quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Machado é o cara

Acho que vou reler Dom Casmurro...

Continho

Era madrugada ainda quando ela, limpando restos de sonhos dos olhos, virou-se na cama e acordou com a chuva que caía. Não havia ninguém ao lado dela naquela cama imensa, vazia há anos. Ele se fora... E ela, solitária como os trovões antes do amanhecer, continuava tentando dormir, mas não adiantava. Era madrugada ainda... ... A luz do dia sempre trazia consigo a imagem da imensidão daquela cama que parecia não caber no quarto. Talvez por isso fosse tão sufocante tentar dormir quando a madrugada era rompida pelas primeiros raios de sol. Ainda mais sozinha, o que tornava tudo mais edidentemente difícil.
Mesmo assim, era preciso despertar. As primeiras buzinas rasgavam a manhã que prometia ser quente, como são as de Janeiro. E foi com muita sensação de calor que ela se levantou. A camisola de cetim deixava suas curvas mais acentuadas. Através dela, o bico do seio esquerdo meio entumescido. Era uma mulher madura e bonita. Essa era a melhor definição para Bárbara. Esse era seu nome, misto de doçura e violência.
Era gerente de Banco, mas queria ter sido cantora. Sua mãe era fã dos Doces Bárbaros e ela cresceu embalada por graves e agudos de Bethânia e Gal. Mas o destino a levou a um curso de administração de empresas e, este, a um concurso da Caixa Econômica Federal. Bela, porém, triste. Triste, porque era só. Bem sucedida, atraente, viajada e descolada, mas sozinha. Não amava ninguém, apesar de pretendentes não faltarem. Só que ela buscava algo mais nos homens do noites ardentes tão esvaziadas de segredos. Queria sentir-se aquecida, como se coubesse dentro dos sonhos de alguém.
Naquela manhã em que ela despertou cansada de solidão, achou que poderia ser feliz. Arrumou-se, perfumou-se e saiu, como quem sai para a vida. Em vez de seguir para o Banco e para a burocracia de mais um dia de trabalho, tomou o caminho do mar e decidiu que seria feliz. Pelo menos naquele dia.

A Rainha


Maria Bethânia é minha rainha. É minha Dalva de Oliveira, é minha Janis Joplin. Adoro ouvir sua voz aveludada, sua textura carregada de sensualidade, como são as curvas de uma mulher a que se ama. Aprendi a amar Bethânia desde novo. Talvez, aos sete ou oito anos, quando ouvi no rádio do meu vizinho sapateiro "Nadico", Brincar de Viver. A voz da baiana está gravada em minha alma e sempre que fecho os olhos, escuto-a entoando cantigas infinitas.

Ela que começou cantando aos 17 anos, substituindo Nara Leão no palco do teatro Opinião, ela, que era a pequenina protegida pelo irmão Caetano e pelo poeta Vinícius de Moraes, ela que recita poemas como ninguém, ela que fala versos de Fernando Pessoa com a maestria de quem respira debaixo da água, ela que é simbolo do tropicalismo, ela que embala amantes em moteis de luxo ou de quinta categoria, ela que é divina! Salve Bethânia!