segunda-feira, 25 de outubro de 2010

As tradições inventadas em Monlevade

João Monlevade, a minha cidade, a nossa cidade precisa reconhecer suas tradições. Ou melhor, precisa validá-las. O pensador Eric Hobsbawm (1991) afirma que quando não há valorização do que é tradicional, inevitavelmente, ocorre a invenção de outras tradições. Ele assegura que os costumes, quando não usados, acabam substituídos por outros, que muitas vezes nem se parecem com a realidade local: são inventados, para substituir os legítimos que estão adormecidos.
Uma cidade que não tem tradições é tristemente desnivelada. É vista por baixo. É pobre. Nossa cidade é carente de tradições culturais que possam elevar-lhe o nome junto às demais. O que caracteriza o município? Catas Altas faz vinho, Ouro Preto tem o Barroco, Alvinópolis tem a chita e nós? Bem, fazemos aço, é verdade. E o fazemos, em maior escala, desde 1827, quando chegaram os equipamentos ingleses que turbinaram a fábrica modesta de Jean Antoine Félix Dissandes de Monlevade.
Mas o aço que produzimos ocupa (e muito bem) o segmento econômico. É interessante pensar que o mundo conhece o fio máquina fabricado aqui por trabalhadores, que são nossos pais, parentes e irmãos. Mas nós, monlevadenses, desconhecemos a força cultural desse material.
Uma cidade sem tradição vira as costas para o progresso. Seria esse o motivo de nossa estagnação cultural? Por que não abraçamos os aços longos da Usina e o transformamos em nossa bandeira? Por que não há uma discussão sobre a produção, um seminário nacional de siderurgia realizado no município? Por que não há um festival cultural do aço? Por que não há oficinas diversas sobre o assunto? A população sabe como é feito o aço desta terra e que ganhou o mundo?
Mas lembrando de Hobsbawm (1991), o que chamamos de tradição, aqui, sinceramente, não é nosso de fato. Não faz parte e nem corresponde às nossas raízes. Pense bem: Nosso maior evento cultural é uma cavalgada... isso, numa cidade que tem área mínima de zona rural. Por que gostamos tanto de encontro de motociclistas e desconhecemos nossos artistas plásticos?
Precisamos construir nossas tradições. Entender de onde surgiram nossas raízes para fazer disso a bandeira de nossa cidade. Enquanto desconhecermos essa identidade, essa memória cultural, continuaremos aplaudindo as invenções que se tornaram tradições em Monlevade.

* Hobsbawm, Eric. A invenção das tradições (1991).

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Nossa Memória Virtual


O advento da tecnologia digital é também um avanço para as questões ligadas ao memorialismo e à coleção de dados e informações, que, embora despretensiosamente, tornam-se importantes elementos de rememoração. Explico. Na era digital em que estamos inseridos, o desejo de reunir e gravar as informações que nos rodeiam é cada vez maior.
Hoje, qualquer aparelho de celular é provido de uma câmera digital, que está pronta para o registro de momentos especiais. Às vezes, por causa deste acesso facilitado a uma câmera, todo momento torna-se especial. Basta clicar e pronto.
Aliando isso às redes sociais, através da Internet, como Orkut, Twitter e blogs dos mais variados tipos, a memória faz-se cada vez mais presente. Isso, por causa da facilidade de compartilhar informações pessoais com o resto do planeta.
Muito em função da Pós-Modernidade, que nos atropela com sua velocidade e com a pulverização da materialidade, o indivíduo sente necessidade de manter-se vivo, de fazer-se presente neste mundo virtual que nos envolve.
Talvez por isso, explica-se o excesso de exposição da individualidade: a escrita de blogs, a postagem de mensagens estritamente pessoais via Twitter, o compartilhamento de imagens e fotografias no Orkut e no Facebook, além do registro de vídeos e a divulgação dos mesmos através do Youtube. É como se precisássemos de nos revelar, revelando nossas emoções e experiências.
A era digital chegou e por mais atual que ela seja, representa também e cada vez mais claro, um desejo de arquivar a vida por meio da exposição da individualidade. Nunca se viu tanto autorretrato como agora. Nunca se viu tanta escrita de si, tanta exposição pessoal, tantos registros de memória.
A pós-modernidade luta contra a falta de tempo e de espaço. Talvez por isso, bastam 140 caracteres para contar um fragmento da existência pessoal. A maioria das pessoas que utilizam esses recursos de coleção da memória está em busca da elaboração de um grande livro da vida, cujas páginas são redigidas por fragmentos no universo virtual das redes sociais.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A escrita de nossa história

A nossa historia é escrita todos os dias, ao recolhermos, em nossos arquivos, fatos e acontecimentos pessoais ou coletivos que marcaram os momentos vividos.
Desde a época das cavernas, o homem tenta se arquivar. As pinturas em pedras e cavernas representam a mais pura necessidade de registrar a história. Os animais reproduzidos em tinta vermelha e aquelas figuras parecidas com humanos compõem uma narrativa, para que, num futuro, alguém compreendesse aquela história.
Depois, com a invenção da imprensa, os homens começaram a registrar seus feitos em diários e a revelar-se por meios de longas correspondências. Muitas dessas informações depois, tornaram-se documentos preciosos.
Hoje, a escrita da história é uma das características da chamada era pós-moderna, na qual estamos inseridos. Oprimidos pela fragmentação, pelo excesso de informações e pela velocidade que assola nossos dias, agarramos cada vez mais às nossas memórias, transformadas em tabuas de salvação contra o esse mundo, em que a superficialidade, o instantâneo e as grandes verdades caíram por terra.
E, é exatamente na Pós- Modernidade, que as escritas das memórias pessoais ganham força. Sejam elas biográficas ou autobiográficas, textos do gênero ganham cada vez mais espaço nas prateleiras de livrarias e também nos jornais e revistas. O importante Folha de S.Paulo traz um obtuário interessantíssimo. Baseado na mesma fórmula do grande The New York Times e de alguns jornais londrinos, um repórter escreve, em poucas linhas, a biografia de algum falecido (famoso ou anônimo, não importa) em estilo literário, destacando detalhes da personalidade do indivíduo, tão interessantes, que o aproxima de um personagem de ficção. Eu adoro ler e recomendo. Inclusive, já até me arrisquei a escreve alguns.
A necessidade de redigir sobre nós mesmos, de deixar marcas na história é uma característica da coleção pessoal, exigida desde os tempos imemoriais. Os seres humanos têm carência de lembrança, precisam desse apego ao passado, desse encontro com o que foram um dia. Assim: a memória é nosso maior banquete. Deliciemo-nos.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Memorialismo pulsante na artéria

João Monlevade, apesar dos poucos 46 anos, é uma cidade com uma veia memorialística forte demais. Já disse isso em outras ocasiões e volto a explicar o motivo: a cidade foi dilacerada com a extinção de toda uma região, a Praça do Mercado e adjacências, onde as vivências de grande parte da população local ficaram enterradas na saudade. E, isso é, notoriamente, uma dor profunda na alma do monlevadense.
Já falei também neste espaço, que Francisco Barcelona e o professor Dadinho são os arcontes da cidade. São os guardiões dos arquivos e intérpretes deles. Já falei ainda, do jornal O Morro do Geo e do jornalista Marcelo Melo, um dos primeiros a resgatar esse passado tão vivo quanto presente de nossa cidade. Coramar Alves e Francisco Bernardino também colecionam causos e vivências sobre o passado de João Monlevade. Agora, descubro o trabalho do advogado Sebastião Eustáquio, que pela Internet, mantém um blog em que fala também da cidade antiga, chamando a atenção para locais históricos. Tudo muito interessante.
Outro dia comecei a refletir sobre uma questão: a Usina, por motivos de sua expansão, há cerca de 25 anos, precisou ocupar a Cidade Alta, em nome do progresso e do desenvolvimento. Será que, com as novas obras de duplicação da capacidade de produção, outras partes da cidade também não poderão ser extintas? Rua dos Contratados? Região do Social Clube? Antiga “vila dos engenheiros?” E se a mudanças do presente, com as novas obras, trouxerem novos impactos ao patrimônio municipal? Sim, eu sei: o progresso tem dessas coisas mesmo. Mas, será que a história vai se repetir?
Na verdade, a memória, em Monlevade, tem grandes particularidades. Uma delas, talvez seja, justamente, o desejo de que aquele tempo, vivido no Centro Industrial de antigamente voltasse de novo. Não sei o que isso significa ou o que representa. Lembro de Freud, num estudo em que revela que todo colecionador tem pulsão de morte. Grosso modo, o genial psicanalista afirma que quem coleciona algo, tem tanto medo de ser esquecido, que vai arquivando o presente e tudo o quanto pode salvar, enquanto a vida não lhe escape dos dedos. Talvez, por medo de um dia, a história tornar a se repetir, o monlevadense tem essa mesma pulsão, esse desejo de amar demais o passado e se esquecer de olhar para o presente e para o futuro. Vamos seguir em frente!

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Memórias XVIII - Esquecer para lembrar

O escritor argentino Jorge Luís Borges tem um conto interessantíssimo sobre a memória. “Funes, o Memorioso” narra a história de um homem que, após sofrer uma queda, parou de esquecer. Depois do acidente, ele se lembrava de tudo o que tinha visto, ouvido e vivido, sem deixar escapar um detalhe sequer. No entanto, a “doença” da memória o deixou com a incapacidade de pensar. “Suspeito, entretanto, que não era muito capaz de pensar.Pensar é esquecer diferenças, é generalizar, abstrair’, afirma o narrador.
Imerso nesta constante memorização, Funes não refletia, não selecionava as informações para que pudesse lembrar depois. O excesso de memória mata a reflexão. Não adianta iniciarmos uma longa e interminável rememoração de tudo o que se passou, sem algum critério mínimo de organização.
Não adianta, como a personagem do conto, nos transformarmos em um banco de informações e dados preciosos a respeito de nosso passado, sem no entanto, lançar sequer um olhar de crítica para ele. Hoje, vivemos num mundo tomado de informações: jornais, revistas, sites, blogs, redes sociais, entre outros elementos nos bombardeiam, a toda hora, com tantos dados.
No entanto, é preciso filtrar, reciclar, organizar e criticar para que a memória seja, então, valorizada de fato. Não adianta nos tornarmos enciclopédias repletas de saudosismo e nada mais. Até porque, o memorialismo não é feito somente de coisas aprazíveis. A memória, além da doce rememoração, pode também trazer o cheiro pobre do passado. Mas insistimos em esquecer desses percalços. Como ferramenta de felicidade, alimentamos uma falta daquilo que julgamos ter amado um dia.
Esquecimento e lembrança complementam-se. Precisam um do outro. Estão unidos numa interdependência fora do comum, pois um não vive sem o outro. Neste sentido, apesar do ridículo obvio, é preciso esquecer para lembrar. E se não nos esquecermos, como podemos fazer uma seleção daquilo que, de fato, merece figurar nas listas de reminiscências? Como valorizar os detalhes importantes de nossa história, se insitimos em lembrar sempre das mesmas coisas? Sim. A memória daquilo que está sempre sendo lembrado, torna-se banalizada. Esqueçamos. Para então lembramos depois.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Memórias XVII - Livro de receitas

Em toda família há um livro de receitas antigo. O precioso compilado de “modos de fazer” guloseimas, herdado da avó pela mãe e que deverá será herdado pela filha, é o registro gastronômico de várias gerações. Esse livro tem informações que ultrapassam a fronteira dos anos. E é mágico. Assim, um dia, cinquenta anos depois, a bisneta aprende a fazer os pasteizinhos de queijo que eram a especialidade da sua bisavó. E talvez, ela os torne ainda mais saborosos.
A partir desse exemplo primário, percebe-se a dimensão que os registros históricos têm em nossa vida. É preciso respeitar essas questões, pois elas contribuem para a composição de toda uma memória e também de uma história. Ressalta-se a importância da preservação dos documentos (no caso, o livro de receitas). Mas também, é preciso revisá-los, mergulhar a fundo nos saberes ali descritos, tentando compreender o que de fato eles representam. O pensador francês, * Michel Foucault afirmou certa vez, que a história mudou sua posição acerca do documento: ela considera como sua tarefa primordial, não interpretá-lo, não determinar se diz verdade nem qual é seu valor expressivo, mas sim trabalhá-lo no interior e elaborá-lo (...).
Resumindo, a grosso modo, o que disse o filósofo, o documento (o livro de receitas) não pode ser imaculado, algo intocável. Pelo contrário, deve ser, inclusive, questionado, incrementado, mexido e testado. Assim, nossa memória precisa ser reorganizada de forma crítica. Não se pode enaltecer tudo o que foi registrado, sem estabelecer m ponto de vista crítico.
Em vez de bater palmas para o que ficou do passado (e só porque ficou) é mais interessante, entender os rastros e as marcas deixadas por esse objeto ao longo dos anos. A sua constituição, a sua importância e as razões que o tornaram tão célebres. Vejamos. Depois de admirar o livro de receitas da avó, é preciso ver se os ensinamentos levam, realmente, a pratos saborosos.
Há muitos documentos intocáveis e que são elevados à categoria de obras (ou feitos) fundamentais. Mas, talvez, ninguém “ousou” saber qual de fato é a sua razão de ser. Nesse sentido, a revisão de nossa memória deve ser feita constantemente. Elogiar e reconhecer a importância dos documentos é fundamental para nossa condição de memorialistas. No entanto, é necessário rever essas fontes, desconfiando das coisas antigas e não apenas aplaudindo, sem interpretar e sem dar ouvidos ao contraditório.
* FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro : Forense-Universitária, 1987.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Memória XVI Flashes

A memória não é voluntária. Precisa de um “start” para ser ativada, precisa de um motivo para vir à tona e tocar a superfície das águas profundas, nas quais está mergulhada. Assim, ela não tem vontade própria, não surge em nossos pensamentos do nada, de repetente, não mais que de repente. Sempre há necessidade de um gatilho, de um flash inesperado e que desperte essas recordações.
Assim, caminhando pela avenida no fim de tarde, sentindo calor por causa da falta de chuva nesta época do ano, ele pensa nas contas a pagar. Pensa na fatura do cartão de crédito e fala de si para si: “Preciso diminuir esses gastos”. Está concentrando, os passos seguem rápido porque já são dez para as seis e é preciso chegar à lotérica antes que ela feche.
Mas aí, eis que de repente, uma brisa desatenta o pega de surpresa, com um perfume que ele não sentia há tempos. Em frações de segundos ele vasculha os arquivos cerebrais e descobre numa prateleira empoeirada, a lembrança de Maria, a primeira namoradinha.
Eram jovens demais. Ele tinha 14, talvez 15 anos. Ela não muito mais que isso. Mas o perfume que ela usava era aquele, como era mesmo o nome? Nesse instante veloz, nesse assalto repentino de memória, ele diminui o ritmo dos passos e se esquece da conta a pagar. Em seus olhos está Maria, seus cabelos pretos, compridos e molhados, penteados com as pontas dos dedos... Por onde anda hoje? Terá casado? Terá morrido? Faz anos... Mas o perfume, inconfundível, era o mesmo. Esse perfume que ele tanto adorava e que estava adormecido em algum lugar ermo da lembrança voltou a
E a saudade doeu, mas trouxe uma pontinha de prazer nessa recordação: ele e Maria, há tanto tempo, brincando de se amar: e era por toda a vida! Tudo era intenso, a vida era bebida depressa e com a sede dos que amam tão jovens... Maria se foi e ele também nem se lembrava de que fora um rapaz apaixonado um dia.
Bastou o perfume para lembrar. Aquele cheiro adocicado que inundou sua vida, naquele fim de tarde em que a chuva insistia em não chegar e o calor e o tempo seco deixavam tudo mais difícil. O perfume que veio com a brisa, inundou sua alma de memória. E ele agora estava inebriado de nostalgia, do tempo bom em que era rapaz e não tinha com o que se preocupar, a não ser, amar Maria e seus cabelos molhados. Ele riu ao deliciar-se de novo com o amor antigo, o amor infante e seguiu até a lotérica, mas agora, a passos mais lentos.

Memória XV - Como amendoins

Eu me lembro do seu Zé do Amendoim. Nunca esqueci dos seus “torradinhos”, vendido no campo do Vigilante, no bairro Santa Cruz, onde, na infância, passava dias na casa da minha tia. Seu Zé, marido de Dona Judite, salgadeira de mão cheia, tinha um carrinho cheio de surpresas. Amendoins torradinhos, salgadinhos e que enchiam minhas tardes de alegria.
Seu Zé é muito importante para mim. Aliás, ele mora em mim e ocupa lugar privilegiado em minha memória. Nunca esqueci do gosto do seu amendoim, torradinho, que comia durante os jogos de futebol no campo do Vigilante no Santa Cruz. Nunca mais comi um amendoim como aquele. E duvido que alguém saiba fazer um igual. Nem os maiores mestres da culinária...Não adianta insistir: como aqueles, nunca mais. Isso, porque o sabor que a boca da infância provou, não poderá ser sentido de novo. Coisas proustianas...
Seu Zé do Amendoim está presente e vivo em minhas lembranças de menino para sempre. Com suas mãos negras, ele me afagava a cabeça e me presenteava com um saquinho mágico de amendoins. A lembrança do Seu Zé e de seus amendoins permanece comigo, aonde quer eu vá.
Nos tempos do mestrado em São João del Rei, conheci também, um outro vendedor de amendoins. Ele andava (e ainda deve andar) pelos bares são-joanenses, vendendo a guloseima. Fazia um tipo: cachecol, boina e paletó e uma bolsa com amendoins. Parecia a figura de um avô de 80 anos. Pedia licença, sentava-se à mesa, contava um causo. “Juscelino tomou café aqui, se não me engano, sentado mais ou menos onde você está. Tancredo só gostava de tomar café no balcão”, dizia, para contar que aquele bar já foi um restaurante no passado em que políticos famosos costumavam reunir-se. E ia revelando suas memórias da cidade histórica, falava da vida do lugar e ia nos envolvendo com sua prosa, até a gente comprar uns dois ou três pacotes de amendoins... Eram gostosos, mas nunca como os de seu Zé. O legitimo torradinho que nunca mais comi depois que cresci.
Cada cidade tem os seus personagens célebres e que compõem, mesmo sem querer, a vida das pessoas. São aqueles verdureiros, os garçons, os entregadores de leite, os donos de padaria, as personalidades que ficam vivas para sempre na memória. O vendedor de amendoim de São João é desse tipo. Mas não é como seu Zé, do Vigilante, no Santa Cruz, que está impregnado em mim, vivo, na saudade de seus torradinhos com os quais deliciava-me na infância. A memória é como esses amendoins.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Memorialismo e política


É senso comum dizer que o povo brasileiro não tem memória política. Por isso, talvez, sejam sempre reeleitos políticos maculados pela corrupção e pelos esquemas sórdidos de beneficiamento próprio. E isso está ligado à falta de um memorialismo revisitado e comprometido com as questões de nosso tempo.
Ao aproximarmos das eleições para as esferas estadual e federal uma pergunta não quer calar: Você se lembra em quem votou para deputado estadual e federal, senador, governador e presidente nas eleições de 2006?
Essa pergunta é séria e pertinente e tem a ver com o nosso fraco e desinteressado olhar para questões políticas e públicas, envolvendo, sobretudo, o legislativo estadual e federal. Enquanto nossa memória não for exercitada, ou seja, enquanto esquecermos em quem votamos, deixando de acompanhar a atuação deste político, projetos votados e propostas de leis, entre outras, vamos continuar omissos e repetindo as lamúrias de que os políticos não fazem nada. E isso, não é bem assim. Vale a pena acompanhar as ações através de sites da Assembléia Legislativa, do Senado e da Câmara dos Deputados.
Eu tenho um amigo que, outro dia, me mostrou todos os comprovantes de votação desde a primeira vez em que ele foi à urnas, em 1989. E o mais interessante, ouvir as explicações dele sobre as razões que o levaram a escolher esse ou aquele político. Além disso, ele falou que tem o hábito de olhar, pelo menos uma vez ao mês, o que o seu político anda fazendo, através dos sites e noticiários. Exemplo a ser seguido.
Ações simples como essa, nos tornam mais preparados para exercemos a cidadania consciente. A memória nos ajuda a sermos seletivos e preparados para manifestar os nosso apoio e nossa opinião a respeito de um candidato que mais tarde se tornará um político com voz ativa em questões importantes de nosso Estado. A escolha democrática de um político é fundamental. Mas também pode ser muito perigosa, quando feita sem responsabilidades e sem compromisso. Uma pesquisa mínima sobre o passado de candidatos novos e velhos da política seria o primeiro passo para votar de forma consciente. Pensemos nisso.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Algumas questões sobre o memorialismo

Depois de 12 semanas apontando a importância e a grandiosidade de nossa memória, nossos temas tão caros, ficam ainda algumas questões: qual olhar podemos lançar sobre a nossa cidade se a memória não tem um espaço definido? Quando os costumes e tradições ficam na área de um saudosismo válido, mas não suficiente? O que fazer para que João Monlevade avance na economia, no crescimento e na geração de emprego e renda, mas não se esqueça de legitimar suas raízes? O que fazer para que essas não sejam apenas evidenciadas por um sentimento ufanista e longínquo?
Como disse em outros textos, fala-se muito em memória, mas não há meios suficientes para legitimá-la, para edificá-la e transformá-la em algo concreto e justificado com a força de suas entranhas.
Vejamos. O lactário, as casas de madeira, a escadaria, os boieiros, os shows da rádio cultura, a praça central, as barbearias, os bares, as vivências os apitos da Usina e todo o resto daquela época, compõem uma saudade, representam uma lacuna que ainda vaga pelas trilhas da lembrança, que ainda grita, agita e se agiganta em ecos. Mas, para quem ouvir? E quando as vozes se calarem?
Também já escrevi aqui que é preciso reunir, catalogar, registrar, e transformar essas informações em ações para consultas e efetivá-las em referência da nossa identidade. Tomemos o exemplo do Centro de Cultura e Memória da ArcelorMittal. O hotel Cassino foi transformado e otimizado como museu que guarda o acervo de tudo o que diz respeito à unidade local da gigante mundial do aço. Ali estão reunidos documentos históricos, recortes de jornais, boletins informativos, fotografias, livros, registros de atas, entre outras pegadas que contam a história da empresa no município ao longo de 75 anos.
Por que não pensar em um centro de cultura e memória municipal? Um museu da imagem e do som? Onde pudessem ser registradas narrativas de nossa cidade, onde pudessem estar reunidas, fotografias, recortes, textos, objetos e demais objetos que possam contar a nossa história? Podemos avançar para o futuro quando conhecemos bem o nosso passado, que ainda respira forte e com bastante freqüência, na alma de João Monlevade.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Memória XII – Os pioneiros

João Monlevade é uma cidade que tem o pioneirismo em suas veias. Essa vocação para a inovação e para o avanço surgiu há quase duzentos anos, com a chegada do francês Jean Antoine Felix Dissandes de Monlevade, por volta de 1820. Não deve ter sido fácil para ele cruzar o Atlântico numa viagem penosa por cerca de 3 meses.
Além das dificuldades da travessia, imagino os desafios vividos por Jean de Monlevade nos primeiros tempos no Brasil: Diferenças de clima? De cultura, costumes? De linguagem? Nada disso foi entrave para ele, que vislumbrou o futuro edificando uma fábrica no quintal do seu Solar que se tornou referência para toda Minas Gerais.
Ok. Essa história não é segredo para ninguém, mesmo não sendo tão difundida em nosso município. O que chama a atenção é o que aproxima Jean Felix Dissandes de Monlevade com outro estrangeiro, o luxemburguês Louis Jaques Ensch. Ele chegou aqui quando a cidade estava engatinhando e veio com a missão de fechar a usina, pois essa não correspondia às expectativas. No entanto, o engenheiro vislumbrou possibilidades e arriscou na tentativa de reerguer a fábrica, saldando dividas e iniciando uma produção de qualidade.
Além disso, sob a batuta do maestro Ensch, começou a verdadeira transformação local, com a construção das vilas operárias, do centro velho, do Hospital Margarida, do lactário e de tudo o que deu origem ao que a cidade representa hoje.
Os dois pioneiros, Jean “Ensch” e Louis “Monlevade”, são pioneiros de tudo nesta cidade e suas memórias devem ser perpetuadas. Eles estão sepultados no Cemitério dos Escravos, que fica em frente ao Social Clube. Tamanho era o desejo de permanecerem aqui foi que ambos preferiram ser enterrados na terra que edificaram.
É preciso olhar para esses homens, para essas vivências. Homenageá-los, estuda-los. Preservar suas biografias. Até mesmo, para que sirvam de exemplo para que outros inovadores possam surgir e também fazer história. O momento é agora. Estamos diante de um processo de crescimento, com o aumento da capacidade de produção da Usina (a mesma que deu origem a tudo) e o caminho está aberto para novas conquistas. Só não sabe quem não quer.

Memória XI - Os arcontes



Um dos maiores nomes da filosofia contemporânea, o argelino Jacques Derrida, em seu livro “Mal de Arquivo”, teoriza sobre a função dos guardiões da memória. Segundo o pensador, esses, que são chamados arcontes não eram responsáveis apenas pela segurança física do depósito e do suporte. Cabiam-lhes também o direito e a competência hermenêuticas. Tinham o poder de interpretar os arquivos. Depositados sob a guarda desses arcontes, estes documentos diziam, de fato, a lei: eles evocavam a lei e convocavam a lei. Para serem assim guardados, na jurisdição desse dizer a lei eram necessários ao mesmo tempo um guardião e uma localização. Mesmo em sua guarda ou em sua tradição hermenêutica, os arquivos não podiam prescindir de suporte nem de residência.[1]
Em Monlevade também há pessoas que se preocupam em guardar os documentos de memória em suas residências, como se guardassem um tesouro, além de interpreta-los. Cito dois, cujos trabalhos conheço de perto: O escritor e professor Geraldo Eustáquio Ferreira, (Dadinho) e o escritor e fotógrafo Francisco de Paula Santos (Barcelona). Tanto um quanto o outro possuem invejável acervo que compõe um panorama da história da nossa cidade.
Dadinho escreve memórias e possui diversos registros históricos, fotos, diários e livros. Além de possuí-los, sabe também (e tão bem) interpreta-los pelo valor que possuem. Isso o torna um detentor do conhecimento, um arconte legítimo de nossa memória local. Francisco é fotografo e possui, além das imagens de uma Monlevade que passou, também tem em sua propriedade, um vasto arquivo, composto, sobretudo, por exemplares de jornais, revistas, livros e demais impressos publicados na cidade ao longo de trinta anos pelo menos.
Essa análise, a “grossíssimo modo”, vem em forma da divulgação do trabalho voluntário desses homens, que pesquisam, registram, arquivam, protegem e interpretam a memória. Imagino Monlevade no futuro, com um centro de memória em pleno funcionamento, onde se poderá consultar as informações do passado. Passado que hoje é presente, diga-se de passagem. O acervo desse centro está sendo construído desde já.
Os guardiões da memória são tão importantes e necessários quanto os próprios registros. Com eles, os arquivos estão resguardados. E, por serem os responsáveis por esse material, eles têm o poder de avaliá-los, julgá-los, classifica-los. O parecer do arconte sobre a história e a memória torna-se fonte de conhecimento para o futuro.

[1] DERRIDA, Jacques. Mal de arquivo. Uma impressão freudiana. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2001.p.7.

Memória X – Nosso patrimônio imaterial



Imagine se nossos saberes forem esquecidos? Os costumes de nossa gente, o modo como vivemos nossas histórias? Imagine se nunca mais lembrarmos daquela cantiga que nossa mãe, avós e tias sempre cantaram? Agora, imagine se começarmos a esquecer de nossas raízes. Lembre-se que raiz tem dois significados básicos: um, é o de sustento, aquilo que dá vida, equilíbio. O outro é o de origem, de nascimento, de surgimento. Os dois termos se complementam de alguma forma. Por isso, não podemos deixar que morram os costumes e tradições monlevadenses, patrimônios imateriais de nosso povo.
Essa riqueza não pode ser tocada, guardada num cofre, ou armazenada em potes de barro ou de ouro. Mas, nem por isso, deixa de ser uma preciosidade, digna de admiração e respeito. Essas belezas já estão incorporadas à cultura local e, talvez por isso, não sejam tão facilmente reconhecidas. Por exemplo, as canções do Congado, das Guardas de Marujo, as festas de Reis, a folia da Vaca Mineira, as festas religiosas de São Sebastião, Santa Rita e São José Operário, a coração de Maria em maio, as cantigas centenárias da Família Alcântara são algumas das riquezas culturais de João Monlevade.
Além disso, não se pode esquecer das histórias da cidade, como os da antiga Usina, por exemplo. Meu pai faleceu há um ano e dois meses. Com ele, morreram uma série de lembranças da antiga “Companhia”, como ele se referia à gigante ArcelorMittal. Perdi a chance de gravá-lo narrando sua forma de trabalhar como maçariqueiro nos idos de 1940, quando aos 15 anos de idade foi fichado como auxiliar de solda.
Ele tinha na memória, fatos da época. Sabia o nome e a função dos companheiros antigos, sabia como era a disposição da Usina, a localização exata dos escritórios, bem como o nome dos encarregados e pequenas histórias sobre eles. Morreu meu pai, morreram essas lembranças que não foram registradas.
Para que outras memórias não desapareçam, é necessário valorizá-las como patrimônio imaterial. Aquele que não pode ser tocado, guardado em caixas ou dependurado na parede. São vivencias e experiências de uma época, de uma vida que devem ser compartilhadas com a geração que virá. Somos assim: homens de memória e precisamos delas para sobreviver.

terça-feira, 27 de julho de 2010

A alma encantadora das ruas

Memória IX – A alma encantadora das ruas

Tomo o título emprestado do grande cronista João do Rio, cujo livro homônimo a esta, revela histórias das ruas do Rio de Janeiro do século XIX. Assim, acredito que poderia haver algo semelhante por aqui. As ruas de Monlevade precisam ter suas memórias registradas, através de um livro, cartilha ou revista. Afinal, quem são as pessoas que nomeiam logradouros por onde passamos todos os dias? Qual é a história dessas pessoas que entraram para a história municipal como personagens célebres?
Isso não se trata nem de uma questão para o futuro, mas mesmo para o presente. Será que a maioria da população sabe quem foi Gomes Batista, Ricardo Leite, Geraldo Soares de Sá, Geraldo Miranda, Lucindo Caldeira, entre outros? E o que eles fizeram para nomear as ruas da cidade? Desculpe a ignorância, mas eu não sei.
Por favor, amigos, familiares ou pessoas mais informadas do que este colunista, não me entendam mal. Não se trata, aqui, de discutir os méritos desses, mas de prestar um serviço importante para a preservação da memória da cidade, incluindo, a divulgação da biografia deles junto à comunidade.
Isso, também evita, que ocorra a triste mudança de nomes, tão comuns em tempos de desvalorização da memória. Afinal, não faz o menor sentido uma rua ter seu nome trocado por outro, depois de anos sendo chamada assim. É interessante pensar a respeito. Imagine você, se a avenida Wilson Alvarenga trocasse de nome? Como ficariam as referências? Falando nisso, será que todo mundo sabe quem foi Wilson Alvarenga? Será que a geração mais nova sabe que ele nasceu em Barão de Cocais e foi o primeiro prefeito de João Monlevade, pouco depois da emancipação?
O amigo e professor Dadinho elaborou, na revista sobre os 30 anos do bairro República, um dossiê intitulado: “Conheça o Patrono de Sua Rua”, interessante registro sobre quem foram os presidentes, seus feitos e curiosidades dos homens que nomeiam as ruas do bairro. Vale a pena conhecer.
Não se deve esquecer quem foram os heróis de nossa história. É por essas e outras, que é importante que se faça o registro desses nomes, sua trajetória como homens, suas ações e projetos para que esses não se percam com o inevitável passar do tempo.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

DECLARAÇÃO DE VOTO

Este texto é de Frei Beto, que achei interessante e que nos força a reflexão. Acredito que esse seja mesmo o caminho!
Voto este ano, para presidente da República, no candidato decidido a implementar reformas estruturais tão prometidas e jamais efetivadas: agrária, tributária, política, judiciária. E que a previdenciária e a trabalhista não sejam um engodo para penalizar ainda mais os trabalhadores e aposentados e beneficiar grandes empresas.
Voto em quem se dispõe a revolucionar a saúde e a educação. É uma vergonha o sucateamento do SUS e do ensino público. De 190 milhões de brasileiros, apenas 30 milhões se agarram esperançosamente na boia de salvação dos planos privados de saúde. Os demais são tratados como cidadãos de segunda classe, abnegados penitentes de filas hospitalares, obrigados a adquirir remédios onerados por uma carga tributária de 39% em média.Segundo o MEC, há 4,1 milhões de brasileiros, entre 4 e 17 anos, fora da escola. Portanto, virtualmente dentro do crime. Nossos professores são mal remunerados, a inclusão digital dos alunos é um penoso caminho a ser percorrido, o turno curricular de 4 horas diárias é o verniz que encobre a nação de semianalfabetos.Voto no candidato disposto ao controle rigoroso de emissão de gás carbônico das indústrias, dos pastos e das áreas de preservação ambiental, como a Amazônia. Não se pode permitir que o agronegócio derrube a floresta, contamine os rios e utilize mão de obra desprotegida da legislação trabalhista ou em regime de escravidão.
Voto em quem se comprometer a superar o caráter compensatório do Bolsa-Família e resgatar o emancipatório do Fome Zero, abrindo a porta de saída para as famílias que sobrevivem à custa do governo, de modo que possam gerar a própria renda.Voto no candidato disposto a mudar a atual política econômica que, em 2008, canalizou R$ 282 bilhões para amortizar dívidas interna e externa e apenas R$ 44,5 bilhões para a saúde. Em termos percentuais, foram 30% do orçamento destinados ao mercado financeiro e apenas 5% para a saúde, 3% à educação, 12% a toda a área social.
Voto no candidato contrário à autonomia do Banco Central, pois a economia não é uma instância divorciada da política e do social. Voto pela redução dos juros, a desoneração da cesta básica e dos medicamentos, o aumento real do salário mínimo, a redução da jornada semanal de trabalho para 40 horas.
Voto na legalização e preservação das áreas indígenas, de quilombolas e ribeirinhos, no diálogo permanente com os movimentos sociais e repudio qualquer tentativa de criminalizá-los, nas iniciativas de economia solidária e comércio justo, na definição constitucional do limite máximo de propriedade rural.
Voto no candidato convicto de que urge reduzir as tarifas de energia destinada ao consumo familiar e de uso de telefonia móvel. Disposto a valorizar fontes alternativas de energia, como a solar, a eólica, a dos mares e lixões etc. E que seja contrário à construção de termoelétricas e hidrelétricas nocivas ao meio ambiente.Voto no candidato que priorize o transporte coletivo de qualidade, com preços acessíveis subsidiados; exija a identificação visível dos alimentos transgênicos oferecidos ao consumidor; impeça a participação e uso de crianças em peças publicitárias; e condene veementemente o trabalho infantil.
Voto no candidato decidido a instalar a Comissão da Verdade, de modo a abrir os arquivos das Forças Armadas concernentes ao período ditatorial e apurar os crimes cometidos em nome do Estado, bem como o paradeiro dos desaparecidos.
Voto em quem dê continuidade à atual política externa, de fortalecimento da soberania e independência do Brasil, diversificação de suas relações comerciais, apoio a todas as formas de integração latino-americana e caribenha sem a presença dos EUA; direito de o nosso país ter assento no Conselho de Segurança da ONU; de repúdio ao criminoso bloqueio dos EUA a Cuba e à instalação de bases militares estadunidenses na América Latina.
Voto, sobretudo, em quem apresentar um programa convincente de redução significativa da maior chaga do Brasil: a desigualdade social. Este o meu voto. Resta achar o candidato.

(Frei Betto, semana de 18 a 24/04/2010, vários jornais do Brasil)

Memória VIII – A Memória como cultura


A memória é um dos elementos culturais mais importantes de um povo. Saber preservar sua origem, conhecer sua história e transmiti-la a gerações futuras são elementos estruturais para o desenvolvimento e para a soberania. Enquanto patrimônio cultural, a memória reforça as bases do pensamento coletivo e torna-se referência para a comunidade local.
Em João Monlevade, a memória deve ser encarada sob esse viés: é um dos muitos aspectos que compõem a cultura municipal. Tanto que há, na cidade, um memorialismo, inclusive, bastante recente. Acontecimentos de apenas 20,25 anos atrás são vistos como elementos importantes da cidade. Exemplo? As fanfarras das escolas que abrilhantavam o Desfile de 7 de Setembro nas décadas de 70 e 80.
Por muito tempo, ficou um lacuna neste sentido, com a extinção das fanfarras da Escola Estadual Dr. Geraldo Parreiras, da Escola Estadual Louis Prisco de Braga e Escola Municipal Israel Pinheiro (Emip), entre outras. Muita gente sentiu o fim dessa atividade cultural e lamentava o vazio que ficava na avenida, quando as referidas escolas passavam. Saudosos dessa lacuna, professores empenharam-se para reerguer as fanfarras e, salvo engano, esse ano a Geraldo Parreiras deve desfilar na avenida com a sua.
Outro exemplo de que a memória é um aspecto importante da cultura local é a luta pela manutenção e ressurreição do Floresta Clube Henry Meyers (antigo Clube de Caça e Pesca). O referido clube quase foi extinto, coberto de dívidas e com sérios problemas estruturais, entre outros. Mas, em nome da lembrança do que ele foi um dia e pela representação que ele ocupa na memória do povo monlevadense, meio que através de um milagre, a chama da esperança de manter o Floresta Clube de pé nunca se apagou. Bingos, campanhas promocionais, atividades para recuperar associados, reformas nas casas da lagoa, feijoadas às quintas-feiras, entre outras ações trouxeram alento ao Clube que ainda resiste. No entanto, o que nunca o deixou cair, efetivamente, foi a saudade do passado ali vivido. E, em função disso, a vontade de não deixar que o espaço se acabe.
A memória do monlevadense é uma poderosa força e deve ser preservada, respeitada e trabalhada nas escolas. É preciso reconhecer que, sem ela, a cidade seria muito diferente do que é hoje. Não cabe julgar se estaria melhor ou pior. Mas, sem esse importante elemento cultural, certamente, João Monlevade não seria a mesma.

Memória VII – Circuito Histórico


O Circuito Histórico, elaborado e mantido pela ArcellorMital Monlevade é uma das principais referências à passagem de Jean Antoine Felix Dissandes de Monlevade nestas terras. E, é também, uma homenagem feita pela empresa ao empenho e empreendedorismo do pioneiro francês que chegou ao Brasil em 1817.
Compõem o roteiro: o Solar Monlevade, o Museu do Ferro e Aço, o Cemitério dos escravos e o Hotel Cassino. Cada um desses locais possui uma importância histórica e significativa para a memória monlevadense. O Solar dispensa apresentações. É a primeira construção do município, que serviu de moradia para Jean Félix Dissandes de Monlevade e sua família. O museu, que fica ao lado do Solar, abriga a replica da Forja Catalã, usada pelo francês para fundição do ferro, demais ferramentas e utensílios utilizados na fábrica que é o berço do progresso da região.
O Cemitério dos escravos que também abriga os restos mortais de Monlevade, de sua esposa Clara Coutinho, do engenheiro Louis Ensch, entre outros, é uma das principais características da visão progressista de Jean de Monlevade: numa época em que escravos eram atirados em valas rasas, ele constrói um cemitério para os seus. Inclusive, sendo enterrado junto deles. Por fim, o Hotel Cassino, que abrigou hóspedes e engenheiros ilustres que vieram trabalhar na implantação da Usina e hoje foi transformado em Centro de Cultura e Memória da Arcellor.
Fora o Hotel, construído nos anos 30, os outros elementos fazem uma referência ao passado centenário da cidade. Talvez sejam as únicas marcas para legitimar que essas terras possuem quase duzentos anos e são um marco na história da siderurgia nacional. Cada um deles tem uma trajetória importante e, portanto, são patrimônios municipais que devem ser respeitados como tal.
Em 2005, durante as comemorações dos 70 anos da Usina de Monlevade, a Arcellor, através de seu gerente geral da época, Gerson Menezes, decidiu investir nesse olhar memorialístico, como num mergulho de volta ás origens para chegar ao progresso. Isso porque a memória ilumina novos caminhos e, de fato, contribui para se entender o passado, para aceitar o presente e receber o futuro. Com a duplicação da capacidade de produção que se inicia, faz-se ainda mais necessário analisar essas referências no contexto do desenvolvimento: somos ou não somos uma cidade que foi projetada para o desenvolvimento? Reflitamos.

Memória VI – Projeto Memória


O Projeto Memória, realizado durante alguns anos em Monlevade, sob gerência da Agência do Desenvolvimento de João Monlevade (Ademon) e financiado pela ArcelorMitall foi um passo importante para a preservação da memória do município. A proposta do projeto é arquivar fotos antigas, jornais e demais publicações do passado, além de produzir e também preservar vídeos com depoimentos de pessoas da comunidade que têm alguma história para contar sobre a cidade antiga. No entanto, não tenho noticias de sua continuidade.
O acervo constituído até então, salvo engano, está guardado nas dependências do Centro de Cultura e Memória da ArcellorMittal. Pelo que sei, o projeto memória reuniu muitas entrevistas e centenas de fotos. Essa proposta é uma das mais importantes para o registro do passado de Monlevade e que deveria estar disponível ao publico, como num Museu da Imagem e do Som.
Conhecer as experiências pessoais de perto é uma das formas mais interessantes de se resgatar e preservar a memória. Os relatos são, em si, uma forma de contribuição para o futuro, acerca do que foi o passado. E, Monlevade, tem isso de sobra. A força das autobiografias promove a projeção das memórias pessoais para o estabelecimento de uma memória coletiva. Isso, porque a narrativa pessoal de uma pessoa (por exemplo) projeta novas experiências, por meio da troca de informações memorialisticas
Como bem ressaltou o pensador francês Maurice Halbwachs, toda memória individual é também uma memória coletiva. Neste sentido, a recuperação de relatos de moradores antigos de Monlevade contribui para a formação de uma grande memória da cidade, unindo relatos e possibilitando assim, a criação de documentos históricos e de referências para a concepção de um projeto identitário para o município.
Nossa história recente está relacionada a esse passado que ainda não passou. É importante entender que João Monlevade tem um saudosismo presente e que este ainda é referencia para muitos de seus cidadãos. Ajudar a preservar esse material rico em historia, em personagens que ajudaram a construir essa cidade é um dever de todos. Seria muito penoso também deixar isso se perder.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Memória VI – Projeto Memória

O Projeto Memória, realizado durante alguns anos em Monlevade, sob gerência da Agência do Desenvolvimento de João Monlevade (Ademon) e financiado pela ArcelorMitall foi um passo importante para a preservação da memória do município. A proposta do projeto é arquivar fotos antigas, jornais e demais publicações do passado, além de produzir e também preservar vídeos com depoimentos de pessoas da comunidade que têm alguma história para contar sobre a cidade antiga. No entanto, não tenho noticias de sua continuidade.
O acervo constituído até então, salvo engano, está guardado nas dependências do Centro de Cultura e Memória da ArcellorMittal. Pelo que sei, o projeto memória reuniu muitas entrevistas e centenas de fotos. Essa proposta é uma das mais importantes para o registro do passado de Monlevade e que deveria estar disponível ao publico, como num Museu da Imagem e do Som.
Conhecer as experiências pessoais de perto é uma das formas mais interessantes de se resgatar e preservar a memória. Os relatos são, em si, uma forma de contribuição para o futuro, acerca do que foi o passado. E, Monlevade, tem isso de sobra. A força das autobiografias promove a projeção das memórias pessoais para o estabelecimento de uma memória coletiva. Isso, porque a narrativa pessoal de uma pessoa (por exemplo) projeta novas experiências, por meio da troca de informações memorialisticas
Como bem ressaltou o pensador francês Maurice Halbwachs, toda memória individual é também uma memória coletiva. Neste sentido, a recuperação de relatos de moradores antigos de Monlevade contribui para a formação de uma grande memória da cidade, unindo relatos e possibilitando assim, a criação de documentos históricos e de referências para a concepção de um projeto identitário para o município.
Nossa história recente está relacionada a esse passado que ainda não passou. É importante entender que João Monlevade tem um saudosismo presente e que este ainda é referencia para muitos de seus cidadãos. Ajudar a preservar esse material rico em historia, em personagens que ajudaram a construir essa cidade é um dever de todos. Seria muito penoso também deixar isso se perder.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Memória V - Para preservar os arquivos

É preciso um conjunto de experiências, vivências e histórias para que a memória seja constituída. Não há memorialismo sem saudade. E só se sente saudade daquilo que um dia deixou marcas, daquilo que seja motivo de recordações. Como bem disse o escritor Rubem Alves, uma vez “perdido o rosto, só ficou o perfume... Foi-se o objeto, mas o seu vazio ficou. Pois, o vazio nunca é vazio, pura e simplesmente, é sempre vazio de algo. Isso, que tem o nome de saudade". Dessa forma, a rememoração está ligada ao preenchimento de lacunas.
O jovem monlevadense não viveu na Cidade Alta. Não preciso repetir. Além das fotografias antigas, das histórias contadas por pais e avós, nunca existiu vida além do muro do morro do Geo para os mais jovens. Eles não conheceram a cidade que acabou e, por isso, não podem sentir falta dela.
Assim, como não têm a vivência, como não andaram na rua Tamoios e nem na rua Tabajara; como não frequentaram os bailes do Grêmio, nem do União Operária; como não paqueraram na Praça do Mercado, muito menos estudaram no Colégio Estadual, nem escutaram o flautista do morro; nem fizeram compra no Geo; para quem desconhece que o Cassino foi um hotel que recebeu figuras importantes e, para quem Cônego Higino é só nome de um colégio no Aclimação, para esses, essa cidade antiga não faz o menor sentido.
Isso significa que ela vai, um dia, também acabar. Quando os guardiões dessa memória não estiverem mais aqui para compartilhá-la, quando não houver mais registros dessa época passada, a juventude de hoje não vai manter viva essa cidade. E isso é serio: em trinta anos, no máximo, ninguém mais vai falar ou acreditar que já existiu uma Monlevade nos arredores da Usina. Esse será mesmo o fim do passado.
Por isso, vejo a necessidade de Monlevade dar mais atenção ao seu memorialismo. É necessário um grande projeto, não de resgate, mas de preservação da memória e da cultura local, se um dia quiserem ainda ouvir falar da Cidade Alta, suas ruas, sua praça e suas histórias. É necessário entender que a cidade tem um laço, de aço mesmo, com o seu passado. E, a cada dia, essa memória vai ficando cada vez mais distante, perdida entre palavras, nos causos que não são mais contados, nos ecos do passado. É preciso registrar, catalogar, filmar, gravar. Aproveitar os vivos, antes que sua memória também morra, antes que ela vá, aos poucos, indo embora pelo ralo do esquecimento.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Memória IV – Identidade e cultura


Somos parte do que já foi. O passado é mais poderoso do que o presente, pois ele não apenas nos formou como nada nele pode ser alterado ou destruído. O que chamamos de presente é apenas subúrbio do passado. Com essas afirmações, o escritor irlandês Oliver St.John Gogarty, em seu romance Não é de forma alguma época deste ano, publicado em 1954, faz um relato autobiográfico de sua trajetória pessoal e também do seu país, recontando fatos ocorridos no passado, buscando preencher e entender as lacunas do presente.
Com o fim da cidade alta e o fechamento do Morro do Geo, o monlevadense mergulha nas suas histórias passadas para encontrar de novo a sua identidade perdida, a sua pólis adorada que ficou para trás. Assim, a cidade hoje vive uma crise de identidade. O que caracteriza João Monlevade? O aço, a Usina, tudo bem, todos sabem... Mas o que o monlevadense tem de mais identitário, aquilo que o distingue perante os outros? Mais uma vez afirmo: Para os que nasceram entre os anos 50 e 60, sem dúvida, vai ser a saudade da cidade alta ou a crítica pelo seu fim... Agora, os mais novos, não têm nem mesmo essa referência, muito menos outras...
Identidade, cultura e memória são elementos articulados e que caminham lado a lado. Nesse sentido, o monlevadense tem como marcas de identidade, a sua relação com o que não existe mais na cidade, porque isso faz parte da cultura do município. Lembrar das ruas, do lactário, dos boieiros, do Bar Para Todos, do Grupo de Tábua, do Colégio Estadual, da Rádio Cultura (com música ao vivo), dos bailes e eventos do Grêmio e dos demais clubes, tornou-se um hábito, uma forma de contemplar aquilo que não pode ser mais destruído (embora já tenha acabado).
Mas o pior que poderia ter acontecido com os viventes desta época, sem duvida, foi o muro na entrada do morro do Geo. O fato de não existir mais sequer qualquer oportunidade de contato com o que existia antes, machuca ainda mais. O muro lacra,enterra. É como uma lápide de concreto sobre a cova. Encerrou o passado para sempre. Assim, a recordação é uma arma contra a nostalgia do tempo, para reavivar as marcas do que se foi. A juventude, no entanto, está sozinha e carente dessa identificação com a sua cidade do agora. Tanto que, quem tem menos de vinte e cinco anos, não se lembra (ou se recorda muito pouco) do que era Monlevade antiga.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Memória III - Os Escritores


Orientados pela batuta do ativista cultural, professor Nilton de Souza, o popular Tim Mirim, muitos jovens escritores foram precursores da chamada Literatura Monlevadense. Eles iniciaram um movimento de valorização da produção literária local nas décadas de 70 e 80. Além de produzirem literatura, esse grupo realizava montagens tetrais e se propunha a fomentar a cultura na cidade.
No entanto, um trio formado por Joel da Páscoa, Geraldo Magela e Wir Caetano se propôs a romper com os limites de Monlevade e criou a Revista Rebu, uma espécie de revista panfleto, que tinha laços com a emergente literatura marginal, que tomava conta do cenário brasileiro. Não entendam mal. Marginal aqui tem sentido literal de estar à margem, ou seja, os escritores que não tinham editoras, criavam meios alternativos para publicação de seus trabalhos. Essa geração também ficou conhecida como geração mimeógrafo, a mesma que escrevia e editava seus textos.
A Rebu comemora 30 anos de lançamento em 2010, embora não tenha mais circulação. Ela foi a primeira revista monlevadense a criar laços com escritores de outras cidades mineiras e ainda com outros estados brasileiros. Publicando textos de outros autores, a revista tinha, já naquela época, o espírito que move as redes sociais que hoje fazem sucesso na internet: a elaboração de uma conexão direta com o cenário literário nacional.
Os outros escritores da cidade, por sua vez, reunidos no Grupo de Estudos Literários – Geo também se organizaram para publicar seus livros. Assim, Marcelo Melo, Jaqueline Silvério, João Carlos de Oliveira Guimarães, Tavim Viggiano, Will Jhony, Gehart Michalick, entre outros publicaram seus primeiros trabalhos, com grande repercussão na cidade. Tempos idos...
Tanto a Rebu, quanto o grupo do Geo contribuíram para a efervescência literária e cultural do município. Também, influenciado por essas pessoas, criei junto a um amigo, Marcio Reis, a revista Domínio Publico, em 2000, com o objetivo de divulgar textos e escritos diversos de autores monlevadenses. Inclusive os nossos! A publicação morreu na quarta edição, seguindo uma tendência nacional, de que a maioria das publicações alternativas não sobrevive até o quinto numero. C´est la vie!

terça-feira, 8 de junho de 2010

Memória II



A memória é o essencial, como já disse Jorge Luís Borges. E o monlevadense tem isso como um bandeira. A lembrança dos prédios da cidade alta, da praça, do comercio e de toda aquela vida que havia no entorno da usina, ainda está viva e corre nas veias da cidade, apesar de terem se passado muitos anos.
O memorialismo é tão pulsante, que já ouvi muita gente falando “a minha Monlevade não existe mais”. E isso me incomoda um pouco porque o saudosismo em excesso pode ser prejudicial. Lembrar o passado com tanta avidez é, sim, uma forma de não pensar o futuro. A impressão é a de que o monlevadense ama tanto aquela cidade perdida, que não consegue amar a atual, não consegue fazer o presente progredir. Fica preso ao passado, sem querer buscar o futuro.
Mas entendo. Depois que a cidade alta acabou, criou-se uma lacuna. Um espaço vazio que jamais será preenchido ficou aberto e a memória vem para consolar o fim daquele período. No entanto, é preciso refletir: se aquele bairro não tivesse acabado, estaria de pé até hoje? Será que as faculdades, as rádios, os centros de discussão e fomento ainda seriam na Praça do Mercado? O hipermercado seria construído ali, próximo ao Armazém do Geo? Seria mesmo possível?
Não, certamente, não seria. Mas como os monlevadenses (os que nasceram entre as décadas de 40 e 60) perderam o espaço de sua infância, perderam as referencias de onde estudaram, de onde namoraram de onde trabalharam, surgem as memórias como um amparo de (re) construção de todas essas vidas.
Se a cidade alta continuasse viva, é bem provável que ela estivesse esvaziada, carente de atenção e de investimentos, como hoje está todo o centro industrial. O desenvolvimento não respeita a memória quando faltam políticas de preservação e uma população consciente de seu papel no cuidado com o seu patrimônio.
O que a memória amou fica para sempre. E, por isso, o passado permanece vivo por meio de tantas saudades e lembranças. O fim da cidade alta é uma ferida na alma monlevadense que nunca vai ser fechada. E ela é tão forte, quanto a imagem de um aleijado sentindo dores no braço que já perdeu.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Artigos

Com o texto que se segue, inicio no jonal A Noticia, uma série de artigos que pretendo elaborar sobre o memorialismo do monlevadense. A relação da cidade com o seu passado recente é muito forte e interessante. Espero, depois, reuni-los num livro, quem sabe? Toda sexta, na coluna ComTexto do jornal. Não perca!

Memórias I


Começo a esboçar aqui, uma série de artigos sobre a memória em João Monlevade. São hipóteses, apenas isso. Mas acho interessante destacar a relação do monlevadense com o memorialismo. É algo muito forte e presente no cotidiano da cidade.
Há jornais como o Morro do Geo, do amigo Marcelo Melo que se propõe a resgatar a memória e a história da cidade; há fotografias do passado transformadas em baner’s e expostas no hipermercado; há também muitos artigos de professores e historiadores publicados em revistas e jornais; há o amigo Francisco de Paula (Barcelona) que coleciona fotografias e publicações diversas da cidade, há o também gente boa escritor Francisco Bernardino (Franber, do Real) que conta causos do passado da Usina, há as ações de resgate do Floresta Clube (em nome da memória do que o clube já foi um dia), há o centro de Cultura e Memória da ArcelorMittal, que preserva registros diversos da Usina de Monlevade, além do Circuito Histórico (composto pelo Cemitério, pelo Solar, pelo Centro de Cultura e Memória e pelo Museu do Ferro e Aço), há o acervo do Projeto Resgate da Memória, fomentado pela Acimon e, sobretudo, estão vivas nas pessoas, as histórias do passado recente da cidade.
E é isso que chama a minha atenção: Por que uma cidade de apenas 46 anos de fundação tem um memorialismo tão pulsante na artéria? Claro que não se pode descartar a chegada do francês Jean Antoine Felix Dissandes de Monlevade, há quase duzentos anos. Escrevi um romance histórico sobre a vida de Jean no Brasil, de sua chegada ao Rio de Janeiro em 1817 e sua morte, em 1872, mas não encontrei registros de sua chegada a essas terras. Acredito que tenha sido entre os anos de 1820 e 1822. Em 1827, além do casamento com Clara Sofia de Souza Coutinho, ele aumenta a produção da sua forja catalã com maquinário vindo da Inglaterra. Mas isso é assunto para outros artigos dessa série.
Bem, como o espaço finda, afirmo, seguramente, que o memorialismo do monlevadense é latente por causa da extinção do bairro Cidade Alta, de seus monumentos, suas praças e seus mercados. O fim daquela vida, a extinção de casas onde a maioria das pessoas com mais de 40 anos desta cidade passou a infância, é o gatilho para essa onda do resgate da memória municipal. Em outros artigos, sigo falando desta hipótese. Até.

Twitter

No twitter, usando da velocidade pós-moderna e a praticidade dos 140 caracteres, também arrisco uns palpites por meio do @eriveltonbraz. Quem quiser seguir, siga!

Do Pessoa

Quanto a mim, o amor passou! Eu só lhe peço que não faça como gente vulgar e me volte a cara quando passe por si, nem tenha de mim uma recordação em que entre o rancor. Fiquemos um perante o outro, como dois conehcidos que se amaram muito quando meninos, embora na vida adulta sigam outras afeições, conservam no escaninho da alma, a memoria do seua amor antigo e inúltil.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Pergunta que nao cala


Por que Itabira não faz, anualmente, um seminário literário sobre Carlos Drummond de Andrade, filho ilustre e um dos maiores poetas de Língua Portuguesa? O evento reuniria estudantes, palestrantes, professores, entre outros, que pudessem trabalhar aspectos sobre sua obra. Itabira só ganharia com isso.

O que Monlevade espera de nós?


O que podemos fazer por Monlevade? O que podemos fazer para que a cidade se desenvolva, cresça e prospere? O que fazer para melhorar o trânsito, para fomentar o transporte publico, para resolver o problema do estacionamento no centro da cidade? O que fazer para que Monlevade cresça e apareça?
O que podemos fazer para melhorar a saúde publica? O que fazer para evitar as enchentes na época de chuvas pesadas? O que fazer para evitar desastres maiores do que os que já ocorreram? O que fazer para as pessoas começarem a separar o lixo? E para evitarem o desperdício de água?
O que fazer para atrair mais investidores para o município? O que fazer para melhorar a estrutura da cidade? O que fazer para gerar mais emprego e renda? O que fazer para que o comercio se mantenha firme, competitivo e com ofertas sempre interessantes para o município e consumidores em geral?
O que fazer para que a Cultura se torne um ponto forte? Como fomentar os artistas locais, fortalecendo as atividades e criando oportunidades para o desenvolvimento do setor? Literatura? Teatro? Artes plásticas? E os costumes locais, como podem ser preservados e valorizados? Onde construir um parque de exposições decente, para festas como cavalgadas e aniversário da cidade, como os que já existem em Itabira, em São Domingos do Prata ou São Gonçalo do Rio Abaixo?
O que fazer para valorizar os profissionais da cidade? O que fazer para criar opções de lazer e de entretenimento? O que fazer para que haja mais investimento na formação de jovens? E para a capacitação dos profissionais que estão no mercado há anos mas que não tem tempo de se atualizar? Como oferecer mais saúde?
O que se pode fazer para que a cidade entre na rota do crescimento? O que fazer para que Monlevade se torne referência em algum setor? Como transformar as carências em projetos importantes? Como atrair recursos e verbas para o desenvolvimento? Como promover a integração com outras cidades, trocando experiências, produtos e estreitando os laços?
O que fazer para que as BR381 seja duplicada o quanto antes? O que fazer para que haja mais vontade política de todos os nosso representantes? Como acelerar o progresso? Monlevade está pronta para a duplicação da usina? Ela quer isso mesmo? A comunidade está inteirada para saber exatamente do que se trata? O que Monlevade espera de nós?
Quem souber as respostas que as apresente. Alguém se habilita?

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Poema

Nao sei sentir mais o que que queria ouvir

Agora, há silêncios e passados sobre mim

De tudo, nada restou além do amor

que é também uma espécie de todas as coisas

terça-feira, 20 de abril de 2010

Como se fosse a última vez

Ele não pensava que poderia amá-la do jeito que a amou um dia, novamente. Passados anos de casados, naquela tarde de sexta-feira, fora acometido de uma repentina paixão pela esposa. Estava no escritório diante de burocráticas e chatíssimas pendências, quando veio à sua mente, a lembrança dela. A imagem da mulher saindo do banho, enrolada na toalha cotidiana a caminho da penteadeira, onde se sentaria para o ritual de passar cremes e mais cremes diante do espelho deixou-o deslumbrado.
Por um instante, parou com a caneta na boca e ficou sorrindo sozinho olhando para a janela à sua frente e enxergando a cena diária da esposa saindo do banho. Não tinha nada de diferente nessa imagem. O que o deixou perplexo e com o coração acelerado pensando nela, foi ter se dado conta de que já havia passado 20 anos ao lado dela e ele nunca percebera no quão intensa era a beleza feminina da esposa ao sair do banho, enrolada numa toalha.
Seus olhos brilhavam e ele sentia as mãos suadas, ao distinguir um a um os cheiros do seu cabelo, da sua pele ainda úmida do banho misturando à textura macia dos cremes. Suas mãos deslizando pelas pernas, alisando a panturrilha e a coxa enquanto camada após camada do macio perfumado hidratante tornava ainda mais viçoso o seu corpo. Em seguida, a mulher secava os cabelos, num gesto contínuo e quase sensual, da maneira que só as mulheres sabem.
Eram quinze para as quatro da tarde e ele ali no escritório a lembrar-se dela. Naquele momento, esqueceu-se dos prazos vencendo e decidiu ir para casa para amá-la e ser feliz. Era preciso fazer isso: abraçá-la e beijá-la como se fosse a última vez. E assim fez. Deixou o escritório sob a luz forte da tarde e caminhou para o carro. Sim. Ia para casa encontrá-la. Pensou em avisá-la, mas preferiu fazer uma surpresa.
Assim que ligou o veículo, colocou para tocar uma canção da qual gostava. Fernanda Porto, numa versão moderna trazia à tona um antigo sucesso de Tom e Vinícius imortalizado por Elis. “Você que é feita de azul, me deixa morar nesse azul, me deixa encontrar minha paz, você que é bonita de mais”, cantava junto, o s versos de “Só tinha de ser com você”. Parou o carro em um sinal de trânsito. Do outro lado da rua, ia uma mulher caminhando com seu cachorro a caminho do parque. Ele achou a imagem bonita. Olhou mais a frente e um casal adolescente tomava sorvete de mãos dadas. Do outro lado, uma menina passava correndo. Ele gostava das cenas que via. Na verdade, estava apaixonado e achava tudo bonito, tudo fantástico, tudo com o ar de sobrenaturalidade. Decidiu parar para comprar um presente para ela. Mais prático, foi a uma floricultura e comprou um buquê enorme de rosas vermelhas. Voltou ao carro e foi a mil para casa.
Ao chegar em casa estacionou o carro e entrou depressa. Antes que a esposa questionasse o por quê dele estar ali àquela hora, beijou-lhe a boca com a vontade dos que se amam e que não se vêem há muito tempo. Surpresa, a mulher não entendeu, mas gostou do carinho ousado naquela autura da vida. Ele não disse nada. Apenas sorriu. Ela sorriu de volta. Então ele disse a ela que em vinte anos, ela nunca estivera tão bonita. Ela sorriu do galanteio. A partir deste momento, não se desgrudaram mais. E os dois, após tanto tempo de casado, se abraçaram e se beijaram e se amaram intenso a tarde toda como dois jovens amantes. A velha chama se reacendera nos seus corações cinqüentenários. E surgira a partir de um instante, a partir de um segundo que trouxe à tona toda a vivacidade de um tempo que passara. E voltaram a namorar, com uma necessidade tamanha um do outro, como se fosse a última vez que o fizessem

segunda-feira, 22 de março de 2010

Continho


Um escritor que morava sozinho na cobertura de um flat, pensou, seriamente, o que aconteceria se ele se atirasse lá do alto e caísse no meio da avenida. Em princípio, achou que seria doloroso. Depois, passou a imaginar que, na verdade, não iria doer nada.

Em que pensaria quando estivesse na queda? Daria para dançar um balé aéreo, antes de se diminuir no solo, achatando-se como massa de pastel na parede? Será que alguém teria dó dele? Ficou assim, por cinco segundos, sentindo a vertigem típica dos que têm medo de altura, mas que têm vontade de chegar da sacada de janelas para ver os carros passando lá em baixo.

Teve a certeza de que iria cair, quando decidiu pisar o ar e sentir a maciez do espaço vazio. Escorregou e ficou com metade do corpo pendurado e a outra, para dentro da sala carpetada do flat. O coração à boca batia forte e as mãos que tentavam segurar a beirada da janela amiga começaram a suar. A tontura aumentou. “Meu Deus, não quero morrer assim”, foi o que pensou naquele momento. Então, com um impulso sobre humano, caiu na sala feito um peixe que vai do aquário ao tapete. Levantou, arrumou o cabelo. Ainda trêmulo, pegou uma dose de uísque.
Bebeu depressa, respirou e decidiu ir escrever uma crônica.

Eu quero é botar meu bloco na rua

Texto publicado na Revista A Chance, dos amigos Matheus e Afonso!

Todos os anos, na época do carnaval, em Monlevade, é a mesma coisa. Muita gente viaja, outras pessoas seguem para as cidades vizinhas, uma parcela fica aqui mesmo, por conta do à toa... E fica no ar uma pergunta que nunca é calada: Por que não há carnaval na terra do francês?
Não sou eu quem vai tentar resolver essa questão. Mas vou dar alguns pitacos. Afinal, acredito que todos podem ganhar com a festa mais popular do Brasil. Inclusive Monlevade. Por que não? Além disso, penso que uma das formas mais interessantes, divertidas e funcionais para fomentar o carnaval é a criação de blocos.

O formato é simples e envolve a participação popular. Cada bairro poderia montar o seu e organizar um ponto de encontro onde o bloco pudesse se concentrar antes do desfile, que poderia ser até um outro ponto estratégico do bairro. Tudo, claro, com a maior segurança, seguindo o lema da diversão sempre responsável.

Em algumas cidades, como São João Del Rei, por exemplo, o carnaval é assim há mais de trinta anos e funciona muito bem. Um dos grupos mais conhecidos no carnaval de Minas, a Batucada, de Diamantina, também é uma variação de um bloco carnavalesco.

Os blocos fazem barulho, animam e garantem a folia. Não há bandas tocando em palcos, não há também tumulto. Cada dia, um ou mais bairros apresentam o seu bloco, cada qual com a sua bateria, suas fantasias e sua animação. Desta forma, todos participam da festa: turistas vindos de longe, moradores, visitantes de cidades vizinhas. Cada bloco tem o seu enredo e a bateria comanda a diversão tocando sambas, marchinhas e sucessos radiofônicos. Não tem erro: é sempre um sucesso.

Esse modelo de festa popular funciona por vários motivos. Vou citar alguns: A prefeitura dá o suporte de infra-estrutura, como decoração, disponibilização de banheiros químicos e o controle do trânsito. Assim, os gastos com o Carnaval são mínimos. Outro ponto positivo, é que ninguém quer ver lixo na porta de sua casa ou briga. Por isso, a festa seria limpa e sem tumultos, já que os blocos iriam sair dos bairros. Ainda um terceiro fator, seria a participação dos donos de bares e restaurantes que poderiam fomentar os blocos, participando da concentração e ajudando na organização.

Fico imaginando um bloco do bairro Republica, concentrando num sábado de carnaval, a partir das 14h, em frente ao Boti Peixadas, por exemplo. Às 18, o bloco desceria a avenida Castelo Branco, com toda a sua animação. Os moradores chegariam às sacadas, brincando com serpentina e confetes. Uma bateria daria o ritmo, até a dispersão, na Praça Onofre Ambrósio.
Depois, cada qual seguiria para suas casas. Outros bairros fariam o mesmo, em outros dias de festa, com os bares famosos da cidade servindo de ponto de concentração: Yuris Bar, no Mangabeiras, o Pé-de Porco, no Santa Bárbara, o Sucupira, na área central, o Sabor da Vila, no Vila Tanque e assim por diante.

De toda forma, a idéia dos blocos seria uma opção de carnaval em Monlevade. Com o passar dos anos, a festa se tornaria tradição e a cidade só teria a ganhar. E então, quem compra a idéia?

segunda-feira, 8 de março de 2010

Geraes


Estou ouvindo Geraes, um disco excelente do Milton Nascimento de 1976. Há canções maravilhosas, verdadeiros clássicos da nossa música. Aliás, o disco tem muito de Minas Gerais. A começar pela capa, que traz um desenho singelo: um trem atravessando uma montanha. Tem algo mais mineiro que isso? Tem. A letra de Carro de Boi de Maurício Tapajós e Cacaso:


Que vontade eu tenho de sair

Num carro de boi ir por aí

Estrada de terra que

Só me leva, só me leva

Nunca mais me traz

Que vontade de não mais voltar

Quantas coisas eu vou conhecer

Pés no chão e os olhos vão

Procurar, onde foi

Que eu me perdi

Num carro de boi ir por aí

Ir numa viagem que só traz

Barro, pedra, pó e nunca mais


Além dessa pérola, tem os clássicos: , Calix Bento, O que será, Volver a los 17, entre outras. Vale a pena conferir.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

De volta

Depois de muito trmpo, estamos de volta. Estou parecendo aqueles pescadores que inventam mentiras em suas rodas de conversa. Na verdade, até me sinto assim, meio pescador de ilusões, que acredita nos sonhos que se tem antes de acordar....
Jim Morrison, o líder psicodélico do The Doors, afirmava que vivia no subconsciente, como um bom freudiano que era. Eu nao chego a tanto, mas acredito que sonhar não custa nada (ou quase nada) e, assim, sigo os dias, sempre em frente e sem ter medo a perder.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Sabedoria Popular - Trechos de Canções da MPB que são filosofia pura

I
Não pode alcançar os astros
Quem leva a vida de rastros
Quem é poeira do chão...
(Klecius Caldas & Armando Cavalcanti )

II
O ouro afunda no mar
madeira fica por cima
ostra nasce no lodo
gerando pérolas finas
(Ederaldo Gentil)
III
Eu tava junto com os macacos na caverna
Eu bebi vinho com as mulheres na taverna
E quando a pedra despencou da ribanceira
Eu também quebrei a perna
(Raul Seixas, Paulo Coelho)
IV
Toda forma de amor
É uma forma de morrer por nada
(Humberto Gessinger)
V
E é isso que é preciso
Coragem e humildade
Atitude certa
Na hora da verdade...
(Marcelo D2)

Drummond!

Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Humanos

Machado de Assis escrevia romances sobre a humanidade.
Carlos Drummond fazia poemas com doses profundas de humanidade.
Vinícius de Moraes amava todas as mulheres, como se amasse toda a humanidade.
Clarice Lispector era a própria humanidade.
E nós, pobres diabos? Onde está a nossa porção de humanidade?

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Literatura

No livro "50 Clássicos que Não Podem Faltar na Sua Biblioteca" (Verus Editora), a escritora, editora e crítica literária Jane Gleeson-White reuniu as maiores obras da literatura mundial, como "Ilíada" (Homero) e "O Idiota" (Fiódor Dostoiévski).
Este guia acessível mostra o contexto histórico que envolvia cada uma destas grandes publicações, com comentários sobre os enredos e personagens, dados biográficos e outras importantes informações.
Abaixo, veja o sumário completo do livro, que também inclui títulos brasileiros, como "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis, e "Grande Sertão: Veredas", de João Guimarães Rosa.
*
Sumário
1. "Ilíada", de Homero


2. "Odisseia", de Homero


3. "Eneida", de Virgílio


4. "Dom Quixote", de Miguel de Cervantes


5. "Robinson Crusoé", de Daniel Defoe


6. "Tom Jones", de Henry Fielding


7. "Persuasão", de Jane Austen


8. "O Vermelho e o Negro", de Stendhal


9. "O Pai Goriot", de Honoré de Balzac


10. "Jane Eyre", de Charlotte Brontë


11. "O Morro dos Ventos Uivantes", de Emily Brontë


12. "Moby Dick", de Herman Melville


13. "A Casa Soturna", de Charles Dickens


14. "Madame Bovary", de Gustave Flaubert


15. "O Fauno de Mármore", de Nathaniel Hawthorne


16. "Guerra e Paz", de Leon Tolstói


17. "O Idiota", de Fiódor Dostoiévski


18. "O Primo Basílio", de Eça de Queirós


19. "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis


20. "Pan", de Knut Hamsun


21. "Judas, o Obscuro", de Thomas Hardy


22. "Coração das Trevas", de Joseph Conrad


23. "As Asas da Pomba", de Henry James


24. "Howards End", de E. M. Forster


25. "Morte em Veneza", de Thomas Mann


26. "A Época da Inocência", de Edith Wharton


27. "Mulheres Apaixonadas", de D. H. Lawrence


28. "Ulisses", de James Joyce


29. "O Grande Gatsby", de F. Scott Fitzgerald


30. "O Processo", de Franz Kafka


31. "O Sol também Se Levanta", de Ernest Hemingway


32. "Narciso e Goldmund", de Hermann Hesse


33. "Enquanto Agonizo", de William Faulkner


34. "As Ondas", de Virginia Woolf


35. "O Estrangeiro", de Albert Camus


36. "O Apanhador no Campo de Centeio", de J. D. Salinger


37. "Lolita", de Vladimir Nabokov


38. "Grande Sertão: Veredas", de João Guimarães Rosa


39. "On the Road - Pé na Estrada", de Jack Kerouac


40. "O Gattopardo", de Giuseppe Tomasi di Lampedusa


41. "O Tambor", de Günter Grass


42. "Coelho Corre", de John Updike


43. "Cem Anos de Solidão", de Gabriel García Márquez


44. "A Hora da Estrela", de Clarice Lispector


45. "À Espera dos Bárbaros", de J. M. Coetzee


46. "Os Filhos da Meia-noite", de Salman Rushdie


47. "Meridiano de Sangue", de Cormac McCarthy


48. "Amada", de Toni Morrison


49. "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", de José Saramago


50. "Submundo", de Don DeLillo

( Informações retiradas do site: http://www1.folha.uol.com.br/folha/livrariadafolha/ult10082u686101.shtml)

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Sonhos

Era uma vez um sonho... E os sonhos nao envelhecem, como cantaram os poetas mineiros. Mas, se nao envelhecem, por que os sonhos acabam passando? Alguns insistem em dizer que eles ficam guardados nalgum lugar em que nao ousamos tocar. Os sonhos sonhos são. E, assim, eles permancem em seu estado mais puro, imaculados como são também os estados de graça.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Ao som de Blackbird


Esta crônica é dedicada a Frederico Miranda,monlevadense que vive em Belo Horizonte


Quando o jovem que tocava piano sentou-se na cadeira do avião que o levaria para Paris, ele fechou os olhos e ligou o MP3 player para ouvir Beatles. Ele sabia que tinha muito que pensar antes de desembarcar na capital francesa. O jovem iria estudar música em um conservatório da cidade luz e sentia, no peito, uma ponta de angústia abalar-lhe o coração.
Mas o que mais o perturbava, não era o que teria pela frente, nem os eventuais problemas com o idioma, com o novo lar ou com a falta de trabalho em um país estrangeiro. Nada disso o incomodava. O que mais o deixava triste e o fazia abandonar o Brasil por uns tempos, era tentar escapar de si, mais precisamente, do desejo de ter conhecido um tio, morto precocemente, antes de ele ter nascido.
Desde criança, sempre ouvira a mãe contar-lhe, com um fio de lágrima no canto do olho a triste história do irmão. O tio, que, aos 19 anos, viajou com os amigos e a família para a praia, a fim de comemorar o novo emprego. Ele iria para a Itália, trabalhar na sede da Fiat. Tudo estava perfeito, mas aconteceu o pior. Ao ver uma menina se afogando, ele não pensou duas vezes em salvá-la. Por ser um bom nadador, conseguiu tirá-la do fundo das águas, mas, já por estar exausto, não resistiu à correnteza e sumiu no mar. O corpo foi achado dois dias depois. Pelo pai, que não descansou até encontrá-lo.
O jovem pianista não sabia o motivo da fascinação pela história do irmão da mãe, que era, sem dúvida, seu herói familiar. No avião, que já taxiava na pista, ele ouvia os quatro de Liverpool entoarem clássicos. A mente ia longe e esbarrava na lembrança do tio. Imaginava-o salvando a menina e não tendo forças para voltar à superfície. O que será que passou na cabeça dele naquele instante, em que era sugado para o mar adentro? Será que ele pensou em algum amor que ficava para trás? Será que ficou com medo, enquanto lutava em vão contra as ondas fortes? Será que chorou em meio do azul e do sal?
Tudo isso girava na cabeça do jovem pianista, que agora ouvia Blackbird. Ele sabia que o tio também gostava desta música. A avó falara, em certo dia de almoço, ao ouvir o neto tocar a canção no piano, que com o primeiro salário, o tio comprara um disco de capa branca e não parava de ouvir aquela melodia lenta e triste. O jovem pianista sentia uma angústia profunda quando a ouvia. Lembrava-se daquele e sentia o desejo de tê-lo conhecido consumir-lhe o coração.
Ele agora viaja para outro país e tem, no peito, a mesma dor de vida que atingia o tio anos atrás. O pianista não sabe, mas o herói-familiar amava cantar, ainda que com um inglês incorreto, a melodia beatle que ouvia ele, agora, dentro do avião. A aeronave começou a ganhar os ares e para trás, Belo Horizonte ia ficando, menos aquela lembrança...
O jovem recorda a avó contando que, após a morte do filho, os discos dele ficaram guardados em uma caixa, no sótão da antiga casa. Ele nunca tivera coragem de ir lá. Sabia que poderia encontrar raridades, mas preferia não tocar nos vinis organizados por ele. Na verdade, agora que voava para longe, ele se questionava o porquê de não ter violado a caixa. Por que não ter escutado os discos?
O pianista nem desconfiava que tinha a mesma vontade de viver intensamente, sem ligar para amarras, como o tio tivera um dia. A vontade de não ter destino certo. Ambos pensavam que a vida é, de fato curta, para ser pequena e que precisa ser aproveitada antes do tempo final, ser ouvida antes do último acorde do baile.
Agora, entre as nuvens, Blackbird já tinha acabado, mas ele resolve repeti-la. Gosta da entonação da voz, gosta do violão inicial e sente-se em apuros com o refrão forte. Mas, ainda assim, para ele, a canção é uma forma de aconchego. Ele olha para as nuvens abaixo do avião e sonha de olhos abertos com os gestos do tio. Imagina que os dois estão em um piano bar, falando da vida que gostariam de ter vivido e das diferenças do tempo de cada um. Ao som de Blackbird, ele vê o céu de dentro e acha que, assim, está mais perto dos olhos e do coração daquele que não mais está aqui.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A moça

Que linda a moça andando na rua! Parece uma artista de cinema. Parece um sonho que caminha. Ela é ela. A moça que cobre os pensamentos de todos quando passa com a bolsa de lado. A moça é ela e só. Não precisa ser mais nada. É ela quem acende os lampiões do desejo. E todos param só para ver ela passar. Imaginam uma passarela de flores. E ela, nem sabe que é a deusa da rua, a dona do pedaço. A que põe fogo no circo de todos os corações palhaços.

Amanheceres


Amanhece quando a luz invade a escuridão e começa a colorir as horas para que o dia reine absoluto. É um momento de ternura e calma, aliado a um cheiro próprio de renovação. Esse perfume que vem no vento e que a gente recebe como um presente, dá forças para as horas que já se anunciam. O tempo é rápido durante o amanhe cer. Isso torna o espetáculo ainda mais saboroso e bonito de se ver. Por isso, ficamos com aquela expressão de quem não acredita quando ele já está indo embora.
Os amanheceres são lindos. Eles têm aquele som típico dos cantares dos galos, ao longe de nossa cama, que nos fazem acreditar que o mundo ainda está escuro. O amanhecer é qualquer coisa de grande impacto, como uma explosão de cores e de luz, chegando devagar e certamente. É quando não há motivos para as tristezas e onde as alegrias reinam absolutas, feito um reino de crianças.
Eu fico pensando que não existe amanhecer mais bonito do mundo. Todos têm a mesma cor, o mesmo cheiro, os mesmos movimentos iniciais de uma rotina que se anuncia.Quando amanhece, dá uma sensação de reencontro com a pessoa amada. É o dia que nasce trazendo alegria e a certeza de, mais uma vez, tudo será diferente. Basta querer. O amanhecer traz isso tudo no ar.

Em janeiro eu vou ter

Cerveja, praia, planos, ipva, lista de material escolar, ressaca, sensação de recomeço, chuva, faturas caras no cartão, sol, calor, BBB, lista de livros a ler, dietas a começar, sonhos de mudança, dias iluminados, dias chuvosos, noites mal dormidas, pernilongos no quarto, visitas, trocas de presente que não serviram nas lojas, abraços de encontro, abraços de despedida, saudades do ano passado, vontade de ficar o resto da vida de férias, vontade de trabalhar dobrado para o tempo passar depressa, expectativas para o carnaval, beijos inusitados, sono mais leve, encontros com amigos, exames a fazer, planejamento de aulas, ruas molhadas, tempo úmido e quente, sonhos de verão, esperanças, sobretudo, esperanças.

Dezembrando



Fim de ano é assim mesmo. Todo mundo feliz e esperançoso com tempos melhores e de paz... Todo mundo sai às ruas, naquele pós-chuva de fim de tarde, olha as vitrines e aponta para as decorações mais interessantes. Nem sempre se quer comprar alguma coisa, é verdade, mas pinta aquela vontade de ter grana o suficiente para comprar tudo aquilo o que se vê.
Ah, o fim de ano! Suas cores carregadas de brilho, seus dias longos e noites sufocantes, despertam a magia de que algo bom está por vir no ar. Dá uma sensação de que um ciclo está se fechando e que algo novo e especial está despontando no horizonte. Fim de ano é sempre cheio de expectativas.
As cozinhas ficam mais entusiasmadas. Surgem à mesa, aqueles cadernos de receitas com a capa desbotada pelos pés dos anos e os cheiros de rabanadas, doces em calda de figo, de laranja, de cidra ou mamão saem pelas janelas e compõem uma sinfonia com os demais perfumes típicos dessa época: pernis e perus assando nos fornos, o churrasco no terreiro e os cheiros de limpeza que emana das casas.
Falando nisso, todas as casas no fim de ano mudam um pouco a sua personalidade. Ficam iluminadas de todas as formas e as lâmpadazinhas tomam conta da cidade, revelando os sonhos que se guardam dentro dos moradores. E isso é muito legal. Independente da casa, se solene, ou se despojada, se pequenina ou mansão, se no morro ou no bairro nobre, toda casa brilha no fim de ano.
Fim de ano não é um período, mas quase um estado de espírito. Aliás, essa é uma frase típica de se ouvir no fim de ano... As pessoas ficam mais espiritualizadas, fica todo mundo falando de prosperidade, luz, sorte e mandando energias positivas, repletas de sentimentalidades.
Ma o que fica disso tudo é a sensação constante de que o fim de ano é uma dádiva. Ele é a representação de que é preciso terminar para começar de novo, mostra que a vida continua, mas que é preciso querer mais, sem se esquecer do que se passou. Assim, e só assim, talvez continuaremos aprendendo. Sempre e sempre.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010


Andy Warhol é o cara! Considerado o pai da Arte Pop ele construiu uma nova forma de elaborar trabalhos artísticos, aproveitando-se das mudanças ocorridas no mundo após a Segunda Guerra Mundial. O tema central de Warhol foi o retrato, principalmente, de personalidades famosas do cinema e da política. Além disso, o gênio usou de produtos cotidianos para fazer uma arte que privilegiava a cultura de massa: Embalagens de Coca-Cola, de Cigarro, de Sopa em lata, tornaram-se matérias-primas para o seu trabalho que criou o conceito de Arte Pop. O Pop, não poupa ninguém!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Machado é o cara

Acho que vou reler Dom Casmurro...

Continho

Era madrugada ainda quando ela, limpando restos de sonhos dos olhos, virou-se na cama e acordou com a chuva que caía. Não havia ninguém ao lado dela naquela cama imensa, vazia há anos. Ele se fora... E ela, solitária como os trovões antes do amanhecer, continuava tentando dormir, mas não adiantava. Era madrugada ainda... ... A luz do dia sempre trazia consigo a imagem da imensidão daquela cama que parecia não caber no quarto. Talvez por isso fosse tão sufocante tentar dormir quando a madrugada era rompida pelas primeiros raios de sol. Ainda mais sozinha, o que tornava tudo mais edidentemente difícil.
Mesmo assim, era preciso despertar. As primeiras buzinas rasgavam a manhã que prometia ser quente, como são as de Janeiro. E foi com muita sensação de calor que ela se levantou. A camisola de cetim deixava suas curvas mais acentuadas. Através dela, o bico do seio esquerdo meio entumescido. Era uma mulher madura e bonita. Essa era a melhor definição para Bárbara. Esse era seu nome, misto de doçura e violência.
Era gerente de Banco, mas queria ter sido cantora. Sua mãe era fã dos Doces Bárbaros e ela cresceu embalada por graves e agudos de Bethânia e Gal. Mas o destino a levou a um curso de administração de empresas e, este, a um concurso da Caixa Econômica Federal. Bela, porém, triste. Triste, porque era só. Bem sucedida, atraente, viajada e descolada, mas sozinha. Não amava ninguém, apesar de pretendentes não faltarem. Só que ela buscava algo mais nos homens do noites ardentes tão esvaziadas de segredos. Queria sentir-se aquecida, como se coubesse dentro dos sonhos de alguém.
Naquela manhã em que ela despertou cansada de solidão, achou que poderia ser feliz. Arrumou-se, perfumou-se e saiu, como quem sai para a vida. Em vez de seguir para o Banco e para a burocracia de mais um dia de trabalho, tomou o caminho do mar e decidiu que seria feliz. Pelo menos naquele dia.

A Rainha


Maria Bethânia é minha rainha. É minha Dalva de Oliveira, é minha Janis Joplin. Adoro ouvir sua voz aveludada, sua textura carregada de sensualidade, como são as curvas de uma mulher a que se ama. Aprendi a amar Bethânia desde novo. Talvez, aos sete ou oito anos, quando ouvi no rádio do meu vizinho sapateiro "Nadico", Brincar de Viver. A voz da baiana está gravada em minha alma e sempre que fecho os olhos, escuto-a entoando cantigas infinitas.

Ela que começou cantando aos 17 anos, substituindo Nara Leão no palco do teatro Opinião, ela, que era a pequenina protegida pelo irmão Caetano e pelo poeta Vinícius de Moraes, ela que recita poemas como ninguém, ela que fala versos de Fernando Pessoa com a maestria de quem respira debaixo da água, ela que é simbolo do tropicalismo, ela que embala amantes em moteis de luxo ou de quinta categoria, ela que é divina! Salve Bethânia!

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Dream Time


Nos idos de 2000, quando ainda cursava o Ensino Médio na Escola Estadual Geraldo Parreiras, participei de um grande time de basquete. Fomos vice-campeões nos Jogos Estudantis promovido pela Prefeitura naquele ano, perdendo apenas a final. Velhos tempos em que ouvíamos muito Legião Urbana e acreditávamos ser ainda tão jovens...

Em pé: Charles (professor), Vinícius, Mantena, Theo, Maycon Pachola, Erivelton, Fred Godói, Quintino (professor). Agachados: Urso, Giancarlo, Samuel e Betim.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

De volta

Voltei a postar! Espero ser regular!
Eu sei, a rima foi horrível! Mas está valendo!

Poema

Brilham meus olhos
À procura de teus olhos
Poço de águas claras
Para o meu conforto.
Ah, seu pudesse, (feito um louvor)
Dar-te-ia um beijo de hortelã
Como o primeiro de cada grande amor
Toda vez que te acordasses de manhã.

De volta a Ilhéus

Voltei este ano a Ilhéus - BA! Foi demaism o reencontro com a cidade de Jorge Amado, de Gabriela, da costa do Cacau. Ilhéus é uma daquelas cidades que a gente tem vontade de guardar no coração. Mas o que mais me encanta é perceber nos ilheenses a vontade de atender bem aos turistas. Dos vendedores ambulantes nas praias, passando por garçons, atendentes de lojas, recepcionistas e até dos flanelinhas (sim, lá também tem gente querendo vigiar o carro em troca de moedas) todos procuram oferecer um atendimento diferenciado, repleto de simpatia, sem falar no sorriso sempre espontâneo. Ilhéus é demais!