João Monlevade, apesar dos poucos 46 anos, é uma cidade com uma veia memorialística forte demais. Já disse isso em outras ocasiões e volto a explicar o motivo: a cidade foi dilacerada com a extinção de toda uma região, a Praça do Mercado e adjacências, onde as vivências de grande parte da população local ficaram enterradas na saudade. E, isso é, notoriamente, uma dor profunda na alma do monlevadense.
Já falei também neste espaço, que Francisco Barcelona e o professor Dadinho são os arcontes da cidade. São os guardiões dos arquivos e intérpretes deles. Já falei ainda, do jornal O Morro do Geo e do jornalista Marcelo Melo, um dos primeiros a resgatar esse passado tão vivo quanto presente de nossa cidade. Coramar Alves e Francisco Bernardino também colecionam causos e vivências sobre o passado de João Monlevade. Agora, descubro o trabalho do advogado Sebastião Eustáquio, que pela Internet, mantém um blog em que fala também da cidade antiga, chamando a atenção para locais históricos. Tudo muito interessante.
Outro dia comecei a refletir sobre uma questão: a Usina, por motivos de sua expansão, há cerca de 25 anos, precisou ocupar a Cidade Alta, em nome do progresso e do desenvolvimento. Será que, com as novas obras de duplicação da capacidade de produção, outras partes da cidade também não poderão ser extintas? Rua dos Contratados? Região do Social Clube? Antiga “vila dos engenheiros?” E se a mudanças do presente, com as novas obras, trouxerem novos impactos ao patrimônio municipal? Sim, eu sei: o progresso tem dessas coisas mesmo. Mas, será que a história vai se repetir?
Na verdade, a memória, em Monlevade, tem grandes particularidades. Uma delas, talvez seja, justamente, o desejo de que aquele tempo, vivido no Centro Industrial de antigamente voltasse de novo. Não sei o que isso significa ou o que representa. Lembro de Freud, num estudo em que revela que todo colecionador tem pulsão de morte. Grosso modo, o genial psicanalista afirma que quem coleciona algo, tem tanto medo de ser esquecido, que vai arquivando o presente e tudo o quanto pode salvar, enquanto a vida não lhe escape dos dedos. Talvez, por medo de um dia, a história tornar a se repetir, o monlevadense tem essa mesma pulsão, esse desejo de amar demais o passado e se esquecer de olhar para o presente e para o futuro. Vamos seguir em frente!
terça-feira, 5 de outubro de 2010
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