segunda-feira, 21 de junho de 2010

Memória IV – Identidade e cultura


Somos parte do que já foi. O passado é mais poderoso do que o presente, pois ele não apenas nos formou como nada nele pode ser alterado ou destruído. O que chamamos de presente é apenas subúrbio do passado. Com essas afirmações, o escritor irlandês Oliver St.John Gogarty, em seu romance Não é de forma alguma época deste ano, publicado em 1954, faz um relato autobiográfico de sua trajetória pessoal e também do seu país, recontando fatos ocorridos no passado, buscando preencher e entender as lacunas do presente.
Com o fim da cidade alta e o fechamento do Morro do Geo, o monlevadense mergulha nas suas histórias passadas para encontrar de novo a sua identidade perdida, a sua pólis adorada que ficou para trás. Assim, a cidade hoje vive uma crise de identidade. O que caracteriza João Monlevade? O aço, a Usina, tudo bem, todos sabem... Mas o que o monlevadense tem de mais identitário, aquilo que o distingue perante os outros? Mais uma vez afirmo: Para os que nasceram entre os anos 50 e 60, sem dúvida, vai ser a saudade da cidade alta ou a crítica pelo seu fim... Agora, os mais novos, não têm nem mesmo essa referência, muito menos outras...
Identidade, cultura e memória são elementos articulados e que caminham lado a lado. Nesse sentido, o monlevadense tem como marcas de identidade, a sua relação com o que não existe mais na cidade, porque isso faz parte da cultura do município. Lembrar das ruas, do lactário, dos boieiros, do Bar Para Todos, do Grupo de Tábua, do Colégio Estadual, da Rádio Cultura (com música ao vivo), dos bailes e eventos do Grêmio e dos demais clubes, tornou-se um hábito, uma forma de contemplar aquilo que não pode ser mais destruído (embora já tenha acabado).
Mas o pior que poderia ter acontecido com os viventes desta época, sem duvida, foi o muro na entrada do morro do Geo. O fato de não existir mais sequer qualquer oportunidade de contato com o que existia antes, machuca ainda mais. O muro lacra,enterra. É como uma lápide de concreto sobre a cova. Encerrou o passado para sempre. Assim, a recordação é uma arma contra a nostalgia do tempo, para reavivar as marcas do que se foi. A juventude, no entanto, está sozinha e carente dessa identificação com a sua cidade do agora. Tanto que, quem tem menos de vinte e cinco anos, não se lembra (ou se recorda muito pouco) do que era Monlevade antiga.

Um comentário:

  1. Olá, caro amigo.
    Muito legal essa incursão pela memória da cidade. Quando li seus textos, me lembrei muito de Ipatinga e de outras cidades que foram marcadas pela produção de aço, mas que agora desenham novas referências para si mesmas, conforme crescem aceleradamente. Gosto muito desses temas que tratam da urbanidade de nossas cidades de médio-porte. Escrevi um texto no meu blog sobre como as usinas se constituíram em referenciais para nós (http://contemplatividade.blogspot.com/2009/10/filho-de-mae-telurgica.html). Grande abraço.

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