Foi estranho e diferente o meu encontro com o filósofo Wandão Madruga. Foi na sexta-feira passada, durante o show do grupo Viola de Folia, que se apresentou na Praça do Povo. Vi a figura de longe e me aproximei, como quem não quer nada, para me certificar se era mesmo aquele, o famoso comedor de mangas e pensador de cuca fresca.
Mal tinha me aproximado e o esguio homem lançou-me um olhar que disse muitas coisas. Tentei dizer-lhe algo, mas não foi possível. Ele levou o indicador à boca, pedindo silêncio. E, com o mesmo silêncio, levou o mesmo indicador à frente, mostrando-me o grupo de violas que interpretava Cálix Bento. Captei a mensagem do sábio Wandão e fiquei ouvindo a toada de Tavinho Moura, que ganhou o Brasil.
Enquanto ouvia o refrão mágico, “ai, ai, ai meu Deus”, ficava admirando os olhos de Wandão. Como uma criança esperta, as retinas dele estavam fixas no grupo de violeiros, com seus chapéus e tambores, com seu sotaque mineiro, uai. Eu sabia que havia alguma coisa diferente no ar. O filósofo ameaçava, vez por outra, cantarolar baixinho os versos daquela poesia musical. Apesar do corpo imóvel, num estado permanente de contemplação, o homem batia os pés levemente ao solo, acompanhando o ritmo da percussão.
Fiquei pensando no que Wandão pensava. Será que ele tinha uma lembrança feliz daquela cantiga simples e tão imensamente linda? Será que ele era transportado a outras épocas por causa da marcação dos tambores e das notas rasqueadas da viola caipira? Também comecei a viajar naquela melodia doce e embarquei para Minas. Minas da igreja e da quermesse. Minas cheirando a café coado fresco e a queijo curado. Minas que está dentro de nós, pesados homens de ferro e de pecado, sempre arrependidos de nossas aflições. Minas que são tantas, que são Gerais.
De repente, parei. Uai eu estou em Minas! Não saí daqui um só segundo e já senti tantas saudades... Olhei para Wandão e ele permanecia em seu estado contemplativo de antes. Deduzi que a viagem dele continuava e não quis atrapalhar. É que canções como Cálix Bento, têm um poder mágico. Um poder de nos deixar com saudades de Minas Gerais, mesmo sem nunca termos saído. Cálix Bento é quase uma oração, que nos transporta a estados zens, que nos leva a outras dimensões.
Eu aprendi isso, observando os gestos comedidos de Wandão. Um ambulante ofereceu-me uma cerveja e eu peguei. Perguntei a Wandão se ele queria uma também. Mas com seu jeito matuto e seu silêncio característico, fez um gesto, como se dissesse “não obrigado”, sem falar uma palavra.
Não fiquei sem graça, quando o vi levar a mão ao bolso da calça e tirar um embrulho de papel de pão. Fiquei curioso para ver o que havia dentro. Wandão, com a paciência e tranqüilidade dos passarinhos, tirou um naco de rapadura, partiu em dois e me estendeu uma parte. Aceitei a partilha apesar da lata de cerveja. Ele riu com os olhos e colocou o torrão na boca. Depois, como se deliciasse de um manjar divino estalou a língua.
O grupo de violas encerrava seu show. Fiquei ainda algum tempo ao lado do filósofo que gostava daquela música de raiz e batia palmas, agradecendo aquela apresentação. Aplaudi também, porque essas músicas todas mexem muito com a gente. Queria puxar um assunto com Wandão Madruga. Mas ele não quis conversa. Estendeu a mão comprida e ossuda e apertou a minha, com a mesma satisfação de quem aperta a mão de um velho conhecido. E saiu logo em seguida. Ainda por alguns instantes observei os passos miúdos dele, no meio da multidão. Ele não olhou para trás, porque não era homem disso. E seguiu seu caminho até atravessar a Wilson Alvarenga, no sentido da Praça 7 e desaparecer de minha vista impressionada.
Mal tinha me aproximado e o esguio homem lançou-me um olhar que disse muitas coisas. Tentei dizer-lhe algo, mas não foi possível. Ele levou o indicador à boca, pedindo silêncio. E, com o mesmo silêncio, levou o mesmo indicador à frente, mostrando-me o grupo de violas que interpretava Cálix Bento. Captei a mensagem do sábio Wandão e fiquei ouvindo a toada de Tavinho Moura, que ganhou o Brasil.
Enquanto ouvia o refrão mágico, “ai, ai, ai meu Deus”, ficava admirando os olhos de Wandão. Como uma criança esperta, as retinas dele estavam fixas no grupo de violeiros, com seus chapéus e tambores, com seu sotaque mineiro, uai. Eu sabia que havia alguma coisa diferente no ar. O filósofo ameaçava, vez por outra, cantarolar baixinho os versos daquela poesia musical. Apesar do corpo imóvel, num estado permanente de contemplação, o homem batia os pés levemente ao solo, acompanhando o ritmo da percussão.
Fiquei pensando no que Wandão pensava. Será que ele tinha uma lembrança feliz daquela cantiga simples e tão imensamente linda? Será que ele era transportado a outras épocas por causa da marcação dos tambores e das notas rasqueadas da viola caipira? Também comecei a viajar naquela melodia doce e embarquei para Minas. Minas da igreja e da quermesse. Minas cheirando a café coado fresco e a queijo curado. Minas que está dentro de nós, pesados homens de ferro e de pecado, sempre arrependidos de nossas aflições. Minas que são tantas, que são Gerais.
De repente, parei. Uai eu estou em Minas! Não saí daqui um só segundo e já senti tantas saudades... Olhei para Wandão e ele permanecia em seu estado contemplativo de antes. Deduzi que a viagem dele continuava e não quis atrapalhar. É que canções como Cálix Bento, têm um poder mágico. Um poder de nos deixar com saudades de Minas Gerais, mesmo sem nunca termos saído. Cálix Bento é quase uma oração, que nos transporta a estados zens, que nos leva a outras dimensões.
Eu aprendi isso, observando os gestos comedidos de Wandão. Um ambulante ofereceu-me uma cerveja e eu peguei. Perguntei a Wandão se ele queria uma também. Mas com seu jeito matuto e seu silêncio característico, fez um gesto, como se dissesse “não obrigado”, sem falar uma palavra.
Não fiquei sem graça, quando o vi levar a mão ao bolso da calça e tirar um embrulho de papel de pão. Fiquei curioso para ver o que havia dentro. Wandão, com a paciência e tranqüilidade dos passarinhos, tirou um naco de rapadura, partiu em dois e me estendeu uma parte. Aceitei a partilha apesar da lata de cerveja. Ele riu com os olhos e colocou o torrão na boca. Depois, como se deliciasse de um manjar divino estalou a língua.
O grupo de violas encerrava seu show. Fiquei ainda algum tempo ao lado do filósofo que gostava daquela música de raiz e batia palmas, agradecendo aquela apresentação. Aplaudi também, porque essas músicas todas mexem muito com a gente. Queria puxar um assunto com Wandão Madruga. Mas ele não quis conversa. Estendeu a mão comprida e ossuda e apertou a minha, com a mesma satisfação de quem aperta a mão de um velho conhecido. E saiu logo em seguida. Ainda por alguns instantes observei os passos miúdos dele, no meio da multidão. Ele não olhou para trás, porque não era homem disso. E seguiu seu caminho até atravessar a Wilson Alvarenga, no sentido da Praça 7 e desaparecer de minha vista impressionada.
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