Olhava o mundo de dentro de casa. Era uma maneira muito particular de enxergá-lo.Quase não saía. Não gostava de se mostrar, pavor de alteridade. Voltada para si, a moça Manu se escondia do que via, e conversava com tantas vozes de seu pensamento desordenado, atrás da cortina daquela casa simples, na rua do Meio. No seu mundo, ninguém nunca a encontrou. No seu mundo, só as vozes havia. E Manu acreditava que estava bem acompanhada.
Manu era assim. Meio tímida. Falava quase muito pouco, mas pensava muito. Mantinha constante diálogo com o turbilhão de pensamentos que nela fazia morada. Muitas vozes. Uma multidão sem tamanho na sua pequena cabeça dava conta de todos os sons do mundo. Manu pensava pra si, em si e consigo. O mundo era o fascínio de enxergar a janela aberta. Via-o de dentro pra fora, com suas vozes mais íntimas discursando sobre tudo. Ali, onde ninguém pudesse encontrá-la, atrás da cortina da casa na rua do Meio. Um dia, a janela não abriu. Não havia ninguém em casa, ninguém passou na rua. Só havia as vozes.Então o mundo de Manu se transformou numa obscura sensação de liberdade. E ela sorriu.
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