Um escritor que morava sozinho na cobertura de um flat, pensou, seriamente, o que aconteceria se ele se atirasse lá do alto e caísse no meio da avenida. Em princípio, achou que seria doloroso. Depois, passou a imaginar que, na verdade, não iria doer nada.
Em que pensaria quando estivesse na queda? Daria para dançar um balé aéreo, antes de se diminuir no solo, achatando-se como massa de pastel na parede? Será que alguém teria dó dele? Ficou assim, por cinco segundos, sentindo a vertigem típica dos que têm medo de altura, mas que têm vontade de chegar da sacada de janelas para ver os carros passando lá em baixo.
Teve a certeza de que iria cair, quando decidiu pisar o ar e sentir a maciez do espaço vazio. Escorregou e ficou com metade do corpo pendurado e a outra, para dentro da sala carpetada do flat. O coração à boca batia forte e as mãos que tentavam segurar a beirada da janela amiga começaram a suar. A tontura aumentou. “Meu Deus, não quero morrer assim”, foi o que pensou naquele momento. Então, com um impulso sobre humano, caiu na sala feito um peixe que vai do aquário ao tapete. Levantou, arrumou o cabelo. Ainda trêmulo, pegou uma dose de uísque.
Bebeu depressa, respirou e decidiu ir escrever uma crônica.
Olá Erivelton Braz.
ResponderExcluirPasseando n aNet buscando por leituras sobre a "leitura de poesias" descobri teu blog... uma delícia a forma como você escreve.
Parabéns!!
Um abraço
Clau Assi