segunda-feira, 22 de março de 2010

Continho


Um escritor que morava sozinho na cobertura de um flat, pensou, seriamente, o que aconteceria se ele se atirasse lá do alto e caísse no meio da avenida. Em princípio, achou que seria doloroso. Depois, passou a imaginar que, na verdade, não iria doer nada.

Em que pensaria quando estivesse na queda? Daria para dançar um balé aéreo, antes de se diminuir no solo, achatando-se como massa de pastel na parede? Será que alguém teria dó dele? Ficou assim, por cinco segundos, sentindo a vertigem típica dos que têm medo de altura, mas que têm vontade de chegar da sacada de janelas para ver os carros passando lá em baixo.

Teve a certeza de que iria cair, quando decidiu pisar o ar e sentir a maciez do espaço vazio. Escorregou e ficou com metade do corpo pendurado e a outra, para dentro da sala carpetada do flat. O coração à boca batia forte e as mãos que tentavam segurar a beirada da janela amiga começaram a suar. A tontura aumentou. “Meu Deus, não quero morrer assim”, foi o que pensou naquele momento. Então, com um impulso sobre humano, caiu na sala feito um peixe que vai do aquário ao tapete. Levantou, arrumou o cabelo. Ainda trêmulo, pegou uma dose de uísque.
Bebeu depressa, respirou e decidiu ir escrever uma crônica.

Eu quero é botar meu bloco na rua

Texto publicado na Revista A Chance, dos amigos Matheus e Afonso!

Todos os anos, na época do carnaval, em Monlevade, é a mesma coisa. Muita gente viaja, outras pessoas seguem para as cidades vizinhas, uma parcela fica aqui mesmo, por conta do à toa... E fica no ar uma pergunta que nunca é calada: Por que não há carnaval na terra do francês?
Não sou eu quem vai tentar resolver essa questão. Mas vou dar alguns pitacos. Afinal, acredito que todos podem ganhar com a festa mais popular do Brasil. Inclusive Monlevade. Por que não? Além disso, penso que uma das formas mais interessantes, divertidas e funcionais para fomentar o carnaval é a criação de blocos.

O formato é simples e envolve a participação popular. Cada bairro poderia montar o seu e organizar um ponto de encontro onde o bloco pudesse se concentrar antes do desfile, que poderia ser até um outro ponto estratégico do bairro. Tudo, claro, com a maior segurança, seguindo o lema da diversão sempre responsável.

Em algumas cidades, como São João Del Rei, por exemplo, o carnaval é assim há mais de trinta anos e funciona muito bem. Um dos grupos mais conhecidos no carnaval de Minas, a Batucada, de Diamantina, também é uma variação de um bloco carnavalesco.

Os blocos fazem barulho, animam e garantem a folia. Não há bandas tocando em palcos, não há também tumulto. Cada dia, um ou mais bairros apresentam o seu bloco, cada qual com a sua bateria, suas fantasias e sua animação. Desta forma, todos participam da festa: turistas vindos de longe, moradores, visitantes de cidades vizinhas. Cada bloco tem o seu enredo e a bateria comanda a diversão tocando sambas, marchinhas e sucessos radiofônicos. Não tem erro: é sempre um sucesso.

Esse modelo de festa popular funciona por vários motivos. Vou citar alguns: A prefeitura dá o suporte de infra-estrutura, como decoração, disponibilização de banheiros químicos e o controle do trânsito. Assim, os gastos com o Carnaval são mínimos. Outro ponto positivo, é que ninguém quer ver lixo na porta de sua casa ou briga. Por isso, a festa seria limpa e sem tumultos, já que os blocos iriam sair dos bairros. Ainda um terceiro fator, seria a participação dos donos de bares e restaurantes que poderiam fomentar os blocos, participando da concentração e ajudando na organização.

Fico imaginando um bloco do bairro Republica, concentrando num sábado de carnaval, a partir das 14h, em frente ao Boti Peixadas, por exemplo. Às 18, o bloco desceria a avenida Castelo Branco, com toda a sua animação. Os moradores chegariam às sacadas, brincando com serpentina e confetes. Uma bateria daria o ritmo, até a dispersão, na Praça Onofre Ambrósio.
Depois, cada qual seguiria para suas casas. Outros bairros fariam o mesmo, em outros dias de festa, com os bares famosos da cidade servindo de ponto de concentração: Yuris Bar, no Mangabeiras, o Pé-de Porco, no Santa Bárbara, o Sucupira, na área central, o Sabor da Vila, no Vila Tanque e assim por diante.

De toda forma, a idéia dos blocos seria uma opção de carnaval em Monlevade. Com o passar dos anos, a festa se tornaria tradição e a cidade só teria a ganhar. E então, quem compra a idéia?