terça-feira, 28 de abril de 2009

Sobre a história de um certo francês


Muita gente sabe que certo engenheiro francês desembarcou no Brasil em 1817 e foi o pioneiro da siderurgia nacional. Ele se chamava Jean Antoine Félix Dissandes de Monlevade e desbravou essas terras, dando origem a nossa cidade. Pois bem. Mas o que ficou por trás dessa história, os elementos que compuseram a trajetória dele e o perfil desse homem, sobretudo os detalhes de sua vida e obra nunca foi amplamente divulgado.
Não por falta de interesse ou de cuidado. Pelo contrário. Muitos são os artigos, reportagens, citações em livros, declarações apaixonadas, entre outros escritos soltos que foram produzidos para falar mais do francês que chegou à região, provavelmente, em fins de 1818. Porém, todas essas informações importantes acerca do pioneiro Jean de Monlevade encontram-se desvinculadas umas das outras, algumas guardadas em documentos oficiais do Centro de Cultura e Memória da ArcelorMittal (unidades de Monlevade e Sabará), outras guardadas em cartórios, outras em livros, outras em fragmentos de jornais de época, etc.
Para tentar agrupar esses dados, divulga-los e ainda despertar o interesse por essa história, recebi o desafio proposto pelo diretor do A Notícia, Márcio Passos, para escrever um livro sobre a trajetória de Jean de Monlevade. “Um livro?”, pensei. E imaginei que essa tarefa iria dar muito pano para a manga. E deu. Após aceitar a empreitada literária, parti para pesquisas, leituras e releituras de documentos e textos que pudessem embasar a escrita dos passos desse engenheiro francês que chegou ao Brasil aos 28 anos de idade.
Como disse, apesar dos muitos textos sobre o francês, poucos foram os documentos oficiais encontrados durante a cata de informações a respeito de tão nobre homem. Isso, sem falar nos vários personagens que participaram da vida dele no Brasil: Guido Marlièrie, Barão de Catas Altas, Auguste Saint-Hilaire, entre outros tantos nomes. Então, parti para a imaginação para costurar toda essa trama, amarrando datas e personagens, acontecimentos e situações, realidade documental e ficção pura, orientado pela máxima do genial Garcia Marques: “Espero contar uma história que ninguém contou antes”.
O resultado foi o romance “Nas Terras Pesadas de Metais e Espantos”, com cerca de 150 laudas, onde são relatadas as aventuras e desventuras desse herói francês, que adotou o Brasil como pátria e que era respeitadíssimo por nativos e estrangeiros, por homens nobres e escravos.
Acredito que possa ter havido, sim, algumas pequenas falhas, até porque não sou historiador e tive pouco mais de um ano para compor a obra. Mas sem dúvida, esse é o primeiro romance sobre o pioneiro Jean de Monlevade e sua vida no Brasil do século XIX. Devo isso, sem dúvida, à iniciativa de Márcio Passos e ao custeio da pesquisa feito pelo Jornal A Notícia. Mas o que mais me emocionou foi descobrir tanta paixão desse francês por essa terra, tanta dedicação e empenho ao trabalho, além de seu empreendedorismo que tanto marca a Usina que ele criou. Até os dias de hoje.
Aos 45 anos de emancipação política, a cidade de João Monlevade pode se orgulhar dos seus quase 184 de história, se considerarmos que o Solar onde o pioneiro morou, (a Fazenda do Centro Industrial, pertencente à Usina) provavelmente, foi erguido em 1825. Além disso, a cidade também tem do que se orgulhar por ser uma das poucas mineiras fundadas por um francês. Acho que além daqui, apenas Guidoval e Marliéria, ambas oriundas dos feitos do militar Guido Thomas Marlièrie; Santo Hilário, por causa da passagem de Saint-Hilaire a uma pequena vila do Sul de Minas, Itabira, por causa de Raoul de Caux, nenhuma outra carrega sua origem nos passos de franceses na então província das Gerais. Bem. Isso é outra história, a qual não me arrisco muito a palpitar.
Porém, acho que o ano da França no Brasil, talvez um dos mais importantes eventos de 2009, iniciado no último dia 21 e marcado para terminar em 15 de novembro, não poderia passar em branco sem alguma comemoração na nossa Monlevade. Afinal, o evento vem para mostrar que é possível compartilhar valores, ideais, interesses e cultura, entre duas nações tão distintas e nem por isso menos próximas. Monlevade merece isso. E muito mais.

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