nossa estagnação cultural? Por que não abraçamos os aços longos da Usina e o transformamos em nossa bandeira? Por que não há uma discussão sobre a produção, um seminário nacional de siderurgia realizado no município? Por que não há um festival cultural do aço? Por que não há oficinas diversas sobre o assunto? A população sabe como é feito o aço desta terra e que ganhou o mundo?
Mas lembrando de Hobsbawm (1991), o que chamamos de tradição, aqui, sinceramente, não é nosso de fato. Não faz parte e nem corresponde às nossas raízes. Pense bem: Nosso maior evento cultural é uma cavalgada... isso, numa cidade que tem área mínima de zona rural. Por que gostamos tanto de encontro de motociclistas e desconhecemos nossos artistas plásticos?
Precisamos construir nossas tradições. Entender de onde surgiram nossas raízes para fazer disso a bandeira de nossa cidade. Enquanto desconhecermos essa identidade, essa memória cultural, continuaremos aplaudindo as invenções que se tornaram tradições em Monlevade.
* Hobsbawm, Eric. A invenção das tradições (1991).
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
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