quarta-feira, 27 de maio de 2009
Bonita (escrito para a Renata, é claro!)
Reunidas por sobre a solidão do mar.
Você é mais bonita que você mesmo
Você é a própria beleza encarnada
Mais bonita que uma árvore chovendo
Dentro da madrugada
Você é mais bonita que não sei.
Você é mais bonita que o olhar dos amantes,
Que o primeiro raio de flor
Mais, muito mais que o diamante
Mais que qualquer brilhante
Qualquer luz e qualquer fogo.
Você é quatrizilhão de vezes mais bonita
Que um pôr –de- sol no oceano
Mais que a aurora,
Mais que a vitória
Ainda mais bonita que nem Deus saberia explicar.
Você é mais bonita que uma autoestrada
Unindo abraços distantes
Mais que o pai olhando o filho
Mais que a mãe,
Mais bonita que uma explosão de flores,
Arco-íris, tempestade de olhares
Mais infinitamente bonita que tudo
Tão mais que a palavra cala
Mais bonita que a primeira fala
Que o primeiro passo
Que o primeiro traço
Visto em ultra-som.
Você é mais bonita que o som,
Que o tom,
Que o Dom
Mais, bem mais
Que tudo que existe de bom
E mal.
Porque o mal vira bem
Quando passas de leve,
Mais bonita que um trem
Quando apita na curva e vem
Você é mais bonita que um trote
de cavalo
Mais bonita que o dote
Da donzela
Mais bonita que um galo
Cacarejando na janela
Mais bonita que a poesia
Que todas as poesias
Mais bonita que o dia
E a noite
Mais bonita que a lembrança
Do Taj Mahal,
Da Torre Eiffel
E de todo o céu.
Mais bonita que a Gal cantando qualquer música
Mais que a letra de “Camisa Amarela”
Você é mais bonita que um casamento na primavera...
Mais, muito mais,
Tão mais
Que a tinta seca.
terça-feira, 26 de maio de 2009
Carta de Vinícius de Moraes para Chico Buarque: composição de Valsinha!
Mar del Plata, 24 de janeiro de 1971
Chiquérrimo,
Dei uma apertada linda na sua letra, depois que você partiu, porque achei que valia a pena trabalhar mais um pouquinho sobre ela, sobre aqueles hiatos que havia, adicionando duas ou três idéias que tive. Mandei-a em carta a você, mas Toquinho, com a cara mais séria do mundo, me disse que Sérgio [Buarque de Hollanda] morava em Buri, 11, e lá se foi a carta para Buri, 11.
Mas, como você me disse no telefone que não tinha recebido, estou mandando outra para ver se você concorda com as modificações feitas.
Claro que a letra é sua, e eu nada mais fiz que dar uma aparafusada geral. Às vezes o cara de fora vê melhor essas coisas.
Enfim, porra, aí vai ela. Dei-lhe o nome de "Valsa hippie", porque parece-me que tua letra tem esse elemento hippie que dá um encanto todo moderno à valsa, brasileira e antigona. Que é que você acha? O pessoal aqui, no princípio, estranhou um pouco, mas depois se amarrou na idéia. Escreva logo, dizendo o que você achou.
"Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito mais quente do que comumente costumava olhar
E não falou mal da poesia como mania sua de falar
E nem deixou-a só num canto; pra seu grande espanto disse: vamos nos amar...
Aí ela se recordou do tempo em que saíam para namorar
E pôs seu vestido dourado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como a gente antiga costumava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a bailar...
E logo toda a vizinhança ao som daquela dança foi e despertou
E veio para a praça escura, e muita gente jura que se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouviam mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu em paz".
Resposta do Chico (genial análise)!
Rio, 2 de fevereiro de 1971
Caro poeta,
Recebi as duas cartas e fiquei meio embananado. É que eu já estava cantando aquela letra, com hiato e tudo, gostando e me acostumando a ela. Também porque, como você já sabe, o público tem recebido a valsinha com o maior entusiasmo, pedindo bis e tudo. Sem exagero, ela é o ponto alto do show, junto com o "Apesar de você". Então dá um certo medo de mudar demais. Enfim, a música é sua e a discussão continua aberta. Vou tentar defender, por pontos, a minha opinião. Estude o meu caso, exponha-o a Toquinho e Gesse, e se não gostar foda-se, ou fodo-me eu.
"Valsa hippie" é um título forte. É bonito, mas pode parecer forçação de barra, com tudo que há de hippie por aí. "Valsa hippie" ligado à filosofia hippie como você a ligou, é um título perfeito.
Mas hippie, para o grande público, já deixou de ser filosofia para ser a moda pra frente de se usar roupa e cabelo. Aí já não tem nada a ver. Pela mesma razão eu prefiro que o nosso personagem xingue ou, mais delicado, maldiga a vida, em vez de falar mal da poesia. A sua solução é mais bonita e completa, mas eu acho que ela diminui o efeito do que se segue. Esse homem da primeira estrofe é o anti-hippy. Acho mesmo que ele nunca soube o que é poesia. É bancário e está com o saco cheio e está sempre mandando sua mulher à merda. Quer dizer, neste dia ele chegou diferente, não maldisse (ou "xingou" mesmo) a vida tanto e convidou-a pra rodar.
"Convidou-a pra rodar" eu gosto muito, poeta, deixa ficar. Rodar que é dar um passeio e é dançar. Depois eu acho que, se ele já for convidando a coitada para amar, perde-se o suspense do vestido no armário e a tesão da trepada final. "Pra seu grande espanto", você tem razão, é melhor que "para seu espanto". Só que eu esqueci que ia por itens.
Vamos lá:
* Apesar do Orestes (vestido de dourado é lindo), eu gosto muito do som do vestido decotado. É gostoso de cantar vestidodecotado. E para ficar dourado, o vestido fica com o acento tendendo para a primeira sílaba. Não chega a ser um acento, mas é quase. Esse verso é, aliás, o que mais agrada, em geral. E eu também gosto do decotado ligado ao "ousar" que ela não queria por causa do marido chato e quadrado. Escuta, ô poeta, não leva a mal a minha impertinência, mas você precisava estar aqui para ver como a turma gosta, e o jeito dela gostar dessa valsa, assim à primeira vista. É por isso que estou puxando a sardinha mais para o lado da minha letra, que é mais simplória, do que pelas suas modificações que, enriquecendo os versos, talvez dificultem um pouco a compreensão imediata. E essa valsinha tem um apelo popular que nós não suspeitávamos.
* Ainda baseado no argumento acima, prefiro o "abraçar" ao "bailar". Em suma, eu não mexeria na segunda estrofe.
* A terceira é a que mais me preocupa. Você está certo quanto ao "o mundo" em vez de "a gente". Ah, voltando à estrofe anterior, gostei do último versos onde você diz "e cheios de ternura e graça" em vez de "e foram-se cheios de graça". Agora, estou pensando em retomar
uma idéia anterior, quando eu pensava em colocá-los em estado de graça. Aproveitando a sua ternura, poderíamos fazer "Em estado de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar". Só tem o probleminha da junção "em-estado", o "em-e" numa sílaba só. Que é o mesmo problema do "começaram-a". Mas você mesmo disse que o probleminha desaparece dependendo da maneira de se cantar. E eu tenho cantado "começaram a se abraçar" sem maiores danos. Enfim, veja aí o que você acha de tudo isso, desculpe a encheção de saco e
responda urgente.
* Há um outro problema: o pessoal do MPB-4 está querendo gravar essa valsa na marra. Eu disse que depende de sua autorização e eles estão aqui esperando. Eu também gostaria de gravar, se o senhor me permitisse, por que deu bolo com o "Apesar de você", tenho sido perturbado e o disco deixou de ser prensado. Mas deu para tirar um sarro. É claro que não vendeu tanto quanto a "Tonga", mas a "Banda" vendeu mais que o disco do Toquinho solando "Primavera". Dê um abraço na Gesse, um beijo no Toquinho e peça à Silvana para mandar notícias sobre shows etc. Vou escrever a letra como me parece melhor. Veja aí e, se for o caso, enfie-a no ralo da banheira ou noutro buraco que você tiver à mão.
Eis a obra prima!
"Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra rodar
Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda a cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos
Tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz."
terça-feira, 19 de maio de 2009
Maio
Maio, sempre maio... As madrugadas frias vem dizer que algo novo surgirá pela manhã. No entanto, o sol morno aparece entre nuvens sem dizer muita coisa. Maio é mais que um mês: é um estado e espírito. Dessa forma, pode-se dizer de vez em quando, "estou em maio", mesmo que o calendário teime em dizer que seja setembro! Maio tem um quê de solidão, de sorumbático, tem algo que comove e que encanta, tem uma vida prórpia. Maio é o mês que nunca termina, apesar do Kid Abelha cantar o contrário. Maio e suas noites de lua clara e poucas estrelas. Maio e suas noivas delicadas, suas mães amorosas, de Maria, sempre nossa Rainha e Mãe Maria! Maio, pra sempre maio.
Maio dos trabalhadores, da Deusa grega da fertilidade. Maio o quinto mês do ano. O mês de 31 dias que marca a quase metade dos 12 meses que nos guiam. Mês dos taurinos e dos geminianos. O que dirá o zodíaco sobre os mistérios de maio? Maio sempre maio!
segunda-feira, 18 de maio de 2009
Fabrício e Elcimar e Guilherme Calk na garagem
Shows da Alternativa
quarta-feira, 13 de maio de 2009
Postagem de Marcelo Melo
"Era para eu escrever sobre esse tema na última sexta-feira, após ter lido a coluna assinada pelo colega e literata Erivelton Braz, no jornal A Notícia, intitulada “Show certo no lugar errado”, quando ele falou sobre a apresentação de Flávio Venturini no Parque do Areão. Mas, acabei me esquecendo, mas o assunto ainda é atual. Realmente, o Erivelton falou tudo que eu gostaria de escrever, porque foi um pecado levar um dos maiores nomes da MPB, autor de clássicos da música brasileira, para o Areão, lugar de show para povão. E não é este o público de Venturini. Que não fosse no Teatro Antônio Gonçalves – o local mais adequado -, mas ao menos na praça do Povo – agora toda reformulada -, como ocorreu no governo de Leonardo Diniz, quando ali se apresentou Martinho da Vila. Faltou um pouco de bom senso, mas de qualquer forma servirá como experiência para os demais. Mas, a César o que é de César: o pessoal que hoje dirige a Fundação Casa de Cultura está com uma cabeça bem mais aberta do que os ex-diretores, que só traziam meros shows breganejos."
Valeu Marcelo. É isso aí!
terça-feira, 12 de maio de 2009
Praça do Povo
Biblioteca
Ainda sobre a Fundação
Luciano Roza e a Fundação
Casa de Cultura
A bem da verdade, já escrevi sobre isso antes: A Fundação Casa de Cultura deveria ser independente. Afinal, ela é uma Fundação e só poderia funcionar como tal. Isso envolve uma receita própria, uma vida própria. Claro que a administração municipal poderia participar diretamente dos trbalhos da entidade, através dos diretores executivos. Mas o presidente da fundação, assim como os demais conselheiros deveriam ser eleitos democraticamente, conforme rege o estatuto da instituição.
Show certo no lugar errado
Foto: Sérgio Henrique/ ACOM PMJM
O que dizer da apresentação do músico Flávio Venturini no Parque do Areão como parte integrante das comemorações do aniversário de João Monlevade ? A resposta está no título logo acima: a organização acertou na escolha do show, mas errou feio no local de sua realização.
A tentativa de explicação é a seguinte: Infelizmente, a grande massa popular de nossa cidade não está preparada para eventos do gênero. Numa linguagem mais chula, escolher Flávio Venturini para show gratuito, no parque do Areão, foi um vacilo tremendo.
O artista que é um dos mais renomados cantores de Minas Gerais e do Brasil, que já teve canções gravadas por outros nomes grandiosos da MPB, além de ser autor de trilhas de sucesso em novelas e mini-séries, ficou deslocado na imensidão do Parque do Areão, na madrugada fria do dia 2 de maio.
Com relação à apresentação, não há do que reclamar. Som, iluminação, repertório perfeitos. Um dos problemas foi o horário. Previsto inicialmente para 00h30 (o que já é tarde), o cantor subiu ao palco com cerca de uma hora de atraso. Pelo menos, antes da atração principal, houve shows dos ótimos pratas da casa, Cláudiney Godoy e João Roberto e Ronivaldo. Mas não há fã que agüente ficar em pé, na neblina e no frio, além de respirar a poeira do parque.
O que também decepcionou, sem dúvida, foi parte do público presente. Salvo os pouco mais de 300 fãs do artista, que formavam um “bolinho de gente” na frente do palco, o restante não estava nem aí para a música de Venturini, numa tremenda falta de respeito para com o músico e com os demais ouvintes.
Em determinado momento em que ficou só no palco, acompanhado apenas do piano, era notável a decepção do convidado, já que pouca gente ouvia seus solfejos e os versos iluminados de canções como “Criaturas da Noite”, “Minha Estrela”, “Pensando em Você”, entre outras. Mesmo assim, o artista cantou por cerca de duas horas e terminou com clássicos do seu antigo grupo, o 14 Bis. Aliás, ninguém também pediu bis porque já passava das 3h da manhã.
Como disse no título, a escolha do lugar não foi uma boa idéia para receber um cantor de pouco apelo popular, mas que agrada os bons ouvintes da MPB. Esses até pagariam para assistir ao show num confortável teatro, longe do frio, da neblina e da terra preta do parque do Areão.
Se a intenção era fazer um show na rua, talvez até a Praça do Povo, que recebeu melhorias da atual administração comportaria bem melhor o público do artista. Bastava alugar umas 400 cadeiras e desviar o trânsito, já iniciando o projeto “Linha Azul”, a exemplo do que fazia a administração petista quando promovia shows na Praça do Povo. Valeu a intenção do diretor da Fundação Casa de Cultura, Luciano Roza e do prefeito Gustavo Prandini. A torcida é a de que eles acertem da próxima vez.
PS: Esta crônica foi publicada na coluna Emporium, da última sexta, dia 8. Depois, fui informado que o Luciano Roza não foi o idealizador do show de Flávio Venturini. Então, fica aqui o nosso registro.
Variedades suspenso
Abraços a todos!
quinta-feira, 7 de maio de 2009
Palavras de Rosa
Pãos ou pães é questão de opiniães
Viver é negócio muito perigoso
Amor vem de amor. Digo. Em Diadorim, penso também - mas Diadorim é a minha neblina...
O diabo no meio da rua, no meio do reDEMOinho
O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem!
Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia
Quem muito se evita, se convive!
Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando.
Felicidade se acha em horinhas de descuido...
Eu sei: quem ama é sempre muito escravo, mas não obedece nunca de verdade.
Quem sabe direito o que uma pessoa é?Antes sendo:julgamento é sempre defeituoso,porque o que a gente julga é o passado
Não se esqueça de Mim
Onde você estiver, não se esqueça de mim
Com quem você estiver não se esqueça de mim
Eu quero apenas estar no seu pensamento
Por um momento pensar que você pensa em mim
Onde você estiver, não se esqueça de mim
Mesmo que exista outro amor que te faça feliz
Se resta, em sua lembrança, um pouco do muito que eu te quis
Onde você estiver, não se esqueça de mim
Eu quero apenas estar no seu pensamento
Por um momento pensar que você pensa em mim
Onde você estiver, não se esqueça de mim
Quando você se lembrar não se esqueça que eu
Que eu não consigo apagar você da minha vida
Onde você estiver não se esqueça de mim