sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Um velho piano, num velho clube


Era um piano de madeira que já fora muito solicitado em concertos de antigamente no imponente clube daquela cidade do interior de Minas. Aliás, como na maioria das cidades do interior de Minas, os clubes onde freqüentavam as grandes rodas, hoje perderam o glamour e se transformaram num espaço permanente de saudosismo e decadência misturados.


E o velho piano que acompanhou cantoras clássicas em canções não menos clássicas, hoje está ali, encostado a um canto, triste e quase silencioso por completo. Só não é mais por causa de algum curioso insistindo em apertar uma tecla em vão. Crianças também o adoram e batucam em seu teclado revestido de marfim, como se batuca um brinquedo sem maior importância.


O clube da cidade do interior onde está o piano de madeira também não é mais o mesmo. Não fosse por alguma recepção esporádica, de casamento ou alguma festa particular, ele estaria ali, como um velho elefante que se afasta da manada jovem para morrer em paz na mais completa solidão.


As grandes festas regadas a champanhe e a salgados finos, os cocktails concorridos e os incríveis bailes de debutantes ficaram na lembrança. Hoje, o salão principal tem o piso roto, gasto de tanta dança, riscado por pés que não bailam mais. As paredes manchadas pelas mãos do tempo perderam a elegância. Portas e janelas sem vidro não impedem os olhares de estranhos que passam lá fora.


O velho piano, emudecido por traças e poeira, dá o tom a uma época que também passou. Ah! O piano que tocou hits da bossa que se apresentou como nova, o piano que embalou casais em bailinhos de domingo após a missa, que fez a moçada balançar o esqueleto com o rock de Elvis e Fevers, agora se encerra em sua própria tampa.


Lá fora do clube e longe do instrumento relegado, a vida corre normal. As pessoas correm atrás de suas contas, as crianças brincam com todos os seus brinquedos que também um dia serão esquecidos. No canto, o piano espera. E não sabe o quê. Apenas silencia.


Ele é a representação de tudo o que não há mais. É como uma dor de saudade profunda e com arestas para nos lembrar daquilo tudo que já se foi. O clube da pequena cidade do interior de Minas não recebe mais a alta sociedade de outrora. Essa também não existe. O clube e o piano vivem sem as razões que um dia os edificaram e, talvez por isso, não sejam mais tão solicitados.

Em tempo
Essa crônica é dedicada a tudo o que foi um dia e que hoje perdeu a esperança. O Automóvel Clube de Nova Era, assim como outros clubes da região, merecem mais respeito e empenho para voltar a ser o que foram um dia.

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