Eu me lembro do seu Zé do Amendoim. Nunca esqueci dos seus “torradinhos”, vendido no campo do Vigilante, no bairro Santa Cruz, onde, na infância, passava dias na casa da minha tia. Seu Zé, marido de Dona Judite, salgadeira de mão cheia, tinha um carrinho cheio de surpresas. Amendoins torradinhos, salgadinhos e que enchiam minhas tardes de alegria.
Seu Zé é muito importante para mim. Aliás, ele mora em mim e ocupa lugar privilegiado em minha memória. Nunca esqueci do gosto do seu amendoim, torradinho, que comia durante os jogos de futebol no campo do Vigilante no Santa Cruz. Nunca mais comi um amendoim como aquele. E duvido que alguém saiba fazer um igual. Nem os maiores mestres da culinária...Não adianta insistir: como aqueles, nunca mais. Isso, porque o sabor que a boca da infância provou, não poderá ser sentido de novo. Coisas proustianas...
Seu Zé do Amendoim está presente e vivo em minhas lembranças de menino para sempre. Com suas mãos negras, ele me afagava a cabeça e me presenteava com um saquinho mágico de amendoins. A lembrança do Seu Zé e de seus amendoins permanece comigo, aonde quer eu vá.
Nos tempos do mestrado em São João del Rei, conheci também, um outro vendedor de amendoins. Ele andava (e ainda deve andar) pelos bares são-joanenses, vendendo a guloseima. Fazia um tipo: cachecol, boina e paletó e uma bolsa com amendoins. Parecia a figura de um avô de 80 anos. Pedia licença, sentava-se à mesa, contava um causo. “Juscelino tomou café aqui, se não me engano, sentado mais ou menos onde você está. Tancredo só gostava de tomar café no balcão”, dizia, para contar que aquele bar já foi um restaurante no passado em que políticos famosos costumavam reunir-se. E ia revelando suas memórias da cidade histórica, falava da vida do lugar e ia nos envolvendo com sua prosa, até a gente comprar uns dois ou três pacotes de amendoins... Eram gostosos, mas nunca como os de seu Zé. O legitimo torradinho que nunca mais comi depois que cresci.
Cada cidade tem os seus personagens célebres e que compõem, mesmo sem querer, a vida das pessoas. São aqueles verdureiros, os garçons, os entregadores de leite, os donos de padaria, as personalidades que ficam vivas para sempre na memória. O vendedor de amendoim de São João é desse tipo. Mas não é como seu Zé, do Vigilante, no Santa Cruz, que está impregnado em mim, vivo, na saudade de seus torradinhos com os quais deliciava-me na infância. A memória é como esses amendoins.
terça-feira, 14 de setembro de 2010
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Excelente.
ResponderExcluirLembro também da farinha de amendoim que ele raramente fazia.
Saudades do Vô.
Rapaz, fiquei com a garganta seca e travada só de ler.Lembro dos fins de semana que eu passava na casa dele vendo o carinho e o amor que ele colocava para fazer o amendoin.Tinha todo um ritual que não podia passar do ponto e que tinha que ser no forno a lenha.Todas as vezes que tinha jogo ou no Vigilante ou no Industrial ele saia para comprar um amendoin na feira.Na volta eu ficava feliz porquê ajudava ele a contar eclaro também ganhava uns trocados.Hoje trabalho também com fotografia e é como essa memória que você escreveu.Há momentos que devem ser eternizados e fico triste por não ter tido uma foto dele nessa época, feliz porém por você ter escrito isto reavivando a memória que poucos puderam ter o prazer de saborear e viver isto que está escrito aí.Obrigado, Aenderson Fernando neto do deu Zé do torradinho.Vitória ES.
ResponderExcluirAlenilder e Aenderson!
ResponderExcluirÉ impressionante como compartilhamos memórias né? Saudadçoes e grande abraço!
Obrigado pela leitura e consideração.
Voltem sempre ao blog!