quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A tara do poeta


Outro dia li um resumo de uma dissertação de mestrado sobre Carlos Drummond de Andrade, a respeito de o Amor Natural, obra póstuma do poeta itabirano e que traz poemas eróticamente explícitos. Lembrei-me que li essa obra em meados de 2000 e me impressionou muitíssimo o fato de Drummond, aquele velhinho de óculos com cara de avô, ter escrito algo tão violentamente poético, como a descrição do sexo oral. Esse é um dos poemas que mai gosto, pelas aliterações e pelo ritmo.

A língua lambe

A língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão,
e vai tecendolépidas variações de leves ritmos.
E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,
entre gritos, balidos
e rugidosde leões na floresta, enfurecidos.


Drummond é demais.... Além de revolucionar a poesia do modernismo com seu caráter existencialista, além de escrever versos sobre a humanidade, sua dor, sua vida de cão no mundo, além de reproduzir a paixão por palavras, por mostrar a beleza do óbvio, além de ser o poeta maior, ele era amante, revelando-se um elegantíssimo tarado.

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