Era madrugada ainda quando ela, limpando restos de sonhos dos olhos, virou-se na cama e acordou com a chuva que caía. Não havia ninguém ao lado dela naquela cama imensa, vazia há anos. Ele se fora... E ela, solitária como os trovões antes do amanhecer, continuava tentando dormir, mas não adiantava. Era madrugada ainda... ... A luz do dia sempre trazia consigo a imagem da imensidão daquela cama que parecia não caber no quarto. Talvez por isso fosse tão sufocante tentar dormir quando a madrugada era rompida pelas primeiros raios de sol. Ainda mais sozinha, o que tornava tudo mais edidentemente difícil.
Mesmo assim, era preciso despertar. As primeiras buzinas rasgavam a manhã que prometia ser quente, como são as de Janeiro. E foi com muita sensação de calor que ela se levantou. A camisola de cetim deixava suas curvas mais acentuadas. Através dela, o bico do seio esquerdo meio entumescido. Era uma mulher madura e bonita. Essa era a melhor definição para Bárbara. Esse era seu nome, misto de doçura e violência.
Era gerente de Banco, mas queria ter sido cantora. Sua mãe era fã dos Doces Bárbaros e ela cresceu embalada por graves e agudos de Bethânia e Gal. Mas o destino a levou a um curso de administração de empresas e, este, a um concurso da Caixa Econômica Federal. Bela, porém, triste. Triste, porque era só. Bem sucedida, atraente, viajada e descolada, mas sozinha. Não amava ninguém, apesar de pretendentes não faltarem. Só que ela buscava algo mais nos homens do noites ardentes tão esvaziadas de segredos. Queria sentir-se aquecida, como se coubesse dentro dos sonhos de alguém.
Naquela manhã em que ela despertou cansada de solidão, achou que poderia ser feliz. Arrumou-se, perfumou-se e saiu, como quem sai para a vida. Em vez de seguir para o Banco e para a burocracia de mais um dia de trabalho, tomou o caminho do mar e decidiu que seria feliz. Pelo menos naquele dia.
... A luz do dia sempre trazia consigo a imagem da imensidão daquela cama que parecia não caber no quarto. (Gerineldo)
ResponderExcluirDemoraram três dias para notarem sua ausência. Quando já era inevitável fazer contato com a polícia, já que não sabiam muito de sua vida (ou pelo menos não faziam questão), ela retorna com um brilho quente no olhar que retrata todas as noites de luxúria e fogo carnal que vivera em sua aventura de desejo. E o mais intrigante: como se nada tivesse acontecido, como tivesse ido embora ontem e voltado hoje ao trabalho. Nenhum comentário fez.
ResponderExcluirNinguém ousava perguntar o que acontecera, mas era claro que não era nada de entediante da vida de funcionário público.
Ao fechar os olhos...
Cel. Gerineldo! Desse jeito, meu continho vira uma novela... Abraços, camarada!
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