Dizem que ela saiu um dia para comprar alguma coisa qualquer e não voltou tão cedo. O marido esperou, a família esperou e ela nada de aparecer ou dar notícias. Chamaram a polícia, o IML, foram em hospitais e continuaram sem notícia. Publicaram anúncios, chamaram a imprensa e nada. A mãe foi ficando cada vez mais triste, o pai foi ficando cada vez mais bêbado. Apenas o marido esperou. Sabia que um dia ela ia voltar de qualquer maneira, nem que fosse para buscar seus brincos prediletos. Toda noite ele se sentava na sala e, se fazia frio, enrolava-se num edredom; se calor, ficava sem camisa. Todas as noites. O tempo passou, as coisas passaram, a vida passou. Foram 20 anos de expectativa desde aquela tarde em que ela desapareceu, até que ela entrou em casa. Misteriosamente. Bateu o portão como costumava. Espirrou antes de girar a maçaneta, como sempre fizera. Olhou para o marido, envelhecido e gasto de tanta espera e falou, como se estivesse saído a apenas 20 minutos: “Demorei”? O marido não respondeu porque achava que aquela não era a sua esposa. Mesmo assim, ela estava com a mesma roupa de vinte anos atrás e ainda tinha os cabelos molhados, como da última vez em que saíra. Estava igual. Exatamente igual. O marido, sem dizer uma palavra sequer, continuou sentado em sua poltrona, vinte anos mais velho, mais gordo e mais triste. Ela apenas disse: “A rua estava lotada, parece véspera de Natal! E de pensar que nós ainda estamos em fevereiro..."
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
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Navegando por aqui,li vários contos, que por sinal, são magníficos.
ResponderExcluirParabéns!
Abraços