terça-feira, 1 de dezembro de 2009
Meia bomba
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Orçamento dos Sonhos
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Johnny Cash
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
Um salve para os Racionais
Vale a pena ouvir os Racionais, desde que não se tenha o estômago fraco. As letras imensas e a quase falta de refrões tornam o rap feito por eles bastante envolvente. O som é pesado e as rimas são repletas de gírias: é a música das ruas. Não das ruas comuns, mas da periferia, da zona Sul de São Paulo, onde a pobreza convive com a morte e, segundo eles, onde preto e dinheiro não combinam. Como disse, não se pode concordar com tudo o que eles dizem. Mas vale a constatação de que "a vida não é Malhação e nem novela", como canta Mano Brown, vocalista e líder dos Racionais.
Salve!
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
Diante dos últimos acontecimentos, faço minhas as palvras dos Titãs
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Algumas do Roberto
1) As Canções que você fez pra mim
2) Fé
3) Se diverte e já não pensa em mim
4) As curvas da Estrada de Santos
5) O Portão
6) Todos estão surdos
7) Detalhes
8) Emoções (Por causa dos versos finais)
9) De coração para coração
10) A Janela
11) Fera Ferida
12) É preciso saber viver
13) Abandono
14) Amante à moda Antiga
15) Eu e ela
16) Amiga
17) Não adianta nada
18) O caminhoneiro (é brega, mas o rassobio e o refrão são massa demais)
19) Eu preciso de você
20) Tudo pára
A espera
Esperando o trem
Esperando neném
Esperando dias melhores
Esperando a morte chegar
Esperando o resultado
Esperando a cirurgia
Esperando...
Esperando pelo sol
Esperando as férias chegarem
Esperando o ano novo
Esperando
A espera de Godot
Esperando o carnaval chegar
Esperando na sala do ambulatório
Esperando a chuva passar
Esperando a música acabar
Esperando a hora passar
Esperando a planta crescer
Esperando a lua nascer
Esperando o filme começar
Esperando a pipoca estourar
Esperando a viagem terminar
Esperando o telefonema
Esperando
Esperando o jogo
Esperando a festa
Esperando o show continuar
Esperando o fim da novela
Esperando por
Esperando o
Esperando a
Esperando
Esperando
Esperando
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Para variar, outra lista: Melhores pratos da comida mineira
2) Costelinha com Ora-pro-nobis e angu
3) Pé-de-Porco (Joelho de porco, dá na mesma)
4) Toucinho de barriga, couve e angu
5)Bucho (Dobradinha soa melhor)
6)Farofa de jiló e frango à passarinho (hummm)
7) Arroz com pimenta
8) Tropeiro (o original: feijão, farinha, lombo, costelinha, linguiça, couve e ovo)
9) Tutu, arroz e couve
10) E no final, doce de leite com queijo
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
Melhores ao vivo
1) Deep Purple - Made in Japan
2) Nirvana - Unplugged
3) Led Zeppelin - Live at BBC
4) Eric Clapton - Just one Night
5) Maria Bethânia - Imitação da Vida
6) Pink Floyd - Pulse
7) Rolling Stones - Shine a Light
8) Tom Jobim - Em Minas Ao Vivo Piano e Voz
09) Acdc - Live
10) Barão Vermelho - Vermelho Vivo (esse eu já citei, mas é mesmo bom demais!)
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Uma listinha...
1) Back in Black - ACDC
2) Aqualang - Jethro Tull
3) Led Zeppelin III - Led Zeppelin
4) Vermelho Vivo - Barão Vermelho
5) Revolver - Beatles
6) Let it Bleed - Rolling Stones
7) Cabeça Dinossauro - Titãs
8) Fly by Night - Rush
9) Roots - Sepultura
10) Chega de Saudade - João Gilberto
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Listas
Ao Amigo Martino
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Livros fundamentais
2) A Metamorfose, Kafka
3) Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis
4)O Encontro Marcado, Fernando Sabino
5) Grande Sertão: Veredas, G. Rosa
6)Os Sertões, Euclides da Cunha
7) Magia, Técnica, Arte e Política: Obras Escolhidas I , Walter Benjamin
8) O Cheiro de Deus, Roberto Drummond
9) A Morte e a Morte de Quincas Berro D' água, Jorge Amado
10) O Amor Natural, Carlos Drummnd de Andrade
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
E daí!
Outra. O Rio ganhou como cidade sede das Olimpíadas 2016. bom. Mas, e daí? Bom para o Rio e suas gangues. E o Pelé chorando? O que o Pelé já fez pelo Brasil, além dos gols? Nunca defendeu os negros. Nunca defendeu uma reforma na educação pública. Aliás, ele cantou aquela música ridícula: ABC, ABC, toda criança tem que ler e aprender!!! E daí se o Pelé chorou?
Existem inúmeras situações que nos levam a pensar E o kiko? E daí? E daí? E daí? E daí?
É uma série de afirmaões e de acontecimentos que nos deixam cheios de informação e vazios de tudo. Amanhã, que não é tão distante, nem nos lembramos desses detalhes. Então, mais uma vez, e daí?
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Prêmio Arcellor de Meio Ambiente
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Todo mundo quer amor
Verso poderoso da canção de abertura do disco "Jesus não tem dentes no país dos banguelas" (1987) dos Titãs. Arnaldo Antunes berra a canção durante pouco mais de um minuto e reforça a necessidade de amor. Amor de verdade.
terça-feira, 15 de setembro de 2009
AC/DC
Roberto e Helena
Music and Me
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
Memória Pop
O ser Atleticano - Crônica do saudoso Roberto Drummond sobre o Galo, é claro!!!
O primeiro e único mandamento do atleticano é ser fiel e amar o Galo.
Daí, que a bandeira atleticana cheira a tudo neste mundo.
Cheira a mulher amada.
Cheira a lágrimas.
Cheira a grito de gol.
Cheira a dor.
Cheira a festa e a alegria.
Cheira até mesmo perfume francês.
Só não cheira a naftalina, pois nunca conhece o fundo do baú, tremula ao vento.
A gente muda de tudo na vida. Muda de cidade. Muda de roupa. Muda de partido político. Muda de costumes. Até de amor a gente muda.
A gente só não muda de time, quando tem as iniciais CAM, do Clube Atlético Mineiro, gravadas no coração.
É um amor cego e tem a cegueira da paixão.
Já vi o atleticano agir diante do clube amado com o desespero e a fúria dos apaixonados.
Já vi atleticano rasgar a carteira de sócio do clube e jurar:
- Nunca mais torço pelo Galo!
Já vi atleticano falar assim, mas, logo em seguida, eu o vi catar os pedaços da carteira rasgada e colar, como os amantes fazer com o retrato da amada.
Que mistério tem o Atlético que, às vezes, parece que ele é gente?
Que a gente associa às pessoas da família (pai, mãe, irmão, tio, prima)?
Que a gente o confunde com a alegria que vem da mulher amada?
Que mistério tem o Atlético que a gente confunde com uma religião?
Que a gente sente vontade de rezar “Ave Atlético, cheio de graça?”
Que mistério tem o Atlético que, à simples presença de sua camisa branca e preta, um milagre se opera?
Que tudo se transfigura num mar branco e preto?
Ser atleticano é um querer bem. É uma ideologia. Não me perguntem se eu sou de esquerda ou de direita. Acima de tudo, sou atleticano e, nesse amor, pertenço ao maior partido político que existe: o Partido do Clube Atlético Mineiro, o PCAM, onde cabem homens, mulheres, jovens, crianças.Diante do Atlético todos são iguais: o bancário pode tanto quanto o banqueiro, o operário vale tanto quanto o industrial. Toda manhã, quando acordo, eu oro: obrigado, Senhor, por me ter dado a sorte de torcer pelo Atlético.
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
A tara do poeta
A língua lambe
A língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão,
e vai tecendolépidas variações de leves ritmos.
E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,
entre gritos, balidos
e rugidosde leões na floresta, enfurecidos.
Drummond é demais.... Além de revolucionar a poesia do modernismo com seu caráter existencialista, além de escrever versos sobre a humanidade, sua dor, sua vida de cão no mundo, além de reproduzir a paixão por palavras, por mostrar a beleza do óbvio, além de ser o poeta maior, ele era amante, revelando-se um elegantíssimo tarado.
Trecho de um conto que estou escrevendo...
É quase comovente observar Joana trabalhando. Suas mãos tratam bem as peças de roupa, cuidando delas com o primor de noiva ao seu vestido. Esfrega as camisas do marido, retirando as impurezas com o opaco sabão de barra, grosso, sem espuma ou cheiro e da frieza dura da água armazenada na tina de madeira.
E Joana canta. Canta um samba do tempo em que não tinha pecado. Sim, Joana um pecado. Um pecado que entediava sua vida, que a tornava diferente das mulheres que o marido arranjava na rua. Um pecado que pesava a solidão de todas as suas noites: Joana amava mais os outros do que amava a si mesma. Daí a falta de cor em sua vida. Daí o sofrimento particular e sem medida. Daí, a sua vontade de não ser Joana e ser a moça loura do cinema que ela viu uma vez, que dançava sensual para o homem que queria conquistar. Mas Joana não tinha coragem. E por isso se entregava ao cuidado da casa, com a mesma paixão dos que se entregam ao corpo alheio, em lençóis de amor em noites frias.
E Joana costurava as calças dos filhos, cozinhava os pratos que os três devoravam sem sabor e apagava as marcas carmins de batom que encontrava nos colarinhos do marido. Quanto mais exercia sua função de simplesmente ser dona, quanto mais era mãe, quanto mais não cuidava de si e ia cansando sua beleza loura, mais desejava ser a moça do cinema. A moça que levantava a saia enquanto dançava e mostrava as pernas na fenda de sensualidade do seu vestido vermelho. E por isso, como que para se punir do que sentia, mais trabalhava e se esquecia de que também era mulher.
terça-feira, 1 de setembro de 2009
Voltei
Nas terras pesadas
Quero casar
Aline Calixto
Max Sette
terça-feira, 28 de julho de 2009
Cinema
terça-feira, 21 de julho de 2009
Voltei...
Vanessa da Mata
Linha Azul
quinta-feira, 9 de julho de 2009
Ouro Preto
Justa e certa homenagem
Precisa dizer mais?
Fora Sarney! Fora Sarney!
Fora Sarney! Fora Sarney!
Fora Sarney! Fora Sarney!
segunda-feira, 6 de julho de 2009
Palpites sobre a 381
Acho que colocar cruzes e caixões ao longo da BR 381 para tentar uma mobilização em torno das obras de duplicação ainda é muito pouco.
Não quero ser contra o projeto do DNIT, mas alguém já se informou sobre o projeto da ANTT? Afinal, nem tudo que vem do governo, como o PAC, é coisa boa...
Fiquei sabendo que a Régis Bitencourt teve cobrança de pedágios antes da duplicação e o número de acidentes diminuiu. Motivo? Assim que o pontos de pedágio foram instalados, houve melhoria significante do asfalto, da sinalização, limpeza de canaletas. Foi também disponibilizado um carro reboque, além de uma UTI móvel para ficar à disposição da rodovia. Não seria o caso de buscar mais informações a respeito?
terça-feira, 30 de junho de 2009
Cenas Matinais
A senhora acordou naquela manhã com uma sede danada de ver todas as belezas desse mundo. Abriu a janela e descobriu um céu azul, com um sol morno e ouviu, ao longe, o latido dos cães do vizinho. Sentiu na boca um gosto de renovação de tudo e respirou o ar fresco de abril. As flores do parapeito da janela lançavam ao ar cores ornamentais, como se tivessem desabrochado para saldar aquela manhã sem nenhum espanto.
A senhora deixou o quarto e, a caminho da cozinha, pensou que o mundo tem um sabor especial quando se quer senti-lo. Pensou que, naquela manhã, nada mais havia de importante do que aquilo que a vida lhe pintava.
Tomou o café preto e forte com pão e manteiga como se fosse uma refeição especial. A mais especial de todas. Estava feliz, como se nada mais lhe bastasse naquele momento. Por isso, celebrou aquela descoberta: de que para tudo ser especial, nada é mais necessário do que mudar a forma de ser e de agir, além de enxergar as coisas com os olhos do coração.
II
Enquanto esperava o ônibus chegar, às 8h15 de sábado, ele acendeu um cigarro para matar o tempo e pensou naquela que iria encontrar, um pouco mais tarde, assim que vencesse a barreira dos 110km que os separava. Iria para Belo Horizonte passar o fim de semana com a noiva. Antes de atravessar o gradil e de ir em direção ao ponto de embarque, lembrou dela, com o vestido alaranjado que tanto o agradava e sorriu. Aquela lembrança o deixou mais feliz ainda. Então, teve a certeza de que tudo o que mais queria na vida, era desfrutar manhãs como aquela e viver para amar aquela que escolhera para sempre ser sua namorada.
III
Não queria acordar quando o despertador tocou e a tirou de um sono de dez horas seguidas. Na verdade, até despertou de leve, mas recusou-se a levantar-se, tentando não perder o fio da meada do sonho que estava tendo. Espreguiçou-se, enquanto o alarme, insistentemente, não parava de tocar.
O remédio era mesmo levantar e tomar conta da vida. Apesar de não ter de trabalhar tão cedo, esqueceu-se de desligar o aparelho. Então, como já tinha levantado mesmo, pensou que seria bom fazer uma caminhada com a cadela Bethânia. Calçou os tênis, prendeu o animal na guia e saiu para a praça principal do bairro, sentindo no rosto o vento meio frio das 6h30. Sentiu também que o dia todo seria diferente. E iria pagar para ver.
IV
Foi numa manhã de abril como a de hoje, que ela o viu partir sem dizer-lhe adeus. Estava em casa, lavando umas vasilhas para a mãe. Faltava uma semana para o casamento e ela o viu passar na rua, devagar. Ele parou o carro porque sabia que ela viria. Dito e feito. Ela surgiu radiante, querendo um abraço apertado e um beijo.
Mas ele não desceu do carro. Ficou ali, com um olhar distante, como quem quer dizer algo e não diz. Ela perguntou o que havia e ele olhou para baixo e disse que estava indo para BH comprar umas coisas para casa. Ela quis ir junto, mas ele não deixou. Disse ser desnecessário. Então, beijou as mãos dela e disse que ela iria gostar da surpresa. Arrancou o carro e nunca mais voltou.
Anos mais tarde, ela descobriu que ele partira para se casar com outra mulher no Rio de Janeiro. Hoje, aquele homem que a abandonara, vive do comércio e tem uma loja em uma shopping na cidade maravilhosa. E ela, não se casaria mais e, pelo resto da vida, iria se lembrar daquele dia em que alguém lhe disse adeus sem sequer olhar nos seus olhos.
Você já olhou para o céu hoje?
Sim, o cotidiano pode ser feliz. Tolo é quem se queixa da rotina. Afinal, não há nada no mundo que funcione sem organização, sem processos metodológicos. E é isso que constitui a rotina. Tudo bem. Concordo que fazer as mesmas coisas diariamente enche a paciência de todo mundo. Mas, por que não tentar fazer as mesmas coisas, de outra forma, buscando um novo olhar sobre elas?
Há quanto tempo você não olha o céu? Não olha as nuvens de dezembro e o azul das manhãs que antecedem o Natal? Você percebe, no ar, um cheiro de esperanças a serem renovadas com o nascer de um novo ano? Não? Então é preciso rever alguns conceitos. É necessário inventar de novo o amor, conforme cantou Vinícius.
Vivemos a era do imediatismo. Tudo é para ontem, mas a durabilidade é pouca. Isso é, as coisas de tão intensas, acabam passando muito rápido e escorrem entre os dedos feito finos grãos de areia ao menor soprar de vento. Tudo se vai, às vezes, sem nem dar tempo para as saudades. Assim, preocupada com a manutenção do efêmero, muita gente se esquece de coisas menores, mas nem por isso menos importantes.
Não seria a hora de tentar fazer os mitos? Numa tarde de 1966, nas areias quentes da praia de Venice Beach, Califórnia, dois jovens estudantes de cinema se reúnem e decidem montar uma banda de rock. Trata-se do tecladista Ray Manzareck e do poeta Jim Morrison. O primeiro, afoito com a fama, manifesta o desejo de ficar e rico, além de ter mulheres e mimos luxuosos. O outro, mais preocupado com a repercussão do trabalho, diz que quer mais. Ele quer fazer os mitos. Quer entrar para a história e que todo o resto seria conseqüência dessa obra grandiosa. Manzareck concordou. Assim nasceu o The Doors, grupo de rock que mudou o jeito de se fazer música ao mesclar poesia, jazz, blues e rock, com performances teatrais e ousadas. Entraram para a história e se tornaram referência para tantos outros grupos.
Nos dias de hoje, alguém se preocupa em fazer os mitos? Alguém quer ser lembrado na posteridade? E você, o que faz para preservar sua pequena história? O mundo é cheio de grandes momentos. Mas a pressa do trabalho, na busca desenfreada pelo dinheiro, faz com que as pessoas deixem de perceber certos acontecimentos. Uma rosa que nasceu no jardim de casa, um beija-flor que aparece na janela do apartamento durante o café da manhã, o sorriso de uma criança no colo da mãe no ponto de ônibus...
O sistema em que estamos inseridos engole e mecaniza a todos. Os “bom dia” dados entre dentes, a falta de um abraço fraterno nos conhecidos de infância, por receio, pudor ou sei lá o quê, torna as pessoas mais frias e distantes, longe de sinceros cumprimentos e de palavras amigas. A pressa no trânsito que aflige ainda mais ao som de frenéticas buzinas, ajuda a criar o caos da contemporaneidade. Soma-se a tudo isso, a velha argumentação da falta de tempo e das desculpas esfarrapadas, sem contexto algum.
É bom que se veja o mundo, que se olhe as coisas ao redor e que se tenha um olhar de turista para as coisas mais simples. Assim, fica menos árduo enfrentar os desafios que não são poucos. Fica mais fácil caminhar descalço sobre o quente asfalto nosso de cada dia. Então, que tal olhar para o céu agora?
terça-feira, 16 de junho de 2009
Rua da Aurora vou caminhar...
Não é preciso ir muito longe não. Em João Monlevade mesmo ocorreram mudanças que me chateiam. A minha rua, no Vila Tanque, chegou a ter o singelo nome de Rua Antúrio. Não me lembro dessa época, acho que foi na administração de Dr. Lúcio, no fim dos anos 70. Aliás, as ruas todas tinham nome de flores... Mas isso durou pouco. Depois, as ruelas voltaram a ser nomeadas por números frios: oito, nove, dez...
Eu continuo preferindo os antigos nomes. São José da Lagoa é melhor do que Nova Era (afinal, o que há de "novo" na cidade vizinha?); São Miguel do Piracicaba é melhor do que Rio Piracicaba; Santo Antônio do Paraibuna é mais bonito que Juiz de Fora...
Agora, imaginem se João Monlevade passasse a se chamar Prandinópolis? Ou Mauri Torres? Ou mesmo Acelorlândia? Imaginem se Belo Horizonte( que é melhor do que Curral Del Rey, é verdade) passasse a se chamar Araão Reis? Ou se Santa Bárbara mudasse o nome para Afonso Pena, em função do seu filho ilustre?
Como disse Manuel Bandeira em Evocação do Recife:
Rua da União...Como eram lindos os montes das ruas da minha infância
Rua do Sol(Tenho medo que hoje se chame de dr. Fulano de Tal)...
segunda-feira, 15 de junho de 2009
O trem
Mas como dizia, o Milton escreveu e cantou muito sobre o trem que corta Minas e une os parentes e os corações Uma das canções mais lindas dele é Roupa Nova, que fala de um menino do interior que vive esperando o trem parar na estação daquela “cidade de fim de mundo”. Para quem conhece, vale a pena ouvir de novo. Para quem nunca ouviu, fica a dica para uma das mais belas canções feitas pelas mãos mineiras de Nascimento. Abaixo a letra linda da canção:
Todos os dias, toda manhã
Sorriso aberto e roupa nova
Passarim preto de terno branco
Pinduca vai esperar o trem
Todos os dias, toda manhã
Ele sozinho na plataforma
Ouve o apito, sente a fumaça
E vê chegar o amigo trem
Que acontece que nunca parou
Nessa cidade de fim de mundo
E quem viaja pra capital
Não tem olhar para o braço que acenou
O gesto humano fica no ar
O abandono fica maior
E lá na curva desaparece com sua fé
Homem que é homem não perde a esperança não
Ele vai parar
Quem é teimoso não sonha outro sonho não
Qualquer dia ele para
Assim Pinduca toda manhã
Sorriso aberto e roupa nova
Passarim preto de terno branco
Vai renovar a sua fé
Galo forte e vingador
quarta-feira, 10 de junho de 2009
Namorados
Pra Poder Te Amar
(Martinho da Vila)
O amor não tem cor
O amor não tem idade
O amor não vê cara
Nem religião
Não faz diferença
Do rico e do pobre
O amor só precisa
De um coração...
O amor não tem tom
Nem nacionalidade
Dispensa palavras
Basta um olhar
O amor não tem hora
Nem fórmula certa
Não manda recado
Chega prá ficar...
O amor entrou na minha vida
Quando te encontrei
Olhei no teu olhar
E me apaixonei
Foi tanta emoção
Não deu prá segurar
O amor contigo ao meu lado
É cada vez maior
Quero me batizar
No sal do teu suor
E ter a vida inteira
Prá poder te amar...
"Quem não tem namoradoé alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo."
Arhur da Távola
"Meu paletó enlaça teu vestido e meu sapato ainda pisa o teu"
(Chico Buarque)
Declaração (para Renata, é claro)
Para sentir na saliva, a sua, com gosto de boca que anuncia a vida
Eu te amo porque você é assim,
Meio um pouco de tudo o que quero
Meio cheia das coisas que espero
Eu nasci para te amar pra sempre
Porque não há razão de ser se não há seu amor
De luz, de mar, de língua de sol
Lambendo a manhã fria
Eu te amo de amor de todos os dias
Numa dedicação diária de sentimento
Eu te amo de um amor intenso
de todos os momentos
eu te amo de te amar
e te amar, certeiro, como um rio
ama ir ao encontro do mar
quinta-feira, 4 de junho de 2009
Lançamento do Cd Serenata
Meu bróder Martino vai promover o lançamento do Cd Serenata, em Alvinópolis, em noite romântica do Dia dos Namorados. Tudo a ver: Friozinho e música aconchegante para esquentar os corações apaixonados. Vale a pena prestigiar o evento que será no Nick´s Bar. Imperdível, até porque depois, vai rolar uma serenata pelas ruas da cidade, como se fazia antigamente.
Mais informações no blog: http://alvinopolisquepensa.blogspot.com
Não acho graça em Susan Boyle
Está certo que a mulher é cantora há muitos anos e que há tempos tenta o sucesso no mundo da música. Mas ela só se tornou grandiosa por conta da aparição naquele programa de calouros inglês.Aliás, programas de calouros e reallity shows que promovem anonimos ao estrelato estão mesmo na moda.
Não gosto de Susan Boyle. E ponto final. Prefiro outros cantores que poderiam mesmo alcançar o sucesso: Ana Cristina, Aline Calixto, Pedro Morais, Makely Ka, Kristoff Silva, Weber Lopes, Maurício Tizumba, Tambolelê, entre outros tantos...
quarta-feira, 27 de maio de 2009
Bonita (escrito para a Renata, é claro!)
Reunidas por sobre a solidão do mar.
Você é mais bonita que você mesmo
Você é a própria beleza encarnada
Mais bonita que uma árvore chovendo
Dentro da madrugada
Você é mais bonita que não sei.
Você é mais bonita que o olhar dos amantes,
Que o primeiro raio de flor
Mais, muito mais que o diamante
Mais que qualquer brilhante
Qualquer luz e qualquer fogo.
Você é quatrizilhão de vezes mais bonita
Que um pôr –de- sol no oceano
Mais que a aurora,
Mais que a vitória
Ainda mais bonita que nem Deus saberia explicar.
Você é mais bonita que uma autoestrada
Unindo abraços distantes
Mais que o pai olhando o filho
Mais que a mãe,
Mais bonita que uma explosão de flores,
Arco-íris, tempestade de olhares
Mais infinitamente bonita que tudo
Tão mais que a palavra cala
Mais bonita que a primeira fala
Que o primeiro passo
Que o primeiro traço
Visto em ultra-som.
Você é mais bonita que o som,
Que o tom,
Que o Dom
Mais, bem mais
Que tudo que existe de bom
E mal.
Porque o mal vira bem
Quando passas de leve,
Mais bonita que um trem
Quando apita na curva e vem
Você é mais bonita que um trote
de cavalo
Mais bonita que o dote
Da donzela
Mais bonita que um galo
Cacarejando na janela
Mais bonita que a poesia
Que todas as poesias
Mais bonita que o dia
E a noite
Mais bonita que a lembrança
Do Taj Mahal,
Da Torre Eiffel
E de todo o céu.
Mais bonita que a Gal cantando qualquer música
Mais que a letra de “Camisa Amarela”
Você é mais bonita que um casamento na primavera...
Mais, muito mais,
Tão mais
Que a tinta seca.
terça-feira, 26 de maio de 2009
Carta de Vinícius de Moraes para Chico Buarque: composição de Valsinha!
Mar del Plata, 24 de janeiro de 1971
Chiquérrimo,
Dei uma apertada linda na sua letra, depois que você partiu, porque achei que valia a pena trabalhar mais um pouquinho sobre ela, sobre aqueles hiatos que havia, adicionando duas ou três idéias que tive. Mandei-a em carta a você, mas Toquinho, com a cara mais séria do mundo, me disse que Sérgio [Buarque de Hollanda] morava em Buri, 11, e lá se foi a carta para Buri, 11.
Mas, como você me disse no telefone que não tinha recebido, estou mandando outra para ver se você concorda com as modificações feitas.
Claro que a letra é sua, e eu nada mais fiz que dar uma aparafusada geral. Às vezes o cara de fora vê melhor essas coisas.
Enfim, porra, aí vai ela. Dei-lhe o nome de "Valsa hippie", porque parece-me que tua letra tem esse elemento hippie que dá um encanto todo moderno à valsa, brasileira e antigona. Que é que você acha? O pessoal aqui, no princípio, estranhou um pouco, mas depois se amarrou na idéia. Escreva logo, dizendo o que você achou.
"Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito mais quente do que comumente costumava olhar
E não falou mal da poesia como mania sua de falar
E nem deixou-a só num canto; pra seu grande espanto disse: vamos nos amar...
Aí ela se recordou do tempo em que saíam para namorar
E pôs seu vestido dourado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como a gente antiga costumava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a bailar...
E logo toda a vizinhança ao som daquela dança foi e despertou
E veio para a praça escura, e muita gente jura que se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouviam mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu em paz".
Resposta do Chico (genial análise)!
Rio, 2 de fevereiro de 1971
Caro poeta,
Recebi as duas cartas e fiquei meio embananado. É que eu já estava cantando aquela letra, com hiato e tudo, gostando e me acostumando a ela. Também porque, como você já sabe, o público tem recebido a valsinha com o maior entusiasmo, pedindo bis e tudo. Sem exagero, ela é o ponto alto do show, junto com o "Apesar de você". Então dá um certo medo de mudar demais. Enfim, a música é sua e a discussão continua aberta. Vou tentar defender, por pontos, a minha opinião. Estude o meu caso, exponha-o a Toquinho e Gesse, e se não gostar foda-se, ou fodo-me eu.
"Valsa hippie" é um título forte. É bonito, mas pode parecer forçação de barra, com tudo que há de hippie por aí. "Valsa hippie" ligado à filosofia hippie como você a ligou, é um título perfeito.
Mas hippie, para o grande público, já deixou de ser filosofia para ser a moda pra frente de se usar roupa e cabelo. Aí já não tem nada a ver. Pela mesma razão eu prefiro que o nosso personagem xingue ou, mais delicado, maldiga a vida, em vez de falar mal da poesia. A sua solução é mais bonita e completa, mas eu acho que ela diminui o efeito do que se segue. Esse homem da primeira estrofe é o anti-hippy. Acho mesmo que ele nunca soube o que é poesia. É bancário e está com o saco cheio e está sempre mandando sua mulher à merda. Quer dizer, neste dia ele chegou diferente, não maldisse (ou "xingou" mesmo) a vida tanto e convidou-a pra rodar.
"Convidou-a pra rodar" eu gosto muito, poeta, deixa ficar. Rodar que é dar um passeio e é dançar. Depois eu acho que, se ele já for convidando a coitada para amar, perde-se o suspense do vestido no armário e a tesão da trepada final. "Pra seu grande espanto", você tem razão, é melhor que "para seu espanto". Só que eu esqueci que ia por itens.
Vamos lá:
* Apesar do Orestes (vestido de dourado é lindo), eu gosto muito do som do vestido decotado. É gostoso de cantar vestidodecotado. E para ficar dourado, o vestido fica com o acento tendendo para a primeira sílaba. Não chega a ser um acento, mas é quase. Esse verso é, aliás, o que mais agrada, em geral. E eu também gosto do decotado ligado ao "ousar" que ela não queria por causa do marido chato e quadrado. Escuta, ô poeta, não leva a mal a minha impertinência, mas você precisava estar aqui para ver como a turma gosta, e o jeito dela gostar dessa valsa, assim à primeira vista. É por isso que estou puxando a sardinha mais para o lado da minha letra, que é mais simplória, do que pelas suas modificações que, enriquecendo os versos, talvez dificultem um pouco a compreensão imediata. E essa valsinha tem um apelo popular que nós não suspeitávamos.
* Ainda baseado no argumento acima, prefiro o "abraçar" ao "bailar". Em suma, eu não mexeria na segunda estrofe.
* A terceira é a que mais me preocupa. Você está certo quanto ao "o mundo" em vez de "a gente". Ah, voltando à estrofe anterior, gostei do último versos onde você diz "e cheios de ternura e graça" em vez de "e foram-se cheios de graça". Agora, estou pensando em retomar
uma idéia anterior, quando eu pensava em colocá-los em estado de graça. Aproveitando a sua ternura, poderíamos fazer "Em estado de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar". Só tem o probleminha da junção "em-estado", o "em-e" numa sílaba só. Que é o mesmo problema do "começaram-a". Mas você mesmo disse que o probleminha desaparece dependendo da maneira de se cantar. E eu tenho cantado "começaram a se abraçar" sem maiores danos. Enfim, veja aí o que você acha de tudo isso, desculpe a encheção de saco e
responda urgente.
* Há um outro problema: o pessoal do MPB-4 está querendo gravar essa valsa na marra. Eu disse que depende de sua autorização e eles estão aqui esperando. Eu também gostaria de gravar, se o senhor me permitisse, por que deu bolo com o "Apesar de você", tenho sido perturbado e o disco deixou de ser prensado. Mas deu para tirar um sarro. É claro que não vendeu tanto quanto a "Tonga", mas a "Banda" vendeu mais que o disco do Toquinho solando "Primavera". Dê um abraço na Gesse, um beijo no Toquinho e peça à Silvana para mandar notícias sobre shows etc. Vou escrever a letra como me parece melhor. Veja aí e, se for o caso, enfie-a no ralo da banheira ou noutro buraco que você tiver à mão.
Eis a obra prima!
"Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra rodar
Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda a cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos
Tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz."
terça-feira, 19 de maio de 2009
Maio
Maio, sempre maio... As madrugadas frias vem dizer que algo novo surgirá pela manhã. No entanto, o sol morno aparece entre nuvens sem dizer muita coisa. Maio é mais que um mês: é um estado e espírito. Dessa forma, pode-se dizer de vez em quando, "estou em maio", mesmo que o calendário teime em dizer que seja setembro! Maio tem um quê de solidão, de sorumbático, tem algo que comove e que encanta, tem uma vida prórpia. Maio é o mês que nunca termina, apesar do Kid Abelha cantar o contrário. Maio e suas noites de lua clara e poucas estrelas. Maio e suas noivas delicadas, suas mães amorosas, de Maria, sempre nossa Rainha e Mãe Maria! Maio, pra sempre maio.
Maio dos trabalhadores, da Deusa grega da fertilidade. Maio o quinto mês do ano. O mês de 31 dias que marca a quase metade dos 12 meses que nos guiam. Mês dos taurinos e dos geminianos. O que dirá o zodíaco sobre os mistérios de maio? Maio sempre maio!
segunda-feira, 18 de maio de 2009
Fabrício e Elcimar e Guilherme Calk na garagem
Shows da Alternativa
quarta-feira, 13 de maio de 2009
Postagem de Marcelo Melo
"Era para eu escrever sobre esse tema na última sexta-feira, após ter lido a coluna assinada pelo colega e literata Erivelton Braz, no jornal A Notícia, intitulada “Show certo no lugar errado”, quando ele falou sobre a apresentação de Flávio Venturini no Parque do Areão. Mas, acabei me esquecendo, mas o assunto ainda é atual. Realmente, o Erivelton falou tudo que eu gostaria de escrever, porque foi um pecado levar um dos maiores nomes da MPB, autor de clássicos da música brasileira, para o Areão, lugar de show para povão. E não é este o público de Venturini. Que não fosse no Teatro Antônio Gonçalves – o local mais adequado -, mas ao menos na praça do Povo – agora toda reformulada -, como ocorreu no governo de Leonardo Diniz, quando ali se apresentou Martinho da Vila. Faltou um pouco de bom senso, mas de qualquer forma servirá como experiência para os demais. Mas, a César o que é de César: o pessoal que hoje dirige a Fundação Casa de Cultura está com uma cabeça bem mais aberta do que os ex-diretores, que só traziam meros shows breganejos."
Valeu Marcelo. É isso aí!
terça-feira, 12 de maio de 2009
Praça do Povo
Biblioteca
Ainda sobre a Fundação
Luciano Roza e a Fundação
Casa de Cultura
A bem da verdade, já escrevi sobre isso antes: A Fundação Casa de Cultura deveria ser independente. Afinal, ela é uma Fundação e só poderia funcionar como tal. Isso envolve uma receita própria, uma vida própria. Claro que a administração municipal poderia participar diretamente dos trbalhos da entidade, através dos diretores executivos. Mas o presidente da fundação, assim como os demais conselheiros deveriam ser eleitos democraticamente, conforme rege o estatuto da instituição.
Show certo no lugar errado
Foto: Sérgio Henrique/ ACOM PMJM
O que dizer da apresentação do músico Flávio Venturini no Parque do Areão como parte integrante das comemorações do aniversário de João Monlevade ? A resposta está no título logo acima: a organização acertou na escolha do show, mas errou feio no local de sua realização.
A tentativa de explicação é a seguinte: Infelizmente, a grande massa popular de nossa cidade não está preparada para eventos do gênero. Numa linguagem mais chula, escolher Flávio Venturini para show gratuito, no parque do Areão, foi um vacilo tremendo.
O artista que é um dos mais renomados cantores de Minas Gerais e do Brasil, que já teve canções gravadas por outros nomes grandiosos da MPB, além de ser autor de trilhas de sucesso em novelas e mini-séries, ficou deslocado na imensidão do Parque do Areão, na madrugada fria do dia 2 de maio.
Com relação à apresentação, não há do que reclamar. Som, iluminação, repertório perfeitos. Um dos problemas foi o horário. Previsto inicialmente para 00h30 (o que já é tarde), o cantor subiu ao palco com cerca de uma hora de atraso. Pelo menos, antes da atração principal, houve shows dos ótimos pratas da casa, Cláudiney Godoy e João Roberto e Ronivaldo. Mas não há fã que agüente ficar em pé, na neblina e no frio, além de respirar a poeira do parque.
O que também decepcionou, sem dúvida, foi parte do público presente. Salvo os pouco mais de 300 fãs do artista, que formavam um “bolinho de gente” na frente do palco, o restante não estava nem aí para a música de Venturini, numa tremenda falta de respeito para com o músico e com os demais ouvintes.
Em determinado momento em que ficou só no palco, acompanhado apenas do piano, era notável a decepção do convidado, já que pouca gente ouvia seus solfejos e os versos iluminados de canções como “Criaturas da Noite”, “Minha Estrela”, “Pensando em Você”, entre outras. Mesmo assim, o artista cantou por cerca de duas horas e terminou com clássicos do seu antigo grupo, o 14 Bis. Aliás, ninguém também pediu bis porque já passava das 3h da manhã.
Como disse no título, a escolha do lugar não foi uma boa idéia para receber um cantor de pouco apelo popular, mas que agrada os bons ouvintes da MPB. Esses até pagariam para assistir ao show num confortável teatro, longe do frio, da neblina e da terra preta do parque do Areão.
Se a intenção era fazer um show na rua, talvez até a Praça do Povo, que recebeu melhorias da atual administração comportaria bem melhor o público do artista. Bastava alugar umas 400 cadeiras e desviar o trânsito, já iniciando o projeto “Linha Azul”, a exemplo do que fazia a administração petista quando promovia shows na Praça do Povo. Valeu a intenção do diretor da Fundação Casa de Cultura, Luciano Roza e do prefeito Gustavo Prandini. A torcida é a de que eles acertem da próxima vez.
PS: Esta crônica foi publicada na coluna Emporium, da última sexta, dia 8. Depois, fui informado que o Luciano Roza não foi o idealizador do show de Flávio Venturini. Então, fica aqui o nosso registro.
Variedades suspenso
Abraços a todos!
quinta-feira, 7 de maio de 2009
Palavras de Rosa
Pãos ou pães é questão de opiniães
Viver é negócio muito perigoso
Amor vem de amor. Digo. Em Diadorim, penso também - mas Diadorim é a minha neblina...
O diabo no meio da rua, no meio do reDEMOinho
O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem!
Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia
Quem muito se evita, se convive!
Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando.
Felicidade se acha em horinhas de descuido...
Eu sei: quem ama é sempre muito escravo, mas não obedece nunca de verdade.
Quem sabe direito o que uma pessoa é?Antes sendo:julgamento é sempre defeituoso,porque o que a gente julga é o passado
Não se esqueça de Mim
Onde você estiver, não se esqueça de mim
Com quem você estiver não se esqueça de mim
Eu quero apenas estar no seu pensamento
Por um momento pensar que você pensa em mim
Onde você estiver, não se esqueça de mim
Mesmo que exista outro amor que te faça feliz
Se resta, em sua lembrança, um pouco do muito que eu te quis
Onde você estiver, não se esqueça de mim
Eu quero apenas estar no seu pensamento
Por um momento pensar que você pensa em mim
Onde você estiver, não se esqueça de mim
Quando você se lembrar não se esqueça que eu
Que eu não consigo apagar você da minha vida
Onde você estiver não se esqueça de mim
terça-feira, 28 de abril de 2009
O curioso caso de G.
Mas esse não era o problema dele. G. era um professor de sucesso e, aos 50 anos de idade já era titular da cadeira de Literatura Brasileira Século XIX. Entendia tudo de Machado de Assis, Aluísio de Azevedo, Alencar, além é claro de Flaubert, Eça de Queiroz, Balzac e outros tantos. Era um sujeito de sucesso, reconhecido no meio acadêmico e causava inveja em todos os seus colegas de departamento. Inclusive os casados.
O motivo? Apesar dos seus absurdos 175 kg, G. fazia muito sucesso com as mulheres. E era exatamente esse o seu principal problema, por mais contraditório que isso possa parecer. As alunas suspiravam no curso sobre narrativa machadiana que ele ministrava, na rua, ele era sempre alvo de alguma paquera. E isso o deixava profundamente irritado.
No início, G. gostava. Saía com muitas mulheres: para cada noite da semana tinha uma companhia diferente. De sexta a domingo, ele tinha que rebolar para dar conta do recado. Ás vezes, se encontrava com uma de tarde e outra à noite. No domingo, almoçava com uma e jantava com outra. Vivia namorando e para namorar.
Só que ele se cansou disso e começou a não gostar.
Outro dia, no café em frente à Faculdade Letras, conversava com um amigo sobre isso. Achava esquisito, porque ele não era nenhum Brad Pitt para ser tão desejado. É verdade que julgava ter um certo charme e até tinha. Mas nada que fizesse mocinhas de 20 anos perderem o sono por sua causa.
Certa vez, ele ficou irritadíssimo com uma garota que se derretia por ele. Ela o abordou na rua e, de frente para um outdorr que trazia a imagem do Malvino Salvador sem camisa, exibindo seus gominhos abdominais, disse: “Prefiro os seus pneuzinhos de caminhão a dormir com alguém com uma barriga tão sarada quanto aquela”. G. quis sair correndo depois de ouvir isso.
Ele tinha a certeza de que algo estava errado. Não era normal aquela situação, aquele frisson todo por sua redonda figura. G. procurou uma cartomante. Nas cartas, a mulher viu que o destino dele estava traçado: era um sedutor, um predestinado a conquistar os corações femininos, mas aquilo tudo ia passar, bastava emagrecer.
Então, G. saiu radiante da casa da vidente e decidiu fazer uma dieta. Iria começar no dia seguinte. Comprou pães integrais, iogurtes, chá verde e frutas. Cortou a janta e o chopinho com o amigos no fim de semana. Enquanto não emagrecia, a mulherada não saiu do seu pé. Um dia, uma loura estonteante, com as medidas de uma atriz pornô, disse que queria fazer amor com ele a qualquer custo. G. não entendeu porque já tinha emagrecido vinte quilos e a profecia não se concretizara.
Naquela noite quente de sexta-feira, depois de duas garrafas de frizante e ainda depois de transarem duas vezes, a mulher pediu que ele falasse de Memorial de Aires, último livro de Machado de Assis. Ele pasmou: “Falar do Conselheiro Aires agora?”. E ela: “Claro”. E ele não acreditou no que ouvia.
No dia seguinte, G. desistiu da dieta. Voltou a comer como um paquiderme e não sentiu culpa. Mas, inexplicavelmente, suas medidas não aumentaram como previsto. G. continuou emagrecendo, como um balão de ar furado. E, em menos de quinze dias, estava irreconhecível. Oitenta quilos mais magro, sem precisar reduzir o estomago ou sofrer com a restrição de guloseimas, G. estava mais feliz do que nunca: desde esse dia, nenhuma mulher olhou para ele, seus amigos não mais o invejaram mais e apenas os mais interessados passaram a assistir a suas aulas. Estava tudo normal agora.
Festival de Inverno
Sobre a história de um certo francês
Muita gente sabe que certo engenheiro francês desembarcou no Brasil em 1817 e foi o pioneiro da siderurgia nacional. Ele se chamava Jean Antoine Félix Dissandes de Monlevade e desbravou essas terras, dando origem a nossa cidade. Pois bem. Mas o que ficou por trás dessa história, os elementos que compuseram a trajetória dele e o perfil desse homem, sobretudo os detalhes de sua vida e obra nunca foi amplamente divulgado.
Não por falta de interesse ou de cuidado. Pelo contrário. Muitos são os artigos, reportagens, citações em livros, declarações apaixonadas, entre outros escritos soltos que foram produzidos para falar mais do francês que chegou à região, provavelmente, em fins de 1818. Porém, todas essas informações importantes acerca do pioneiro Jean de Monlevade encontram-se desvinculadas umas das outras, algumas guardadas em documentos oficiais do Centro de Cultura e Memória da ArcelorMittal (unidades de Monlevade e Sabará), outras guardadas em cartórios, outras em livros, outras em fragmentos de jornais de época, etc.
Para tentar agrupar esses dados, divulga-los e ainda despertar o interesse por essa história, recebi o desafio proposto pelo diretor do A Notícia, Márcio Passos, para escrever um livro sobre a trajetória de Jean de Monlevade. “Um livro?”, pensei. E imaginei que essa tarefa iria dar muito pano para a manga. E deu. Após aceitar a empreitada literária, parti para pesquisas, leituras e releituras de documentos e textos que pudessem embasar a escrita dos passos desse engenheiro francês que chegou ao Brasil aos 28 anos de idade.
Como disse, apesar dos muitos textos sobre o francês, poucos foram os documentos oficiais encontrados durante a cata de informações a respeito de tão nobre homem. Isso, sem falar nos vários personagens que participaram da vida dele no Brasil: Guido Marlièrie, Barão de Catas Altas, Auguste Saint-Hilaire, entre outros tantos nomes. Então, parti para a imaginação para costurar toda essa trama, amarrando datas e personagens, acontecimentos e situações, realidade documental e ficção pura, orientado pela máxima do genial Garcia Marques: “Espero contar uma história que ninguém contou antes”.
O resultado foi o romance “Nas Terras Pesadas de Metais e Espantos”, com cerca de 150 laudas, onde são relatadas as aventuras e desventuras desse herói francês, que adotou o Brasil como pátria e que era respeitadíssimo por nativos e estrangeiros, por homens nobres e escravos.
Acredito que possa ter havido, sim, algumas pequenas falhas, até porque não sou historiador e tive pouco mais de um ano para compor a obra. Mas sem dúvida, esse é o primeiro romance sobre o pioneiro Jean de Monlevade e sua vida no Brasil do século XIX. Devo isso, sem dúvida, à iniciativa de Márcio Passos e ao custeio da pesquisa feito pelo Jornal A Notícia. Mas o que mais me emocionou foi descobrir tanta paixão desse francês por essa terra, tanta dedicação e empenho ao trabalho, além de seu empreendedorismo que tanto marca a Usina que ele criou. Até os dias de hoje.
Aos 45 anos de emancipação política, a cidade de João Monlevade pode se orgulhar dos seus quase 184 de história, se considerarmos que o Solar onde o pioneiro morou, (a Fazenda do Centro Industrial, pertencente à Usina) provavelmente, foi erguido em 1825. Além disso, a cidade também tem do que se orgulhar por ser uma das poucas mineiras fundadas por um francês. Acho que além daqui, apenas Guidoval e Marliéria, ambas oriundas dos feitos do militar Guido Thomas Marlièrie; Santo Hilário, por causa da passagem de Saint-Hilaire a uma pequena vila do Sul de Minas, Itabira, por causa de Raoul de Caux, nenhuma outra carrega sua origem nos passos de franceses na então província das Gerais. Bem. Isso é outra história, a qual não me arrisco muito a palpitar.
Porém, acho que o ano da França no Brasil, talvez um dos mais importantes eventos de 2009, iniciado no último dia 21 e marcado para terminar em 15 de novembro, não poderia passar em branco sem alguma comemoração na nossa Monlevade. Afinal, o evento vem para mostrar que é possível compartilhar valores, ideais, interesses e cultura, entre duas nações tão distintas e nem por isso menos próximas. Monlevade merece isso. E muito mais.
O letrista dos anjos
Conheci Marco Martino enquanto fazia uma matéria para o caderno Variedades do Jornal A Notícia, sobre o festival do Aço excelente iniciativa da Rádio Alternativa (em 2005 ou 2006). Ele estava na organização do evento, ajudando a selecionar as canções inscritas. Fiquei emocionado e com vontade de dizer a ele o quanto sou fã de seu trabalho. Não o fiz por achar a ocasião imprópria. Agora, escrevo aqui...
Pois bem! Foi em 1998, a primeira vez que ouvi falar desse camarada. Na época, eu estava com 15 ou 16 anos e através do amigo músico Daniel Bahia, fui apresentado a uma das mais fantásticas bandas de rock: República dos Anjos.
Eu era metido a escrever letras de músicas e arriscava alguns poemas também. Mas fiquei pasmo ao ouvir aquelas canções. "Ela me pediu um tempo/ perguntei se era para cronometrar/ disse que me amava/ mas que precisava de um tempo pra pensar". Foram os primeiros versos que ouvi na voz roqueira de Martino, depois de ter ficado paralisado com a introdução feita na guitarra...
Sentei no sofá de casa e ouvi o disco inteiro, na maior altura, prestando atenção naquelas letras e naquele som. Pensei: "Por que esses caras nao estouram?", afinal, a música deles é muito melhor que a de outras bandas que estão na mída. São coisas que só fui entender mais tarde.
Ainda nessa época fui a um show deles em Monlevade, junto com Insígnias Ducais (eita, isso tem tempo!) e fiquei novamente fascinado com aquela energia ao vivo. Infelizmente, logo depois disso, a banda deu um tempo e cada integrante partiu para voo solo. Acho que já está na hora deles voltarem...
Depois do meu primeiro contato com Martino, vez ou outra, trocamos idéias via MSN e foi numa dessas vezes que ele me apresentou outros trabalhos musicais, sendo que um deles - o CD Serenata- foi tema de um artigo escrito para uma disciplina no mestrado e muito bem recebido pela professora.
Para quem nãoo conhece o som do República dos Anjo, vale dar uma acessada no site http://palcomp3.cifraclub.terra.com.br/republicadosanjos e se deliciar com as canções, sobretudo, com as letras do Marcos Martino.
O letrista dos anjos é um dos principais ativistas e divulgadores da cultura de Alvinópolis, ao lado de Juninho, Geovanio e outros bambas. Ele ainda mantém os blogs http://www.alvinopolisquepensa.blogspot.com/ e http://www.marcosmartino.blogspot.com/, além de desenvolver trabalhos publicitários.
sexta-feira, 24 de abril de 2009
O homem do (e)terno cinza
Eu sei um segredo daquele cara de terno cinza e gravata preta, sentado na primeira fila para atendimento no Banco. Vocês nem imaginam. É um segredo bobo, eu sei. Mas como os segredos sempre mexem com a curiosidade, resolvi provocar um pouquinho. Então, aquele cara de terno cinza é um homem sério, mora sozinho num apartamento alugado e come farinha láctea antes de dormir. Se vocês olharem bem e repararem com atenção, há alguns farelinhos no paletó. Bem ali, perto da gola.
O nome dele é Fernando. O sobrenome eu desconheço. Mas sei de outras coisas. Quando criança, por exemplo, ele morava perto da casa da minha avó, mas não saía muito à rua como os outros garotos. Sempre magro, sempre tossindo muito, aparecia de vez em quando, mas a mãe dele logo o chamava: “vem pra dentro, senão constipa!”
Ah é. A mãe dele... que figura tétrica! Usava umas meias grossas até a barra da saia jeans e surrada, mesmo nos mais quentes dias de verão. Além disso, trazia nos ombros um ponche ou um xale cinza, cheirando a coisa guardada. Seus cabelos eram envoltos em rolinhos pequenos, multicoloridos e cheios de caspa. Ela não ria jamais.
O menino cresceu ouvindo sua mãe dizer que ele ia morrer de alguma doença braba se ficasse brincando com os outros moleques. Por isso, ele se resguardava em torno dela, tomando todos os tipos de remédios que se possa imaginar. Esse é o segredo dele. Não espalhem, por favor, porque detesto fofoca: Ele é um hipocondríaco radical. Mesmo sem nunca ter transado, mesmo sem nunca ter usado drogas injetáveis ou recebido sangue, acordou um dia jurando que estava com AIDS. Fernando sempre acreditava que poderia estar muito doente.
E temendo a iminência da morte, ele nunca tira o terno cinza. Fernando quer ser enterrado com ele e fica esperando a morte chegar a qualquer momento. Hoje, ele está ali, na fila do banco, para depositar o seu seguro de vida (coisa que faz desde os 16 anos). Observem que ele está sempre tomando um comprimido. São coquetéis de antiácidos e antigripais para evitar qualquer problema maior.
Fernando vai ser atendido agora. Se não me engano, vai limpar o suor das mãos depois que apertar a da atendente. Viram? Não falei! Ele faz isso desde novo. É para evitar que seja contaminado por alguma bactéria transmitida pelo toque dos outros. Agora ele vai sair. Segue seu caminho solitário, Fernando.
O que ninguém poderia imaginar, nem o narrador das linhas acima, é que depois que saiu do Banco, depois de buscar o resultado mensal do exame de sangue no laboratório, depois ainda de evitar qualquer contato com outra pessoa, depois também de tomar uma injeção de vitaminas A, D e E, Fernando foi atropelado por um ciclista e arrebentou a cabeça no meio fio, bem no centro da cidade. Morreu feito um passarinho, depois de chocar-se contra uma árvore no meio do temporal.
quinta-feira, 9 de abril de 2009
Sobre um quarto de século
O ano 2000 chegou e o mundo não acabou. Pelo contrário, outro mundo se abriu para mim: fui contratado como repórter deste então semanário. Essa história eu já contei. Mas quero registrar minha eterna gratidão e orgulho de ter entrado no mundo da escrita por meio do A Notícia, que completa na próxima segunda, 13, vinte e cinco anos.
Um quarto de século parece pouco. Mas é muito tempo se pensarmos em quantas pessoas passaram pela equipe de redação, quantas edições circularam, quantas fotografias foram tiradas, quantas pautas foram pensadas, quantas entrevistas feitas, quantas notícias alegres, quantas notas tristes... São vinte e cinco anos de uma vivência intensa junto da região do Médio Piracicaba, sendo fiel a princípios morais e ao tão respeitado compromisso com o leitor.
É preciso comemorar e festejar a data, com o orgulho dos campeões e o suspiro de quem sabe bem os caminhos que percorreu até chegar aonde chegou. Além disso é importante frisar que mais da metade dos 45 anos da história do município estão registrados nas páginas do jornal. Arquivos de ouro para a preservação da memória de nossa cidade.
Ninguém discorda que o jornal A Notícia é um dos mais importantes veículos jornalísticos da região. O reconhecimento veio com a certificação ISO e com os inúmeros prêmios e homenagens recebidos ao longo desses anos, sem falar nos seus recordes de vendagem nas bancas e, principalmente, pela capacidade de fomentar a opinião do povo, provocando debates e reflexões nas manhãs de terças e sextas-feiras.
Ainda estamos nos anos 2000. O mundo não acabou, apesar da crise batendo na porta e na aorta de muita gente. Eu não estou mais na redação, apesar de ocupar este espaço como colaborador. Mas o jornal continua agradando a uns, desagradando a outros tantos. Sempre cumprindo o seu papel fundamental: informar com precisão, apresentando edições, tanto bonitas de se ver quanto interessantes de se ler.
Parabéns a todos aqueles que escreveram e que ainda escrevem as linhas desta história. Parabéns aos leitores, aos colaboradores, aos jornaleiros. Parabéns aos parceiros, aos fotógrafos, aos chargistas, aos diagramadores, aos impressores, aos revisores. E sobretudo, parabéns ao Márcio Passos, que iniciou essa empreitada, matando leões diários para vencer as barreiras; parabéns também à Maria Cecília, sua filha, que dá continuidade a essa grandiosa obra.
sexta-feira, 3 de abril de 2009
Haicais ordinários
Tudo passa
como errante
nuvem de fumaça
II
Beijo tua boca
Sem beijar
teu travesseiro
III
Olha por que
a redonda bolha
é meio molhada?
IV
O Poema Sujo
é mais limpo
que a sua bondade
quinta-feira, 2 de abril de 2009
A casa de Oliver T.
No Papini
Fiquei feliz com a empolgação deles com um concurso literário promovido pela escola, além de ter apreciado bons poemas escritos por eles. Esse é o resultado de um trabalho digno de aplausos de todas as professoras e da equipe pedagógica da escola que incentivam as crianças a gostar de ler, além de criar seus próprios textos. Com leitores que mergulham no universo literário por prazer, dá para acreditar que o Brasil ainda pode ser o país do futuro!
No Papini II
- "Qual foi primeiro livro que você leu?"
- "Quantas crônicas você já escreveu?"
- "Escritor ganha muito dinheiro?"
- "Qual o seu poema preferido?"
Essas perguntas me deixaram muito feliz porque percebi que os meninos e meninas têm uma vontade grande de ler cada vez mais. Além disso, as crianças mostraram que é possível aprender a gostar de ler sem a obrigação chata de fichas de leitura ou coisa do tipo. Elas estão lendo porque gostam e porque querem. Estão de parabéns!
sexta-feira, 27 de março de 2009
Dez coisas para se fazer quando estiver à toa
2) Ouvir os Beatles tocando Something
3) Assistir ao Fabuloso Destino de Amelie Poulain
4) Esfregar o dedão do pé num tapete felpudo
5) Ler qualquer texto do Drummond
6) Ouvir Chico cantando Trocando em Miúdos
7) Assistir ao Chaves e não sentir culpa
8) Jogar fora os papéis que estão sobrando na gaveta
9) Rever fotos antigas
10) Sexo também é bom negócio. O melhor da vida é isso e ócio, como cantou o Baleiro!
Todos eles num só
Leia Alberto Caieiro!
Leia Ricardo Reis!
Leia Fernando Pessoa!
Eram quase oito
A mãe da moça tem medo da filha engravidar de novo. A jovem não tem boa fama na vizinhança. É chamada pelas demais senhoras de bom costume daquele bairro de famílias tradicionais de mulher de vida fácil. Vocês entendem, né? A pobre moça
Pobre? Questionam alguns. Mas ela desfila de grifes, cheira a perfumes franceses, come petiscos japoneses, roda em carros alemães e conquista homens do mundo inteiro. Já ganhou de presente um relógio suíço, bebe sempre uísques escoceses. De vez em quando, fuma unzinho vindo de São Luiz do Maranhão e não muito frequentemente, cheira pó colombiano. Era, como vocês podem ver, uma moça com aspectos universais. Tinha de tudo um pouco, de cada canto do mundo.
Mas a mãe dela não se importa com isso. Só tem medo mesmo de que a filha engravide de novo. O menino tem 10 anos. Fora uma gravidez difícil. A família do pai dela falou muito mal e a da mãe, nem se fala. Aliás, adolescente grávida e solteira é um prato cheio para o falatório dos hipócritas de plantão. Abandonada pelo namorado, a moça suportou na pele cada decepção. Foram nove meses de um martírio que ela mal pôde suportar. Mesmo assim, sobreviveu. Entre trancos e barrancos.
Hoje, ela tem 27 anos. Mas não parece. Ela aparenta ter mais. Deve ser por causa do constante ar de cansaço que ela mantém. Um ar de quem perdeu o sono, de quem perdeu as esperanças e se entregou à derrota. Reflexo da vida que leva, regada à baladas sem fim. Mesmo durante as segundas-feiras mais desanimadas, mas que para ela, eram cheias de clientes e de falsas animações.
A mãe cuida do neto. O neto esquenta o leite para a avó que tem medo de se queimar no fogão. Isso acontece desde o dia em que uma panela de óleo fervendo caiu sobre os pés dela. Ela sentiu os dedos do pé fritarem como torresmos e nunca mais acendeu o fogo de novo. A moça trabalha à noite para sustentar o filho e a mãe. Apesar do olhar cansado, o que chama a atenção é que os lábios dela estão sempre prontos para um beijo. Ainda que mal recebidos por bocas de todo o tipo.
Na rua, a vizinhança adora vê-la pela manhã. A filha de Odete põe o lixo para fora. Usa camisola frouxa e touca nos cabelos. A moça que vem da noite, veste bem. Acho que Prada, talvez. Presente de um gringo italiano. As duas se olham. A mesma idade. A mesma infância. A moça sorri para a amiga em trajes de dormir, que finge não ver. Olha para o outro lado, mas está morrendo de curiosidade para saber de onde a outra vem. Com quem terá saído? Com quantos se encontrou naquela noite?
Mesmo com as perguntas, não olha. Se olhasse, veria a outra limpar uma lágrima. Apenas uma. Lágrima com gosto de um tempo que não existe mais. Um tempo em que as duas brincavam juntas de pular elástico, de pique-esconde, de altinhas e outras brincadeiras mais. Ela lembra da época em que compravam picolés na venda do Sô Manel, na esquina da rua. O tempo passou. Sô Manel está morto. A vizinha de camisola não olha e nem dá atenção. E ela, chupa outras coisas a custa de dinheiro.
Ainda ali, as sete e quinze, ela olha a rua comprida e vê-se a si, andando de bicicleta com outras meninas. Agora, a rua está vazia. Não há mais nada a ser feito, a não ser dormir enquanto o dia acorda. Na cozinha, a mãe já não diz mais nada. Observa a filha recém-chegada. A moça dá bom dia e toma uma xícara de chá de camomila com calmantes para dormir mais e não pensar em nada. E a mãe, pede a Deus para que a filha não engravide de novo.
Antes de o sono chegar, ela vê o filho dormindo com o dedo na boca. Quer beijá-lo na testa, mas exita. Prefere deixar para depois, como sempre costuma fazer. Ela acha o menino bonito, aliás, ele se parece com alguém que ficou para trás. Alguém de quem ela nunca se esqueceu, mesmo depois de tudo que passou.
Já no banheiro, ela se esfrega embaixo d’água para retirar aquela pele de ontem. A mãe bate na porta e diz para não demorar porque ouviu no rádio que era preciso economizar. Vai faltar água hoje. Ela não está nem aí. Quer ficar limpa e dormir sem esperanças de sonhos coloridos. Pensou nele de novo e fechou a torneira. Secou as costas curtas, entrou no pijama e foi dormir. Eram quase oito.